Perdemos “Edmílson dos Correios”. O entregador de sonhos e de esperança

Edmílson e sua querida família 



Morreu neste sábado (23), em Brasília, Edmílson Almeida de Oliveira, conhecido carinhosamente em Campos Belos, nordeste de Goiás, como “Edmílson dos Correios”. 


Há cerca de quinze dias ele não se sentiu bem e foi socorrido à Casa de Saúde Nossa Senhora da Conceição. 


Mas devido a complicações no pâncreas, teve que ser transferido para o Hospital Anchieta, um dos melhores hospitais aqui no Distrito Federal, e, em consequência da gravidade médica, foi internado numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 


Após uma semana de internação, Edmílson foi, aos poucos, se recuperando e aliviou bastante as preocupações da família e de todos nós. 


No último sábado (15), fui visitá-lo e o encontrei acordado e até falando, e brinquei. “Edmílson, é só seu Vasco cair para a segunda divisão, que você fica acamado”!. 


A brincadeira foi o suficiente para lhe arrancar um largo sorriso. Após um breve bate-papo, saí daquela UTI com a certeza de que o pior já tinha passado.


Mas infelizmente, não foi o que ocorreu. 


Ao longo de toda a semana ele se recuperou bem e estava falante. Mas nesta sexta-feira, seu estado de saúde piorou bastante e na madrugada deste sábado, não resistiu.       


Edmílson pertencia a uma família tradicional em Campos Belos. Filho de “Seu Edmar e de Dona Maria”, comerciantes pioneiros, assim como seus tios paternos Brasil, Quinquinha e Ibanês.


Tinha como irmãos outras pessoas também muito queridas na cidade: Estelinha, Celma, Rosinha e Edmário.  


Construiu sua bela família com uma prima deste Blogueiro, Maria Alice, com quem teve três filhos: Michele, Milene e Everton.


O corpo de Edmílson está sendo velado na residência da família, na Ruas das Laranjeiras. O sepultamento está previsto para ocorrer na manhã deste triste domingo. 


O carteiro


Para além da família, o carisma e a simpatia de Edmílson conquistou milhares de pessoas, sendo o portador de boas notícias, de cartas de amor, de sonhos e esperança. 


Por quase 30 anos, ele se dedicou aos Correios. Ao longo de quase três décadas foi o nosso carteiro. 


Quantas cartas de amor? quantos resultados de concurso? quantos presentes? quantas saudades não foram amainadas pelas mãos do nosso carteiro?  quantos livros e conhecimento nos foram entregues? 


Lembro-me que, no início dos anos 90, por quase 15 dias, torrei a paciência de Edmílson, ansioso pelo resultado do meu primeiro concurso. Naquela época não tinha internet e o carteiro era a nossa ligação oficial com o mundo.


Não à toa, Pablo Neruda reconheceu o valor dessa profissão e a intimidade que desfrutava o carteiro no mundo de todos nós. 

No livro de Antônio Skármeta, Mario Jiménez, um jovem pescador, decide um dia que não foi talhado para as lides do mar e resolve abandonar o seu ofício para se converter em carteiro. Torna-se assim no carteiro do poeta Pablo Neruda, o único que recebe e envia correspondência na Ilha Negra. 


Mario admira Neruda e aguarda o dia em que o poeta lhe dedique um livro ou aconteça mais do que uma breve troca de palavras ou o gesto ritual da gorjeta. O seu desejo ver-se-á finalmente realizado e entre os dois vai estabelecer-se uma relação muito peculiar.


Vá com Deus Deus, caro amigo Edmílson. Aos seus entes queridos, os nossos votos de pesar, mas também de agradecimento, por ter nos concedido o privilégio de sua amizade. 


Em sua homenagem postamos Roberto Carlos e Fernando Pessoa, que declaram o poema “Todas as cartas de amor são Ridículas:

“Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.


Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.


As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.


Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.


Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.


A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.


(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente

Ridículas.)”
  
Fernando Pessoa
  

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