Senta que lá vem história: Os Caldeira Brant em Goiás (Arraias), João D`Abreu (Tijoca) e outras notícias da família em Minas Gerais
Numa das prazerosas reuniões que são realizadas a cada mês, na residência da urbanista, arquiteta, confreira no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, Narcisa Abreu Cordeiro, para tratar do andamento das pesquisas e produção de textos para contar a história de edificação humana dos primeiros moradores da Rua 7, Centro, Goiânia, ela me proporcionou a emocionante leitura de um discurso escrito a mão pelo seu tio Tijoca.
Trata-se do histórico João D`Abreu (Tijoca), como era conhecido entre os mais próximos (1888/1976), construtor de uma brilhante trajetória existencial, foi o primeiro goiano a se formar em Odontologia, professor-fundador do ensino superior de Farmácia e Odontologia em Goiás, parlamentar (deputado estadual e federal (por três vezes), prefeito de Arraias, em duas oportunidades, vice-governador e governador interino de Goiás.
Na sua segunda gestão como prefeito de Arraias (TO), ainda, Norte de Goiás, ao receber o então governador de Goiás, Otávio Lage de Siqueira, que estava no município para inauguração de obras, João D`Abreu promoveu a leitura do mencionado discurso portador de revelações sobre seu antepassado Felisberto Caldeira Brant, mineiro de São João Del Rei, que em 1735, na companhia de seus irmãos:
O discurso de João D`Abreu conta que “ Arraias foi fundada pelos bandeirantes e figurava entre os mais importantes Julgados do Sertão. De três troncos principais descendemos nós (Caldeira Brant, Cardoso e Moura) e da sua influência e elevado conceito.
Entretanto, a presença dos Caldeira Brant em Goiás é muito mais presente. Felisberto que se casou em São João Del Rei, sua terra natal, com Branca de Almeida Lara, teve o casal em terras goianas a maioria dos seus filhos.
1 Felisberto Caldeira Brant, acompanhou o pai preso à Lisboa; morreu tragicamente, vítima do terremoto que destruiu Lisboa em 1º de novembro de 1755;
2 Coronel Gregório Caldeira Brant
3 Tomás Caldeira Brant
4 Ana
5 Inácio
6 Teresa Caldeira Brant
Por volta de 1744, os Caldeira Brant depois de participaram de um levante contra o gordo fisco português do quinto, com receio de retaliações deixaram nosso eito e retornaram à Capitania de Minas Gerais, e estabeleceram-se no Arraial de São Luiz e Sant´Anna das Minas do Paracatu.
Felisberto Caldeira Brant que entre os irmãos escreveu mais destacadamente sua existência, saindo de Paracatu fixou-se no Arraial de Tijuco, Diamantina, onde se tornou o poderosíssimo Contratante de Diamantes, pelo período de quatro anos, de 1º de janeiro de 1749 a 31 de dezembro de 1752, sucedendo a João Fernandes de Oliveira, amante de Chica da Silva.
Entretanto, Felisberto era diferente dos seus antecessores fazia “vista grossa” aos menos favorecidos do Tijuco ignorando o gesto de garimparem às escondidas em suas lavras.
Cada vez mais rico, tudo ia bem na vida de Felisberto, até que ocorreu em 1752, o roubo do cofre da intendência, onde era guardado o ouro e diamante, cotas da exploração devidas à Metrópole. Curiosamente, o cofre possuía seis chaves.
Diante do entrevero, o intendente ficou ao lado do ouvidor, somou ao roubo (nada foi provado contra Felisberto) a “tentativa de homicídio” e fez a cabeça do vice-rei contra o contratante, que acabou preso, no dia 31 de agosto de 1753, conduzido a Portugal, à masmorra do Limoeiro, em plena regência do temido, Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, poderosíssimo secretário de Estado do Reino de Portugal.
Ainda, preso na masmorra do Limoeiro, sem defesa, sem julgamento, simplesmente jogado lá, enquanto a Coroa só cuidava de espoliar o pouco que havia sobrado de sua imensa fortuna para “ressarcir os cofres lusitanos” pelo roubo inexplicável do cofre no Arraial do Tijuco, cuja “culpa” só recaiu sobre Felisberto.
No dia 1º de novembro de 1755, Lisboa veio praticamente abaixo em razão de um violentíssimo terremoto que matou dezenas de milhares de lisboetas. Entre casas, igrejas, prédios públicos que desabaram, um deles foi a masmorra do Limoeiro.
Sobre esse episódio, o bisneto do contratador Felisberto Caldeira Brant, o Visconde de Barbacena, prestou um depoimento histórico: “Tendo desabado a prisão em consequência do terremoto e tendo morrido seu filho mais velho (de mesmo nome, Felisberto Caldeira Brant), Caldeira apresentou-se ao Marquês de Pombal referindo-lhe o acidente e pedindo-lhe que lhe indicasse onde devesse residir.
A bem da história, da verdade, ainda não se sabe de forma comprovada documental se Felisberto Caldeira Brant teria morrido em Portugal, ou se teria retornado ao Brasil e aqui morrido.
A certeza histórica fica por conta da Coroa Portuguesa que jamais ressarciu a família Caldeira Brant e dela confiscou até a última moeda.
Fonte e texto: Diário da Manhã