“Candidatura de Barbosa tem grande potencial”

Por José Antonio Lima (@zeantoniolima),


A primeira pesquisa eleitoral para a presidência após a filiação de Joaquim Barbosa ao PSB, divulgada pelo Datafolha no início da semana, é uma vitória para o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). 


Sem fazer campanha, Barbosa chegou ao mesmo nível de intenção de voto de veteranos da política, como Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), e aparece com 9% ou 10% a depender do cenário. É um patamar que lhe permite iniciar a disputa em ótimas condições.

Por enquanto, Barbosa é uma espécie de Jair Bolsonaro civilizado. Enquanto o candidato do PSL defende arbitrariedades, Barbosa se notabilizou por “fazer justiça” dentro do sistema, e foi o principal responsável pela elaboração das teses jurídicas que culminaram com a condenação de dirigentes do PT no mensalão. Ter sido o Sergio Moro do passado é seu maior ativo atualmente.

A proximidade entre as duas candidaturas pode ser vista na pesquisa. Nos primeiros cenários do Datafolha, sem o ex-presidente Lula (PT), Bolsonaro chega a seus maiores níveis de voto entre os eleitores com nível superior (21%) e com renda entre cinco e dez salários mínimos (28%) e mais de dez salários mínimos (29%). 


Nesses recortes, Barbosa também tem suas melhores votações e é o segundo colocado, à frente inclusive da vice-líder Marina Silva. A depender do caso, aparece em empate técnico com Ciro.

O potencial de Joaquim Barbosa vai muito além da pauta anticorrupção, no entanto. Ele pode ser genuinamente um candidato de centro. Trata-se de um centro que de fato consiga unir propostas para remediar a precária situação social brasileira, mas que também faça as necessárias reformas liberalizantes. O governo Temer tem tentado capitalizar sobre este “centro”, mas essa ideia picareta não convence a população – os 2% de intenção de voto para a turma governista na pesquisa deixam isso evidente.

A incorporação de uma agenda social não seria artificial para Barbosa. Em primeiro lugar, porque é uma pauta de seu partido, o PSB. Mais importante, porque é algo em que ele acredita. 


Em 7 de outubro de 2012, a Folha de S.Paulo publicou uma entrevista com Barbosa na qual o então ministro do STF confirmava que tinha votado em Lula em 2002, e repetido o voto em 2006, mesmo após o estouro do escândalo do mensalão. 

E por quê? Justamente pelas melhorias sociais que o Brasil teve nos governos do PT. “Eu não me arrependo dos votos, não. As mudanças e avanços no Brasil nos últimos dez anos são inegáveis. Em 2010, votei na Dilma”, disse Barbosa na época.

Ao mesmo tempo, Barbosa pode ser capaz de atrair o “mercado”, essa entidade de difícil definição, mas que não tem nada de abstrata: é a congregação das grandes finanças e empresariado que encontra sua caixa de ressonância na grande imprensa oligopolizada do Brasil. 


Essa turma em geral está errada em muita coisa, mas acerta na necessidade de reformas estruturais no Estado brasileiro. Em artigo publicado nesta quinta-feira no Valor Econômico, o consultor legislativo Pedro Fernando Nery mostrou que muitos votos de Barbosa no STF são compatíveis com essa agenda de reforma.

Se essas propostas fossem tocadas por alguém com preocupação social, ao contrário do mercado e do atual governo, cujo absoluto desprezo pelos mais pobres é evidente, as reformas poderiam se tornar mais palatáveis por quem hoje se opõe a elas.

Uma grande dificuldade de Barbosa seria formatar sua campanha. No primeiro turno, ele seria o candidato de quem? Tentaria desidratar Bolsonaro ou atrair os votos de Lula? Como faria isso ao mesmo tempo em que envia acenos ao mercado?

São perguntas cujas respostas se formarão também pelas ações dos rivais. 


Em tese, Lula poderia colocar um outro nome do PT diretamente no segundo turno, mas a sua capacidade de transferência de votos, ainda mais preso, fica em dúvida. Ao mesmo tempo, não se sabe se a candidatura de Bolsonaro se sustentará quando ele for obrigado a mostrar conteúdo com propostas reais e participando dos debates.

De toda forma, o mais provável é que Barbosa tente, assim como Ciro Gomes e Marina Silva, manter uma equidistância tanto do PT quanto de Bolsonaro. 


Para os três, a esperança é ir ao segundo turno justamente contra um representante de um desses dois campos e apostar na grande rejeição que sofrem para conquistar a presidência.

Fonte: Estadão 

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