Lockdown falhará sem apoio às periferias


Apesar da extensão do lockdown em Fortaleza até o fim de maio, a taxa de isolamento social na cidade seguirá abaixo dos 70% necessários se o poder público não dirigir investimentos pesados à proteção das populações nas periferias. 


É o que mostra um estudo da Ação Covid-19, um grupo interdisciplinar formado por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC) e de outras diversas instituições de ensino superior brasileiras.

“Um grande desafio é que muitos moradores da periferia dependem de trabalhos informais, que são inviáveis remotamente”, afirma Alexis Saludjian, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 


“A dificuldade em receber a renda emergencial só agrava a vulnerabilidade, ainda mais com as filas que se formam para receber o auxílio”, acrescenta.

O estudo mostra que o isolamento foi mais efetivo onde é menos necessário. 


Os pesquisadores compararam os bairros de Meireles e Barra do Ceará, ambos na orla, empregando o Índice de Proteção à Covid19 (IPC19), que incorpora fatores como infraestrutura urbana e desenvolvimento humano. 

O Meireles, bairro de classe alta, foi considerado muito protegido, enquanto a Barra do Ceará se revelou mais vulnerável ao vírus. 

Apesar do lockdown obrigatório, no primeiro bairro o isolamento ficou acima dos 70%, mas se limitou a 50% no segundo.

“A epidemia não estará controlada enquanto não houver um esforço de solidariedade”, afirma Patrícia Magalhães, física, pesquisadora da Universidade de Bristol. 


“Isto significa que são necessárias ações coordenadas de política pública, com foco principalmente naqueles em situação de maior vulnerabilidade.”

Em seu website (referência ao pé da página), o grupo de pesquisadores disponibiliza um simulador para que as pessoas descubram o índice de proteção de seu próprio bairro e acompanhem a evolução da pandemia de acordo com diferentes níveis de isolamento. 


Além disso é possível observar os dados de contágio e letalidade do vírus divididos por nível de IDH ou pelo IPC. 

O projeto Ação Covid-19 tem o apoio da UFABC e da Fundação Tide Setúbal, tendo sido premiado em abril no concurso Desafios Covid-19, da Escola Nacional de Administração Pública (Enap).

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