Crônica de um Modesto: Hoje Campos Belos (GO) amanheceu numa espécie de Lockdown

Campos  Belos, quem te viu, quem te vê 


Por Eduardo Modesto,

Hoje CB amanheceu numa espécie de Lockdown (aproveito para parabenizar o prefeito). 


A sensação de alívio traz, ao mesmo tempo, uma angústia.

Que poder quase sobrenatural é o desse vírus que faz algo nunca registrado na história moderna? 


Nem a segunda guerra, o maior conflito já visto – porque não gravaram ainda minha mãe quando pisam sem limpar o pé no chão que ela acabou de limpar – nenhuma guerra trancou tantas pessoas em casa assim.

Dia desses saí à noite para ver a cidade e porque precisava comprar água. Ali perto da rodoviária, umas crianças estavam sentadas na calçada. Todas de máscara. Eu desacelerei e fiquei olhando a cena. 


Quem nasceu no interior sabe o valor que tem brincar na rua à noite. Mas isso me pareceu algo tão distante. Quase uma outra era.

Aí o vírus chegou na cidade. Sorrateiro. Escondido. E rindo de tudo que fizemos para combatê-lo, fez um enorme estrago dentro do local criado para vencê-lo. 


O quarto de hospital. Como se dissesse: observem, inocentes.

Ver o imenso comércio de Campos Belos fechado é ver toda uma região parada. As ruas do centro, feitas para fervilharem de gente com sotaques baiano, tocantinense, goiano, mineiro, paulista, quando ficam em silêncio, só podem dizer duas coisas: ou é domingo, ou estamos em guerra. 


Hoje estamos em guerra.

Não sei em vocês. Mas me dói muito ver nossa cidade assim. Refém.

Nascemos num lugar sem um grande curso d’água. Nos fizemos há mais de um século engordando gado e comercializando produtos. Essas são nossas vocações. Tudo isso em torno de uma capela.

Nascemos por fé, crescemos pelo trabalho.

É o que sabemos fazer.

Para hoje, toda nossa resiliência, que nos faz bater no peito e dizer (filhos de nascença e os que vieram para cá), que amamos nossa terra, toda essa força deve se transformar em paciência. E distanciamento.

Para que em breve, logo ao sair o sol, lotemos as padarias, feiras, casas de café, botecos e quiosques, mostrando nossa força pra sairmos para mais um dia de trabalho. 


Com as ruas cheias. Ônibus desembarcando gente de todos lugares próximos. 

Chapéus e botinas se misturando a tênis e smartphones. 

Sob a sombra de Dom Alano ou na altura dos morros. Na dureza da água e na leveza de um enroladinho escaldado derretendo à boca. 

Desde a ponte do Montes Claros até a ponte do Bezerra. Por toda nossa extensão. Por todo nosso povo. Por nosso futuro: fica em casa, Campos Belos.

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