Cavalcante (GO): Município está entrando para rota de turismo sexual no estado
Isolado no Nordeste goiano, o município de Cavalcante está entrando para a rota de turismo sexual no Estado, de acordo com o ativista do Movimento Negro e de Direitos Humanos Joel Carvalho.
Outro fator que pode ter relação com o grande número de casos de abuso sexual no município é a proximidade das comunidades calungas, que se fecharam por muito tempo e tem um dos piores do IDH do País, com a parte urbana das cidades, na avaliação do antropólogo Carlos Alexandre Barboza Plínio dos Santos, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB).
Carvalho já trabalhou no Centro de Atendimento ao Turista de Cavalcante, observando o fluxo de turistas rumo às cachoeiras da região.
“Esta situação ocorre com visita de turistas. Há casos de famílias que deram crianças em troca de ‘taião’ de mandioca”, conta ele.
Com pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado sobre quilombolas, Santos afirma que nunca ouviu nenhum relato de calunga que tenha sofrido abuso sexual.
Ele acredita que o problema só será resolvido com “um Estado mais atuante.” “É preciso visitar as famílias, conversar com os líderes das comunidades e com os professores para alertarem seus alunos”, sugere. “O problema pode estar acontecendo também em outras comunidades.”
A advogada Wilisa Quiarato defende sete acusados de praticar abuso sexual na cidade. “Isso é uma miséria cultural.
O instinto predatório está vinculado aqui. De quatro processos, as vítimas alegam que estavam tomando banho ou lavando roupa no rio e, na volta, foram atacadas”, diz. “O Legislativo não quer mexer na ferida porque vai sobrar para eles.”
O ativista do Movimento Negro completa: “A relação aqui é mais podre e mais violenta. Ela é submissa porque tem uma questão servil nesse contexto.
É pior porque é construída. É perversa, montada sobre a base do poderio econômico para poder anular a identidade, a história e a memória desse povo.”
Prefeitura quer comissão para combater crimes
Além de estruturar o prédio do Conselho Tutelar e prometer suporte para as equipes fazerem atendimento, o prefeito de Cavalcante, João Pereira da Silva Neto (PTC), enviou para a Câmara Municipal projeto de lei que cria comissão especial de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.
A medida foi tomada depois de O POPULAR cobrar ações da prefeitura.
“É uma coisa muito triste que a gente vê por aqui. Não é brincadeira”, pontua o prefeito, para emendar: “É muito comum caso de abuso sexual na cidade.”
Embora reconheça que a prefeitura pode desempenhar esforços para garantir atendimentos psicológico e de assistência social às vítimas, João Neto diz que não descarta pedir ajuda junto ao Congresso Nacional.
“Terror silencioso“
O padre Jesus Joaquim de Sousa confirma a gravidade da situação. “Defino esta situação como um terror silencioso”, pondera. Ele diz que já ouviu relatos de pessoas, contando que as vítimas ficam reprimidas.
“A igreja se preocupa bastante com esse problema. Você percebe a angústia da pessoa”, destaca.
A presidente do Conselho Tutelar de Cavalcante, Evani Soares, reconhece que a prática criminosa já está permeada no dia a dia da comunidade.
“O que faz piorar ainda mais é que ninguém dá uma resposta e tudo isso continua como se fosse normal, mas não é”, assevera.
Fonte: O Popular, com texto de Cleomar Almeida