“Causos populares”: o frio na pescaria não estava pra peixe

Por Jefferson Victor,
Era mês de julho, por volta de 1994, alguns amigos de Campos Belos, como de costume, resolveram tentar a sorte e pegar alguns peixes.
No entanto, o objetivo mesmo era a farra.
Churrasco, cerveja, baralho e também um reencontro de amigos, já que era período de férias escolares.
Compras feitas, traia conferida, seguiram rumo ao Rio Palmas, já em pleno sertão de Arraias, no sudeste do Tocantins.
A região em que foi o palco da pescaria, era meio que desértica, algumas fazendas e pequenas propriedades de ribeirinhos que habitam a localidade há séculos, inclusive, muitos são posseiros, e vivem de cultura de subsistência e da pesca para consumo próprio.
Por falta de energia, costumavam salgar e secar o pescado em pequenas quantidades.
Devido à pesca predatória, e construção de usinas, está cada dia mais raro os grandes jaús, filhotes e até a temida piratinga de até 130 kgs comuns em épocas passadas.
Na turma tinha pescadores e os cachaceiros que ficavam só no acampamento bebendo e jogando.
Pra começar a pescaria, é preciso iscas, normalmente pequenos peixes, que são colocados nos anzóis.
É uma tarefa que poucos querem fazer, então é comum levar o chamado tarrafeiro, que não participa do rateio, já que é uma função meio chata.
Na ocasião então optaram por levar Grandão, “nome fictício”, um cidadão de bem, 1.90 de altura, pescador destemido, daqueles que entra em qualquer poço, pega na linha mergulha e vai lá no fundo desencalhar o anzol.
A maioria dos acampados levaram barracas, redes, agasalhos e cobertores, já que o rio amanhece com uma névoa por cima das águas, a temperatura despenca a níveis preocupantes.
Quando chegou a noite, na hora de dormir, fogueira já apagando, cada um foi pra seu abrigo, porque o vento frio congelante soprava forte que chegava assobiá, foi quando deram conta que o tarrafeiro estava sem camisa e desprovido de proteção.
Perguntado sobre sua coberta, ele mostrou o litro de Velho Barreiro, dizendo que a pinga era o seu cobertor.
Colocou um fino colchão de espuma na areia, próximo às redes, foi quando lhe ofereceram cobertor, o que foi prontalmente recusado.
Quando deu aí por volta de três horas da manhã, escutaram uns gemidos trêmulos de fazer dó, só aí deram conta que vinham do parceiro durão, o qual estava só de short e morrendo de frio.
Então descobriram que a alternativa encontrada por ele, foi embrulhar com a tarrafa rsrs.
Nesse momento o colocaram em uma das barracas e lhe deram cobertores, salvando sua vida.