A oportunidade de aprender um pouco com Adelídeo, um dos raizeiros do Cerrado

Foto: Alan Oju

Por Magali Colonetti,


Adelídeo Ferreira nasceu na Vila de São Jorge há 59 anos, morou boa parte da vida na região do Vale da Lua. Hoje vive num assentamento rural em Colinas do Sul, uma cidade que fica aqui pertinho. 


Aos oito anos de idade ele e seus irmãos seguiam a rotina de acordar cedo para ir à roça, almoçar e ir para a escola e na volta trocar mais uma vez de roupa para ir no Garimpo das Taboas pegar cristais. Uma das rendas da família era vender lamparinas feitas com esses cristais. 


Alguma coisa precisava sair dessa agenda cheia, e por isso ele estudou até a segunda seguindo ordens do pai, que era agricultor e garimpeiro, de que precisavam trabalhar mais do que estudar. “Até hoje eu trabalho, não tenho preguiça de fazer nada. Eu já nasci assim”, observou. 


O trabalho desta quinta-feira foi na Oficina de remédios caseiros e compostos de plantas e raízes, na Tenda Dona Liá, no Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.


Seu Dedé, como também é conhecido, é uma simpatia. Sorridente, comunicativo e contador de histórias como ele só, ficou ali sentado na praça enquanto a turma chegava. 


“Minha mãe era descendente de índio, morena de cabelo bom. O meu é igual ao do meu pai”, falou botando o chapéu preto estilo boiadeiro que vestia meio de lado. “Ela era parteira, tem vários filhos que colocou no mundo. 


Tem um filho meu, o Nildo, que ela colocou no mundo também”. Benta Gomes de Araújo é o nome da mãe dele, era Kayapó e fazia garrafadas para as mulheres que fazia o parto. Tudo para que a recuperação fosse boa. 


E aos 12 anos Seu Dedé começou a acompanhar sua mãe em busca das ervas pela mata. “Só eu ia, meus outros irmãos não acompanhavam. Ela dizia: “arranca esse remédio pra mim.” Eu dizia: “eu não, só arranco a planta se você me disser para o que é”, contou. 


E assim foi conhecendo diversas plantas e para o que eram usadas. Por exemplo, o Pé-de-perdiz uma planta vasorelaxante que sua mãe usava para remédios de limpeza do útero após o nascimento do bebê. Foi ela quem lhe passou todo o conhecimento possível. Depois ele começou a trocar conhecimento nos encontros com outros raizeiros. 


A Oficina


“Simbora pessoal! Vamos aprender um pouco sobre os remédios do cerrado”, foi o chamado do Seu Adelídeo.


 Sentado ao centro da roda de cadeiras com as participantes da oficina, explicou que todos agora iriam sair pela mata para coletar as plantas que usariam. A missão: fazer duas garrafadas. 


O objetivo: conhecer mais as plantas e entender como elas devem ser retiradas da mata. 


Não foi preciso ir muito longe para encontrar um número grande de plantas medicinais. A primeira foi a Lobeira, planta a dica do Seu Dedé é usar a flor da planta. “Pega ela, tira esse miolinho aqui e coloca com mel para cozinhar no vapor. Vai ficar um xarope que uma criança pode consumir meia colher de chá e adultos uma inteira. 


Segundo ele esse é um vermífugo dos bons, basta uma dose. Mais na frente o grupo conheceu a Aroeirinha. O chá de suas folhas é bom para asma, bronquite e pneumonia. “Quanto tomar disso?”perguntou uma das participantes do curso. 


“Remédio natural não tem uma quantidade definida. Pode tomar o que achar necessário. Ele é feito para sarar só o que você tem. Não é igual ao remédio da farmácia que pode lhe trazer outra doença”, ele respondeu. Mais plantas e mais receitas simples foram surgindo. 


Magnésio do Campo com Canela –de-Ema é bom para dor na coluna. É um chá diurético também. 


O chá da raiz do Cajuzinho do campo faz bem para a gengiva sensível e para a dor de dente. O chá das folhas do Araticunzinho é para pedras nos rins. 


Após a caminhada, todos voltaram para a tenda e fizeram as garrafadas prometidas. Falando nelas, Seu Dedé só as faz por encomenda. 


Fonte: Portal Encontro das Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros

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