Cerimônia vodu estimulou a rebelião da independência

Foi numa cerimônia vodu, em 1791, que o negro Bookman pronunciou as palavras eloqüentes de liberdade e fez os escravos, ali reunidos, jurarem fidelidade, desencadeando a maior insurreição negra do mundo e o início da independência do Haiti dos domínios franceses. A guerra durou 13 anos e foi um marco na histórica rebeldia haitiana.

Mas o vodu já era uma teia de ligação entre os escravos muito antes da guerra de independência. Na África, os negros capturados eram transformados em mercadoria vulgar do comercio internacional, separados propositadamente de suas famílias, dos dialetos, de suas etnias e despojados até mesmo do próprio nome.

Agarraram-se, então, à única coisa sobre a qual os brancos não tinham nenhum poder: as crenças, herdadas das mitologias ancestrais africanas.
ORIGEM – O vodu nasceu no oeste da África, num reino chamado Daomé, atual região de Benin. Nas novas terras não perdeu suas raízes e, apesar das múltiplas crenças escravas, sobreviveu. Foi perseguido, camuflou-se, usou os santos católicos num sincretismo semelhante ao do Brasil e se tornou homogêneo.

Os escravos encontraram uma ilha dominada por franceses, que desconfiados dessa manifestação “bizarra”, não perderam tempo em estigmatizá-la. Mas o vodu teve seus aliados. Naqueles anos, estavam em voga as idéias do iluminismo, a era da razão. Foi um período de influência acanhada da Igreja Católica na ilha caribenha. E foram nas altas montanhas da colônia, refugiados da opressão, que eles conseguiram manifestar-se livremente e fomentar o ímpeto rebelde.

Depois da independência, a religião libertadora passou a ser o esteio cultural do país. Uma das únicas, talvez, não tolidas pelos colonizadores. Entretanto, já na primeira Constituição da nova nação, promulgada em 1805, pelo imperador Jean-Jacque Dessalines, não se privilegiou o vodu. Essa Carta também não reconheceu a preponderância de qualquer outra religião. O casamento, por exemplo, era apenas um contrato civil. (D.M.)

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