Grupo quer reparação histórica e Dona Procópia como a próxima rainha da festa de Nossa Senhora do Rosário

Um grupo de pessoas de Monte Alegre de Goiás (GO), nordeste do estado, região da Chapada dos Veadeiros, quer fazer justiça dentro da tradicional Festa do Rosário.

A congada de Monte Alegre em louvor a Nossa Senhora do Rosário faz parte da Festa do Reinado, realizada  todo dia 23 de julho, todos os anos.

Registros apontam que os festejos começaram há cerca de 270 anos, mas não se sabe como foram criados.

Mas há um forte sincretismo religioso entre a fé cristã e as culturas afro, em virtude da forte presença de negros escravizados fugitivos e que fincaram na região um dos maiores quilombos do Brasil, o Kalunga.

Os festejos são organizados pelos festeiros, que sorteiam o rei e a rainha a cada ano. Além disso, cavalaria, congada, escravos, damas e carruagens também integram a festa. Na frente da igreja, todos compartilham farofas e refrigerantes.

A tradição se mistura também à Caçada da Rainha. E logo após a Festa do Reinado ocorre o Reinado da Cachaça, festa profana que segue o festejo religioso.

Agora, um grupo de Monte Alegre, ciente dos valores culturais dos negros, resolveu mudar a toada da escolha do rei e da rainha para o ano de 2024.

Querem que a próxima rainha seja dona Procópia. Ela já está com 90 anos e a vida toda participou da festa mantendo a tradição de seus antepassados e a riquíssima cultura afro. Não à toa ela é a principal rainha da sussia em toda a Chapada.

Dona Procópia, mulher analfabeta, recebeu o título honorífico da Universidade do Estado de Goiás porque literalmente significa “por causa de honra”, em razão de seus saberes e de sua luta pelo povo calunga.

“O Brasil inteiro reconhece a garra que ela tem, o título de Rainha a primeira mulher do Kalunga deve ser dado a ela. Por isso que cobramos, isso talvez não deveria ter nenhuma iniciativa popular”,  diz uma das organizadora da ação de reparação histórica.

A  escolha cabe, em boa dose, à paróquia de Monte Alegre, a quem este Blog vai iniciar uma campanha de pressão.

Segundo o grupo que deseja essa reparação história a Dona Prócopia e ao povo negro da Chapada,  as escolhas dos “festeiros”  já rendeu muitas interessantes histórias e até hilárias, por conta da projeção social dos títulos.

Um dos “causos” revelam como são efervescentes e divertidos os bastidores da festa com seus “segredos de estado”, especialmente a escolha dos festeiros.

“Chegou ao nosso conhecimento que no reinado do ano de 2005, o “sorteio” estava orquestrado por uma ex-rainha e outros nobres para a indicação de dois ilustres monte-alegrenses como os festeiros de 2006. 

O estratagema era colocar na “salva – bandeja” em prata usada para conduzir os nomes dos mordomos para o sorteio. Vários papéis apenas com os nomes dos dois filhos ilustres, para não haver erro quanto à indicação.  

No entanto, durante o cortejo a informação vazou e quase no “Ite missa est”, um acordo entre “eminências pardas” entenderam por bem impedir a indicação do rei pois este desejava realizar a festa com uma pessoa da família”, diz uma das militantes em favor de Dona Procópia.  

Ela conta ainda que no momento da proclamação dos festeiros do ano de 2006 foi indicado como rei outro ilustre monte-alegrense. Para isso foi preciso tirar de cena a devota ex-rainha que era guardiã da salva do “sorteio”.

“Ardilosamente a ex-rainha, guardiã da salva, foi convidada a distribuir as lembrançinha da festa, resistiu, mas acabou cedendo com a promessa de que os nomes dos festeiros só seriam proclamados após a entrega das lembranças e que a portadora da notícia seria ela. 

Enquanto estava ocupada no meio da multidão, o conteúdo da salva foi substituído e proclamado às pressas.  

O grupo da ex-rainha ficou desapontado com o resultado. Mas, superadas as vaidades, a devoção ao Rosário estava acima de quaisquer diferenças. Mesmo porque, resultado proclamado não tem mais jeito.

Foi o Sorteio!  E jamais um sorteio foi violado, até porque, quem escolhe é a Santa, não importa por que meios”.

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