Suicídio: psiquiatra lança site com sua história. Médica perdeu o filho há cinco anos e tem transformado o seu luto em missão

Maria Cristina De Stefano, psiquiatra e mãe de Felipe De Stefano Balster Martins, dá mais um passo em sua jornada na prevenção do suicídio e no apoio às famílias sobreviventes: o lançamento do site suicidioepidemiacalada.com.br


Na página, ela compartilha sua história, expõe os quadros pintados por seu filho, que tirou a própria vida há cinco anos, e disponibiliza um livro para download.

“Um mundo devastado, assustador e apavorante surgiu. Eu vi a cara da morte suicida e o pior, no meu filho Felipe. Em questão de horas pensamentos novos e sentimentos atordoantes me tomaram de forma cruel. 


 A fatalidade surpreendente me jogou de encontro a uma realidade que jamais tinha aventado”, detalha Maria Cristina, que desde então vem defendendo que é possível prevenir novos casos.

Os dados da Organização Mundial de Saúde reforçam que é preciso falar sobre o autoextermínio. 


A estimativa da OMS é que ocorra uma morte a cada 40 segundos no mundo e o mais intrigante é que 9 em cada 10 casos podem ser evitados. Com sua perda, Maria Cristina tem trabalhado nos últimos anos para que esses indíces diminuam, principalmente, entre os jovens.

Os quadros de Felipe mostram o agravamento de seu estado mental, com uma fase azul e outra mais obscura, com cruz, arame farpado e outros elementos pintados representando a morte. 


“A maioria dos quadros só fomos encontrar depois de sua morte, em seu apartamento, escondidos debaixo da cama, do colchão e enrolados dentro dos armários. De forma intencional e lúcida, escondeu suas verdades existenciais expressas em suas pinturas tão reveladoras”, conta.

O livro

O livro ‘Suicídio: a epidemia calada’, mesmo nome do site e da página do Facebook, traz um resumo dos três últimos anos de vida de Felipe.


“Encontrei em seu apartamento cinco cadernos, manuscritos com 10 anos de diário minuciosamente relatados. Eles ficaram guardados por um ano, até que pensei talvez encontrar nas folhas as respostas tão desejadas”, explica Maria Cristina.

A mãe e médica publicou duas edições impressas do livro e agora traz a versão virtual disponível para download por R$ 14,99. 


O objetivo é que as pessoas que se encontram em sofrimento ou convivem com pessoas que possam ter alguma ideação suicida, ao lerem o livro e encontrarem alguma identificação, entendam que é possível pedir ajuda e escrever outro final. 

“Para cada suicida, outras quatro pessoas acabam sentindo essa perda de um modo mais grave, podendo adoecer, entrar em depressão e continuar com esse ciclo mortal”, lamenta.

Para dar apoio e orientação para quem perdeu alguém próximo por suicídio, evitando um ciclo mortal, Dra. Maria Cristina realiza palestras por todo o Brasil com seus relatos.

A médica afirma que os sobreviventes também precisam formar uma rede de apoio. “Como família, ficamos atônitos, confusos, transtornados e constrangidos por tal ocorrência. 


Passamos a conviver com estigmas, preconceitos e discriminações íntimas e públicas, impotentes perante esta verdade inexorável”, descreve. “Hoje, passados quase cinco anos do suicídio do Felipe me encontro em paz comigo mesma. De vez em quando ainda caio no abismo do remorso, mas agora tenho recursos para não me deixar ficar lá”, finaliza.

Sobre a Dra. Maria Cristina De Stefano

É formada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Foi médica sanitarista e professora de Saúde Pública na Faculdade de Medicina de Jundiaí. Desde 1996, atua como médica psiquiatra. 


Em 2012, a psiquiatra perdeu o filho de 34 anos por suicídio e desde então tem trabalhado na prevenção por meio de palestras para especialistas da área de saúde, estudantes universitários e membros de entidades.

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