Agronegócio na UEG: Duro golpe no nordeste de Goiás e sudeste do Tocantins


Por Crispim Santos*, 

Tenho acompanhado com
certa preocupação as discussões provocadas pelo fechamento do Curso de
Tecnologia em Agronegócio do Campus da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em
Campos Belos. A preocupação se fundamenta em vários aspectos que propomos discutir
nesse texto, já que essa não foi a única decisão verticalizada do Conselho Universitário
da UEG nesse sentido.

O primeiro ponto em que
julgamos relevante, e que me parece ser uma grande falha da universidade, foi o
caráter unilateral da decisão, não ouvindo a comunidade acadêmica sobre o tema.
“A sociedade local nem se fala”.
Já presenciei essa postura
verticalizada do Conselho Universitário da UEG no ano de 2000, quando decidiu
pelo fechamento de alguns cursos nas unidades de Porangatu, Goiás, Iporá,
Jussara, Anápolis e Quirinópolis. Os argumentos naquela oportunidade foram os
mesmos utilizados no caso em análise: a saturação profissional ou o perfil
inadequado dos cursos com a realidade econômica da região.

Naquele período esse escriba ocupava o cargo de Presidente do
Diretório Acadêmico do Campus de Porangatu, que representa alunos dos cursos de
Geografia, História, Letras e Matemática. Numa ação rápida apoiada pelo Diretório
Central dos Estudantes e União Estadual dos Estudantes, decidimos ocupar por
tempo indeterminado a Assembleia Legislativa de Goiás, aguardando no salão nobre da casa que a decisão fosse
revogada. A revogação veio antes, mas mesmo assim fomos a Assembleia
Legislativa e mostramos nosso descontentamento.

No caso de Campos Belos
a justificativa de que a região não está inserida na rota do agronegócio, e,
portanto não comporta um curso como tal me parece algo próximo do ridículo. Mesmo
não concordando com as tragédias praticadas pelo agronegócio no campo
brasileiro (tema de outra discussão),
devo admitir a necessidade do curso, pois formamos profissionais com conhecimentos
técnicos para atuar não somente nos grandes empreendimentos agropecuários, mas
também na agricultura camponesa, responsável por 75% dos alimentos que chegam
ao nosso prato.

Se o currículo do curso
está voltado para a pequena agricultura que ótimo, parabéns para o grupo que o
formulou e aos que trabalham nessa perspectiva. É realmente essa a postura
esperada dos cursos de ciências agrárias atualmente. Numa futura reforma
curricular do curso as práticas agroecológicas necessitam ser potencializadas,
indo de encontro ao que a sociedade exige nas práticas de produção de alimentos.

Entendemos ainda que a
atuação profissional não se limita somente à região onde o curso está
instalado. Pensar que os profissionais formados na unidade de Campos Belos atuarão
somente na Região Nordeste de Goiás é um equívoco sem tamanho. As características
do trabalho na atualidade, expressa no deslocamento de trabalhadores pelo mundo,
não nos permite pensar que o profissional formado por uma universidade atue de
maneira regionalizada.

O mercado de trabalho
atualmente não se encontra mais regionalizado como ocorria duas ou três décadas
atrás. Segue o movimento do setor produtivo, inclusive da agropecuária que nos
últimos vinte anos espalhou-se por todo o país. Assim, não temos mais um
profissional capacitado para atuar em Campos Belos, Luís Eduardo Magalhães ou
Brasília, mas para uma determinada atividade econômica, socioambiental e
outras. Esteja ela em qualquer latitude.

No caso do Curso de Tecnologia
em Agronegócio sabemos que sua suspensão não tem nada com a justificativa
colocada. Ocorre que a disposição em reduzir os investimentos na universidade é
uma realidade no Governo do Estado. O crescimento sem planejamento e obedecendo
a critérios político-partidários fez da UEG a mais interiorizada das
universidades estaduais do país, algo desejável, mas feito sem qualquer garantia
orçamentária.

 Nas decisões que fecham cursos sem qualquer
discussão aparecerá sempre a justificativa aplicada ao curso de Campos Belos,
mas nunca um debate sério a cerca, por exemplo, da autonomia universitária,
onde as partes envolvidas tenham voz ativa nas decisões. Se o curso não estava
atendendo as expectativas de região como colocado, que passasse por uma
reformulação, algo que já estava encaminhado pelo grupo de professores e alunos
da unidade.

As mudanças necessárias
incorreriam indubitavelmente num maior comprometimento da universidade com o
curso, como por exemplo, fortalecendo a pesquisa e a extensão, retirando o
curso dos muros da universidade. São avanços que todo curso recém-implantado
necessita ao longo de sua consolidação, o que não seria diferente com o curso
em questão. É um aprimoramento contínuo, que significa em última análise a
consolidação da própria instituição.

Entendemos não ser essa
a forma que se constrói uma universidade forte, como um dia queremos ver a UEG.
Os cursos técnicos ou de licenciatura necessitam de tempo para consolidar
regionalmente e tornar-se referência aos estudantes que pretendem cursá-los. Ou
será que cursos que hoje são referências em outras universidades se
consolidaram em três anos? Os mais qualificados cursos superiores do Brasil são
da primeira metade do século passado.

O caminho encontrado
pelo Conselho Universitário da UEG em relação ao Curso de Tecnologia em
Agronegócio, deixa sem alternativa um grande grupo de jovens que gostariam de
buscar outra profissão, diferente do magistério. Na região não possuímos outra
opção a não ser as licenciaturas em Letras, Pedagogia, Matemática, Biologia e
Educação do Campo. 

Como licenciado em Geografia e Técnico em Ciências Agrárias
entendo que ambos os caminhos tem suas contradições, não significando, porém
que oferecer apenas uma alternativa seja o mais adequado a população do
Nordeste Goiano e Sudeste do Tocantins.

Aos Acadêmicos,
Professores e postulantes do Curso de Tecnologia em Agronegócio deixo minha
solidariedade e a disposição para caminharmos juntos nessa luta. Entendo que essa
é uma causa coletiva que impacta a todos nós. Perdem os alunos, os futuros
alunos e a sociedade do Nordeste de Goiás e Sudeste do Tocantins.
A luta galera!!
VALMIR “CRISPIM” SANTOS
Técnico
em Agropecuária e Geógrafo
Agente
de Fiscalização Agropecuária

AGRODEFESA/Campos
Belos

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