Comunidade do Ouro Fino se une pela reabertura de escola e enfrenta tentativa de intimidação por fazendeiro

Em um gesto de resistência e organização popular, moradores da comunidade do Ouro Fino, zona rural de Paranã, reuniram-se para reivindicar a reabertura da Escola Municipal de Ouro Fino, fechada desde 2017.

O ato, impulsionado por pais, mães e lideranças locais, reforçou o desejo coletivo de retomar o direito à educação básica dentro do próprio território quilombola.

A reunião pública foi convocada pelos vereadores Ardely Teles e Roxo, que atenderam ao chamado da comunidade e se comprometeram com a causa. Inicialmente marcada para acontecer no prédio da antiga escola, o encontro precisou ser transferido para a beira do Rio Prata, à sombra de um jatobazeiro, já que a unidade escolar encontra-se atualmente ocupada por um fazendeiro da região.

A tentativa de realizar um encontro pacífico foi marcada por um episódio de tensão. O fazendeiro em questão apareceu no local acompanhado de seus dois filhos, alegando ser dono das terras próximas ao rio e tentando, segundo os participantes, intimidar os presentes. Ainda assim, a reunião prosseguiu com firmeza e serenidade.

Apesar do convite formal, o prefeito de Paranã, a secretária de Educação e a diretora das escolas da zona rural não compareceram nem enviaram representantes, o que foi visto como um descaso por parte das autoridades locais diante da demanda urgente apresentada pela população.

O vereador Conrado, que votou recentemente contra a reabertura da escola, esteve presente, mas manteve sua posição, provocando indignação e protestos dos moradores. Durante o encontro, foi cobrado publicamente por sua postura, vista como insensível à realidade enfrentada pelas famílias da região.

Um dos discursos mais contundentes partiu do presidente da Associação Quilombola Asquicarpo, entidade representativa do território onde a escola está localizada. Ele classificou o fechamento da unidade e a invasão da área como uma grave violação dos direitos constitucionais da comunidade quilombola:

“Não estamos pedindo favor. Estamos exigindo o cumprimento dos nossos direitos. A escola pertence ao território quilombola e é parte da nossa luta por dignidade e permanência.”

Os relatos dos moradores expuseram o impacto da ausência da escola: evasão escolar, longas distâncias percorridas por crianças, famílias separadas e até migração para cidades vizinhas, como Cavalcante (GO), em busca de acesso à educação.

“Tivemos que sair do nosso próprio território para nossos filhos terem o que nós não tivemos: a chance de estudar. Mas queremos voltar. Queremos a escola de volta aqui, na nossa comunidade”, declarou uma mãe, com voz embargada.

A vereadora Ardely Teles reforçou o compromisso com a causa:

“A educação é um direito, não um favor. Essa escola é um símbolo de resistência, e vamos lutar juntos até vê-la reaberta. #SomosTodosOuroFino.”

O vereador Roxo também foi enfático:

“O povo quer a escola de volta. Vamos caminhar juntos até conquistar esse direito.”

O encontro, realizado à margem do Rio Prata, simbolizou mais do que um debate sobre educação. Foi um grito de pertencimento, um ato de resistência frente ao abandono e à tentativa de silenciamento. A comunidade do Ouro Fino mostrou estar mobilizada e determinada a recuperar não apenas a estrutura física da escola, mas o direito de educar seus filhos dentro de seu território — com dignidade, autonomia e respeito.