Homem que Justiça obrigou a cumprir quarentena em Aurora do Tocantins concede entrevista

Elio Tavares Lima, 45 anos, se viu envolvido em uma polêmica após ter um áudio seu ameaçando quebrar o isolamento após confirmação de contágio de Covid-19 em Aurora, sudeste do Tocantins o que levou o Ministério Público a conseguir na Justiça uma decisão que o obriga a ficar em quarentena até 21 de maio. 


Após a repercussão do caso, ele concedeu uma entrevista ao Jornal do Tocantins por telefone, no qual diz que os áudios vazados são de uma conversa particular e não de ameaça à cidade, que diz amar e proteger.

Confira a entrevista transcrita conforme a pronúncia do entrevistado.

O senhor poderia explicar essa confusão envolvendo o senhor?


Eu não vou citar nome de ninguém, mas teve uma pessoa que ligou aqui e me procurou: cê foi pro velório? Eu falei, fui com um primo meu. 

Que meu primo é político aqui, sabe?. Aí nós fomos pro velório. E lá do velório, eu cheguei aqui à noite. E um colega meus, de Brasília, que têm fazenda aqui, me ligaram. – Parente [apelido dele na cidade], aquele problema lá, é fulano de tal, assim e assim, cuidou do paciente [com Covid-19] e o paciente já faleceu e que tinha quatro enfermeiros que tavam suspeitos com… 

que tinham cuidado do paciente, sabe. Aí, tranquilo, mas eu fiquei preocupado. Aí a garganta começou a arder e a cabeça doeno, corpo doeno, mas eu tomei banho e deitei. 

Aí quando no outro dia cedo, saí, corpo vei ruim, aí eu peguei e fui na farmácia e comprei paracetamol. Aí voltei, tinha um vizinho aqui pertinho, que a muié é enfermeira, falei, ligou para o hospital e mandou aguardar aqui. 

Aí chegaram médica e enfermeiro. Me consultou, tirou o sangue e mandou pra fora. 

Quando foi na sexta-feira, o exame vei e deu positivo. Um elemento me ligou me perguntou umas coisas, eu peguei e falei, mas falei sem gravar áudio. 

Aqueles dois áudios não foi eu que fiz, tá minha voz, mas não foi eu que fiz, os que eu fiz são os quatro que estão abaixo, que eu mandei pros colegas meus de Brasília, falei, dessa agora eu vou, não vou aguentar não, vou morrer mesmo, quatro áudio lá, mas aqueles dois áudios lá que tão falando é eu vou sair pra rua e já que vou morrer vou levar um bocado de gente comigo, falei aquilo não.

Então não foi o senhor?


Eu moro aqui, tenho meu negócio aqui [um bar na cidade], minha família toda mora aqui eu vou fazer uma besteira daquela, moço? Já que eu tou isolado aqui já faz oito dias que estou em isolamento?

Como o senhor explica os áudios terem ido parar no processo do Ministério Público?


Rapaz, eu tou falando procê, depois que eu sair dessa quarentena aí, eu vou investigar, vou levar no delegado duas ligações que me ligaram aqui, eu até agora… o caboco não me ligou mais.. 

a gente não pode julgar ninguém, não é, mas eu vou investigar essas duas ligações do cabra que me ligou aqui, tentar descobrir quem foi esse elemento que fez esse tipo de coisa, porque vamos ter que correr atrás, porque o nome da gente tá no mundo.

Como que o senhor está se sentindo com essa repercussão, se tá cumprindo a decisão da Justiça?


A gente não vai fazer isso [quebrar o isolamento] o pedido que a médica fez para o isolamento a gente tá obedecendo, se Deus quiser… se for para ficar 40 dias nós vamos ficar. Eu tô dentro de casa, tranquilo.

O senhor está bem, de saúde, está com algum sintoma?


Não tou sentindo nada. Tá beleza. Graças a Deus, tou sentindo nada não. Eu tô bem, tou tomando meus remedinhos tranquilo e não vou sair não, só vou sair dia que médico falar, Elio pode.. 
tá liberado, mas do contrário, enquanto não sarar não vou sair daqui. 

Vou cumprir o isolamento. Saiu aquilo lá, que eu tinha fugido do isolamento, ia pra… aquilo lá tudo é conversa lá. Se você vier aqui, o pessoal da cidade tudo gosta de mim aqui. Todo mundo gosta de mim. 

Aqui ligação de gente dando apoio, remédio, comida… como é que vou fazer besteira dessa, sair na rua contaminando o povo? 

O senhor acha que foi contaminado no velório que participou?

Eu nem sei onde eu arrumei esse problema, sei o seguinte, é tentar combater o mal. Eu tive rodando, tive em Campos Belos, Goiás, lá já tava contaminado, andei muito por lá caçando novilha pra comprar, então pra mim não foi no velório. 

Esse vírus, peguei ele, não sei de quem foi, a gente tem de tentar combater ele. Isso vem pelo ar, a gente sabe lá onde que pegou, moço?

E o senhor está sozinho em casa?


Sim. Eu sou solteiro. Minha mãe e meu pai moram na fazenda, tenho uma fazenda lá perto do Balneário Dourado, já ouviu falar?

Não, não conheço, fica onde? 


Eu moro em Aurora, mas o balneário fica aqui, subindo por uma estrada de chão.

Certo. Muito obrigado. O senhor tem algo a acrescentar?


Eu só quero dizer que aquele comentário que saiu de que falei isso aí, só quero me defender aí, porque não sou aquele tipo de gente não. Tou aqui para defender a cidade, a população, minha família é toda de Aurora, gosto muito de Aurora. 

Então é o seguinte, não tou aqui para fazer o mal pra ninguém não, vou manter meu isolamento aqui dentro de casa, viu. Se puder me ajudar aí, defender a gente, a minha parte eu vou fazer, viu?

Fonte e texto: Jornal do Tocantins 

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