Paranã (TO): reconhecidas três novas comunidades quilombolas
Após levantamento histórico elaborado pela Secretaria de Defesa Social do Tocantins (Seds) e encaminhado para apreciação à Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura, três comunidade receberam a certificação como Remanescentes de Quilombo: Comunidades do Claro, do Prata e Ouro Fino, localizadas no município de Paranã/TO, a 300 Km de Palmas.
Segundo o historiador e supervisor dos Afro-descendentes e dos Povos Indígenas da Seds, André Luiz Gomes da Silva, responsável pelo histórico, essas comunidades datam sua existência a mais de 250 anos e são compostas por 54 famílias.
E por morarem na mesma área geográfica e pertencerem ao mesmo tronco familiar (Kalunga) reuniram-se e formaram a Associação Quilombola das Comunidades do Claro, do Prata e Ouro Fino (Asquiccapo).
Para André Silva, o reconhecimento dessas Comunidades é a constatação de que o povo negro foi importante no desenvolvimento social e cultural na região sudeste.
“Certificá-las é importante, pois o estado reconhece o valor cultural e social desse povo que muito fez ao longo de sua história. Paranã está de parabéns.
A Secretaria de Defesa Social, através da supervisão afrodescendentes, contribui efetivamente no processo de certificação.
Fizemos o histórico das comunidades no município de Paranã e sempre acreditamos em sua certificação”, ressalta o Supervisor.
A comunidade (Asquiccapo) possui uma escola de ensino fundamental e os alunos que estudam do 6º ao 9º ano viajam de ônibus 75 km até o distrito de Campo Alegre.
As casas não possuem energia, todas as famílias usam como alternativa a “Lamparina” ou “candeia”, como é chamada por todos os moradores.
Seu Doriteu Marques foi o primeiro morador da região do Claro. Com sua família e outros colaboradores trabalhavam na fabricação de cachaça; todos residiam no Vão do Moleque e vieram para a beira do Rio Claro.
A cachaça era mercadoria utilizada na troca de outros mantimentos, pois a caça, a pesca de arpão, o cultivo de mandioca e feijão, era o meio de subsistência à época.
Atualmente, 93% do território que agrega as comunidades ainda continuam intactos. As roças são de tocos, assim como faziam seus antepassados, cultivam a mandioca, a cana de açúcar, feijão, arroz e fava.
A falta de água é o maior problema que a comunidade Asquiccapo enfrenta nos últimos anos, mesmo sendo uma região banhada pelos os rios Paranã, Prata e Claro, pois muitos proprietários rurais cercam suas terras, dificultando-os o acesso a água.
A comunidade Ouro Fino recebeu o nome do córrego onde era extraído um ouro fino, por meio da bateia. É uma região que possui muitos vestígios da mineração, nesta área residem 22 famílias, todas oriundas do Vão do Moleque, localizada na comunidade Kalunga de Cavalcante.
Cada família possui suas particularidades mesmo pertencendo ao mesmo tronco ancestral, a crença é um elemento vivo em todas as famílias; as rezas, as curas com as plantas medicinais são ações costumeiras dentro das comunidades.
A casa do senhor José Cezário Torres é um lugar considerado por muitos moradores como um espaço para receber conselho espiritual.
A devoção é outra característica presente nas famílias quilombolas do Prata, Claro e Ouro fino, exemplo disso, o seu Antonio Dias dos Santos e sua esposa, Dona Francisca da Conceição, faz a Festa do Menino Deus no dia 24 de dezembro, a festa é um momento em que todas as famílias se encontram para rezar e ao mesmo tempo encontrar os parentes que muito tempo não vêem.
Outro fator relevante nas comunidades é a quantidade de cemitério, registrando um para cada comunidade, ali estão enterrados os primeiros moradores daquela região.
Muitos cemitérios datam mais de 270 anos, os túmulos eram feitos com pedras empilhadas, sendo que ainda nos dias de hoje adotam esse mesmo processo.
Como prova a oralidade e os vestígios, tais como moradias antigas, escavações, plantações, cemitérios, demonstram que as terras em que vivem hoje pertencem e pertenceram seus antepassados desde a chegada dos negros naquela região.
Fonte: Seds