Prosas e Versos: Viagens nos anos 70 pelo “Corredor da Miséria” em Goiás


Por Jefferson Victor,
Viajando pra Campos Belos, fui relembrando o passado, na década de 70 em que o expresso ficava atolado.
Era o corredor da miséria, uma região esquecida, governo não lembrava de nós, era uma vida sofrida, mas vinham pedir voto, um monte de cara lambida.
Ary Valadão iniciou o projeto, Iris Rezende finalizou, depois de duzentos anos finalmente o asfalto chegou.
Quando o tempo invernava estrada virava atoleiro, principalmente entre os meses de novembro a fevereiro.
400 kms de muito sofrimento, buraco e atoleiro surgia a todo momento, uma viagem demorada com muito aborrecimento.
A subida do piçarrão atolava até avião, as vezes era quilométrica a fila de caminhão.
Carro pequeno então, era o que mais atolava, ficava preso no barro e a fila não caminhava.
Caminhão, precisava de trator para puxar, enquanto ele não saía ninguém conseguia passar.
Tinha que levar café e farofinha de frango, não havia restaurante para se comprar o rango.
Quem era precavido levava o que comer e uma grande garrafa térmica com água para beber.
Ônibus saía de Brasília não tinha hora pra chegar, até dois dias na estrada era comum demorar .
Eram 35 sentados, mais uns 50 em pé quem ficava lá no fundo era quem fazia café.
Quando a viagem demorava o desodorante vencia, tinha “sovaco” que perdia, era catinga demais o nariz da gente sofria .
Ainda tinha uns descarados que soltavam pum fedido, no meio de tanta gente, o autor ficava escondido, as vezes ainda gritava dizendo que foi o amigo.
Por falta de banho tinha algumas coisas perdendo, muita gente reclamando que tinha coisa fedendo.
Quando era tempo da seca era a poeira que entrava, os vidros ficavam abertos por onde ela passava, dois três dias depois o passageiro gripava.
O cabelo ficava vermelho, os olhos da cor de brasa saía barro do nariz quando a pessoa “assuava”.
A mala do passageiro chegava cheia de lama, era uma aventura danada, era um verdadeiro drama.
Quem ia pra Dianópolis em Campos Belos descia, o ônibus ia em Arraias, depois a viagem seguia, eita tempo terrível no expresso da agonia.
Era a Viação Paraíso, o motor era na frente parecia uma sauna o danado era quente e quando nele sentava esquentava a bunda da gente.
Quando dava dor de barriga tinha que correr pro mato, voltava com carrapicho e um monte de carrapato
A viagem hoje é boa tem ar condicionado, um asfalto de qualidade, ninguém fica atolado, só tem aborrecimento quando o expresso fica quebrado
Agora é veículo novo com banheiro pra usar, tem parada obrigatória pro passageiro lanchar, até tem hora pra sair, e tem hora pra chegar.
Que bom que o progresso chegou pra melhorar nossas vidas, agora ficou no passado aquelas viagéns sofridas.