Novo trecho da BR-010 é ameaça ao Cerrado e pode ter consequências no aumento do desmatamento próximo à Serra do Tombador

O novo trecho da BR-010 que o governo federal deseja abrir em meio à vegetação virgem é uma nova ameaça ao já devastado Cerrado da Chapada dos Veadeiros.

O trecho de 90 km, segundo projeto do governo, deve consumir cerca de meio bilhão de reais e rasgar o cerrado a partir da ponte sobre o rio Paranã, em Monte Alegre de Goiás, até um entroncamento no município de Paranã (TO), sudeste do estado.

O governo diz que a licença ambiental já está aprovada.

Mas faltou “combinar com os gregos”. Nem sequer audiências públicas foram feitas com os municípios afetados e ou com as comunidade envolvidas.

Hoje o traçado da BR-010 é o mesmo da GO-118, que está em fase de federalização e, diferentemente do traçado da rodovia estadual, que passa por Monte Alegre (GO), Campos Belos (GO) e Arraias (TO), o trecho planejado deve seguir em paralelo à Serra do Tombador, um oásis intacto do cerrado na Chapada dos Veadeiros.

O governo federal quer encurtar a viagem entre Brasília e Palmas e desmatar o cerrado para construir o novo trecho da BR.

E parece não querer analisar como anda os dados a respeito do gravíssimo e adiantado estado de devastação deste bioma.

Entre agosto de 2022 e julho deste ano, o Cerrado perdeu mais de 6.300 quilômetros quadrados de vegetação, um aumento de 16,5% em relação aos 12 meses anteriores.

Os dados divulgados foram divulgados na quinta-feira (3) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a partir de alertas do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), indicam a maior área devastada para o bioma desde o início da série histórica, de 2017 a 2018.

A maior parte do desmatamento no Cerrado está localizada na região do Matopiba, que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, estados com forte expansão do agronegócio.

O Sistema Deter aponta que a Bahia é o estado líder em desmatamento, respondendo por 26,3% de toda a vegetação devastada.

Por outro lado, o desmatamento na Amazônia diminuiu nos últimos 12 meses.

Foram registrados 7,9 mil quilômetros quadrados desmatados no bioma, uma queda de 7,4% em relação ao mesmo período do ano anterior (agosto a julho).

Serra do Tombador é uma das mais belas paisagens do Cerrado

Uma existência, de fato, é muito curta para vislumbrar uma pequena parcela que seja das incontáveis paisagens do mundo. Repleto de janelas privilegiadas, o Brasil oferece uma vista sem igual da Serra do Tombador.

Em Goiás, um trecho dessa formação, cuja geologia se caracteriza por rochas do Grupo Araí, fica protegido em uma reserva. Na parte conservada, o Cerrado é semelhante à área da Serra da Mesa que não mais existe desde que foi transformada em reservatório para instalação de hidrelétrica de mesmo nome.

No município de Cavalcante, a Reserva Natural Serra do Tombador, propriedade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, tem 8.902 hectares.

A área foi adquirida em 2007 com contribuição financeira da The Nature Conservancy. Em 2010, obteve reconhecimento como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

No território, chega-se, caminhando um pouco, a cachoeiras e à nascente do rio Conceição. Levantamentos preliminares realizados na área da reserva indicam 435 espécies vegetais, entre elas peroba-rosa, jequitibá, angico-verde, pau-santo, canela-rosa e coração-de-bugre.

Das 228 espécies de aves, 15 são endêmicas do Cerrado e 2 de buritizais: o maracanã-do-buriti e o taperá-do-buriti.

Até agora, foram registradas na reserva 46,9% das espécies de mamíferos de médio e grande portes descritas para o bioma.

Segundo o Zoneamento Geoambiental e Agroecológico do Estado de Goiás, estudo publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “a geologia da região caracteriza-se pela presença de litologias do Grupo Araí com estruturas falhadas e dobradas, além de litótipos do Grupo Bambuí, Complexo Goiano, Grupo Araxá, Formação Ticunzal e rochas graníticas”.

As rochas formadoras da região são muito antigas. Pesquisas indicam que o complexo granítico foi formado há pelo menos 2,5 bilhões de anos.

Seja qual for a estação do ano, bom motivo para despertar um pouco antes do sol, a fim de apreciar o contorno da Serra do Tombador, é saber que ali está um dos trechos preservados mais importantes do Cerrado brasileiro.

Com texto da Agência Globo

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