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Este artigo foi publicado por mim, em 6 de Dezembro de 2002, na edição de sexta-feira, do Jornal Diário de Pernambuco.

É fato que o tempo nos amadurece e nossos pensamentos e posicionamentos também mudam, evoluem.

Mas neste caso, não retiro uma vírgula do que escrevi à época e serve, muito bem, ao atual momento que se avizinha, de eleições presidenciais e estaduais.

Política e religião

“Não há dúvidas da grande evolução democrática que vem marcando as páginas da História brasileira nos últimos tempos.

Fato que enche de esperança o futuro da nossa sociedade, sempre crente em dias melhores, e engrandece a imagem do Brasil, na concepção das outras nações do Mundo.

Nosso ego cresce à proporção dos interesses de outros países em conhecer o nosso sistema de votação, totalmente informatizado e eficiente. Motivo de orgulho nacional.

Mas um fenômeno antigo, que notadamente tem crescido na proporção da nossa evolução democrática, preocupa e põe em risco não apenas todo esse processo evolutivo.

Seu ressurgimento ameaça até mesmo a paz interna, com os conflitos advindos dos antagonismos doutrinários.

Antagonismos que nascem da fusão de doutrinas políticas e religiosas; do casamento de partidos políticos e igrejas, que hoje é realidade, e pode ser comprovada com os resultados das urnas, no último pleito eleitoral.

Com uma rápida olhada nas eleições proporcionais, pode-se verificar o crescimento enorme da bancada evangélica, tanto para as Assembléias Legislativas, quanto para a Câmara dos Deputados.

Dentre os vários fatores que contribuíram para o desempenho surpreendente do candidato a presidente da República Anthony Garotinho, está o fenômeno, expelido por esse casamento doutrinário.

Claro que a preocupação não está no fato de Anthony Garotinho chegar ao gabinete da Presidência da República e nem tão pouco com o crescimento da bancada dos evangélicos.

É salutar, inclusive, o crescimento dessa bancada, até pelos milhões de pessoas que ela representa. O que preocupa de verdade são os artifícios religiosos que vêm sendo desenvolvidos a cada pleito eleitoral.

Ao fundir as palavras do livro sagrado com promessas eleitoreiras, eles (artifícios) induzem o eleitor a não poder diferenciar as propostas das pregações, desvirtuando de certa maneira todo o processo.

Em palavras simples, nova modalidade do voto de cabresto. É o uso da influência religiosa na decisão eleitoral de cada fiel.

Numa democracia verdadeira, o cidadão eleitor não pode se furtar ao direito de avaliar as propostas, independentemente de suas opções religiosas.

Sem o discernimento racional, o cidadão torna-se presa fácil e massa de manobra ao político mal intencionado.

É essa fusão de doutrina religiosa com campanha eleitoral, que se torna alvo de discussão e merece a atenção dos olhos mais atentos da sociedade. É sabida a linha tênue que separa o fanatismo religioso e a fé racional.

Como é de conhecimento também, a proporcionalidade existente entre o fanatismo e o grau de instrução de um povo. Vide os movimentos messiânicos, como o de Antônio Conselheiro, na Bahia.

Obviamente, o poder de convencimento, entremeado de pregações e discursos políticos, expõe perigosamente o cidadão.

Não podemos nos esquecer das conseqüências históricas desse casamento doutrinário, como os conflitos religiosos na Europa, precisamente os sangrentos confrontos entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte; o fundamentalismo islâmico dos talibãs e no Irã; as históricas carnificinas resultantes dos antagonismos na Terra Santa; ou até mesmo a iminente guerra nuclear entre o Paquistão e a Índia, gerada notadamente pelos conflitos político-religiosos entre mulçumanos, hindus e cristãos.

Em curto prazo, para a nossa realidade, pode não representar nada, mas não custa ficar atento.”

Click aqui e leia a publicação original
http://www.pernambuco.com/diario/2002/12/06/opiniao.html

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