De Campos Belos (GO) para o mundo: Alanir Cardoso recebe o título de Cidadão do Recife

O centenário do Partido Comunista do Brasil foi celebrado em reunião solene realizada pela vereadora Cida Pedrosa, líder da bancada do PCdoB, na noite desta quarta-feira (23), na Câmara Municipal do Recife (PE).

Na ocasião, também foi entregue o título de Cidadão do Recife ao atual vice-presidente estadual da sigla, Alanir Cardoso, uma homenagem também proposta pelo mandato da parlamentar, que é integrante das direções municipal, estadual e nacional da agremiação política.

A solenidade foi presidida pelo vereador Almir Fernando, que também compõe a bancada do PCdoB. Ele fez a composição da mesa com a vereadora autora do Decreto Legislativo; com o homenageado, Alanir Cardoso; o presidente estadual do PCdoB, Marcelino Granja; a secretária municipal da Mulher Glauce Medeiros; e o presidente Municipal do PCdoB no Recife, George Braga.

A reunião solene contou com a presença de diversas lideranças do partido, como o ex-prefeito Luciano Siqueira. O presidente da reunião convidou a todos os presentes para que ouvissem e acompanhassem a execução do Hino Nacional Brasileiro.

Na sequência, a vereadora Cida Pedrosa foi convidada para falar do duplo motivo da solenidade. O líder do PCdoB, que recebeu o título, Alanir Cardoso, nasceu em Campos Belos, Goiás, e chegou a Pernambuco em 1972, onde passou a atuar, já no PCdoB, na resistência à ditadura militar. Dois anos depois foi sequestrado e torturado, vindo a deixar a prisão apenas em abril de 1979. O PCdoB foi fundado em 25 de março de 1922, no Rio, e, nas comemorações dos 100 anos adotou o tema “100 anos de coragem e amor pelo Brasil”.

Discurso 

Ao subir à tribuna da Casa de José Mariano, Cida Pedrosa disse que o nascimento do Partido Comunista do Brasil, em 1922, se confunde com outro grande acontecimento nacional: a realização da Semana de Arte Moderna e o surgimento do movimento modernista. “Era a confluência perfeita de um projeto político de modernidade, focado no interesse público, com a revolução artística que dava ao Brasil uma nova identidade no campo da cultura, não mais tão submissa às tradições europeias. Um momento ímpar na história de nosso país”.

Ela disse que foram “as arejadas ideias e ideais dos modernistas, combinadas ao entusiasmo e a esperança num mundo mais justo e igualitário, trazidos pela revolução russa de 1917, que propiciaram o surgimento do Partido Comunista do Brasil”.

O surgimento do partido, disse, foi pautado “pelo amor ao país, pela vontade de construir uma nação menos conservadora e mais inclusiva, consciente do próprio valor”.

“A sinergia foi tanta que muitos daqueles intelectuais modernistas acabaram se filiando ao partido comunista, caso de Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral. Era como se uma coisa levasse à outra. Naquele momento da história do país, ser intelectual progressista era quase sinônimo de ser comunista, como pontua o professor Antonio Canelas Rubim”.

Mas nem só de artes e ideias viveu o partido nesses 100 anos. “Nossos quadros foram postos a duras provas em mais de uma ocasião, especialmente no combate contra o autoritarismo que, mais de uma vez, retardou o projeto de desenvolvimento pelo qual lutamos até hoje”.

Cida Pedrosa ressaltou que, por se contrapor à ditadura Vargas na década de 1930, os comunistas sofreram duras represálias durante o Estado Novo, com muitos deles sendo perseguidos, presos, exilados ou deixados à mercê da morte. “Não há como esquecer que o governo Vargas entregou a companheira de Luiz Carlos Prestes, Olga Benário, mesmo ela estando grávida, para morrer nos campos de extermínio da Alemanha nazista de Hitler”.

A parlamentar ressaltou, ainda que também foi “árdua, cruenta e desigual a batalha travada no Araguaia” nos anos de chumbo da década de 1970 contra as forças repressoras do regime militar. “Jovens universitários idealistas que deixaram o conforto de suas casas na cidade grande para ensinar e cuidar de populações rurais pobres e exploradas por latifundiários da região do Bico do Papagaio foram dizimados. Nem sempre foram mortos em combate como guerreiros e guerreiras, mas presos, torturados e assassinados pelo crime de sonhar com um país mais justo, igual e democrático”.

A vereadora pontuou que, na década de 1970, o governo Médici mandou exterminar os opositores ao regime e ainda tentou apagá-los da história, escondendo seus corpos e impedindo que o massacre viesse a público através da imprensa.Num espaço de três anos, mais de 60 militantes foram mortos.

“Até hoje, somente dois tiveram seus corpos identificados. Neste mês de abril, aliás, completam 50 anos do início da guerrilha do Araguaia e do calvário desses valorosos companheiros”.

Nesses 100 anos de história, Cida Pedrosa disse que o Partido Comunista do Brasil “sobreviveu às perseguições, ao assassinato de militantes valorosos e imprescindíveis para sua história como Fernando Grabois, a 62 anos de clandestinidade e a uma incansável campanha de difamação, promovida por governos reacionários para construir uma imagem distorcida e maquiavélica do comunismo, no intuito de demonizá-lo ante a população”.

Cida Pedrosa afirmou que o partido sobreviveu porque manteve vivo seu ideal revolucionário. “O PC do B ainda aposta em um projeto progressista para o país, exatamente como quando nasceu, há distantes 100 anos”. Ela ressaltou que o partido, hoje, é o que mais se aproxima de conquistar a equidade de gênero.

“Somos presididos e presididas por uma mulher, a vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, e três, dos quatro vice-presidentes do PC do B, também são mulheres. Eu sou uma dessas mulheres que carrega, com orgulho, a insígnia de pertencer a um partido que, literalmente, deu a vida por esse país”. A vereadora saudou três novos filiados que ingressaram no PCdoB hoje.

Homenageado: de Campos Belos (GO) para o mundo

– Após o discurso, a vereadora fez a entrega do título, composto de um certificado e uma medalha, ao novo Cidadão do Recife, Alanir Cardoso. Houve a execução do Hino da Internacional Comunista e uma apresentação musical de Breno Lira e Vívian Moura.

Foi exibido um vídeo sobre o homenageado, Alanir Cardoso, mostrando sua história na militância partidária e relatando o seu perfil. O vídeo teve o depoimento da vice-governadora, Luciana Santos.

Um segundo vídeo também foi apresentado, com um histórico do PCdoB. Ao final, o presidente da reunião, vereador Almir Fernando, convidou o mais novo cidadão recifense, Alanir Cardoso, para que ocupasse a tribuna e fizesse suas colocações.

“É uma grande emoção que me toca neste momento. Tudo o que foi dito pela vereadora, e esses vídeos sobre os 100 anos de nosso partido, mexem com o coração.

Mas, é uma honra muito grande receber este título. Ele acontece não só nos 100 anos do partido, mas neste mês de março quando faz 50 anos que cheguei ao Recife. Cheguei clandestino, em 1972, pois eu já era um perseguido pelo regime”, disse.

Alani Cardoso fez homenagem a duas mulheres “jovens e internacionalistas” que chegaram com ele no mesmo dia, ao Recife. Uma delas nasceu no Paraguai e, a outra, na Europa. Ela são, respectivamente, Soledad Barrett e Paulina Reichstul. “Essas duas companheiras viajaram do mesmo ônibus que eu, quando viemos para o Recife. Mas nem eu sabia quem eram elas e nem elas sabiam de mim. Ambas foram mortas pelo regime militar”.

“A construção do PCdoB é tudo o que foi dito nesta reunião. Na sua história, nem sempre foi fácil ou vitorioso. Sofremos revezes. Em 12 de abril de 1972 começou a Guerrilha do Araguaia. O nosso partido, que já era perseguido e cassado, com o advento da guerrilha, passou a ser o alvo de mira dos ditadores de então”, relatou. Em 1974, numerosos membros do PCdoB foram presos e torturados.

Entre os que viveram essa situação, alguns estavam presentes na reunião solene. “Neste plenário estão Luciano Siqueira, sua esposa Luci e Tadeu Lira, que também sofreram perseguições políticas”, disse Alanir Cardoso. Ele lembrou que o partido ficou clandestino por quase 40 anos e depois foi reorganizado no Estado com os “companheiros que saíram da cadeia”.

Hoje, segundo ele, o partido vive o melhor momento de experiência de sua história. “Não somos apenas um partido centenário, mas o mais maduro, o que tem mais ligação com o povo, aquele que tem mais domínio da realidade e que está em condições de cumprir os objetivos”.

Em Pernambuco, de acordo com Alanir Cardoso, o esforço de reconstrução “tem dado bons resultados”. Ele também citou diversos momentos da luta comunista, citou comunistas históricos, falou de sua história pessoal e de sua participação na luta contra a ditadura militar. No encerramento, Almir Fernando fez as colocações finais e convidou a todos os presentes para que, de pé, possam ouvir e acompanhar o Hino da Cidade do Recife.

Com texto do PC do B

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