Carros e rodas colocam em perigo a biodiversidade nas rodovias de Goiás

Três times de Goiás participam neste sábado (12) do Dia Nacional de Urubuzar, uma das maiores ações do País para a conservação da vida silvestre.

Idealizada e coordenada pelo professor doutor Alex Bager, do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), vinculado à Universidade Federal de Lavras (MG), a iniciativa visa a unir esforços para evitar o atropelamento de 475 milhões de animais que anualmente perdem a vida nas estradas brasileiras.

Até o dia 19, num esforço coletivo, o CBEE, com o apoio de instituições públicas e privadas, empresas e iniciativas independentes, vai realizar em 14 estados e 38 cidades ações de sensibilização sobre os impactos de rodovias e ferrovias na biodiversidade brasileira.

Representantes de Alto Paraíso de Goiás, Luziânia e Águas Lindas de Goiás engrossam essas fileiras. Esta é a quinta edição do evento.

“O Dia Nacional de Urubuzar é o ápice de um conjunto de ações realizadas em 2022 ao lado de parceiros de todo o Brasil. Vamos realizar campanhas, palestras, blitz em estradas, distribuição de folhetos. Temos uma expectativa de atingir mais de 1 milhão de pessoas e mostrar para a sociedade que nós, como usuários, e todas as nossas atividades econômicas que se utilizam de rodovias e ferrovias geram um impacto e têm co-responsabilidade e devemos contribuir para minimizar os atropelamentos da nossa fauna”, afirma Alex Bager.

O grande impulsionador da mobilização é o Sistema Urubu, criado em 2014 por Alex Bager.

O aplicativo de celular permite que qualquer cidadão, não importa a região do Brasil, possa contribuir com a proteção dos animais silvestres ao identificar áreas críticas de atropelamento de fauna. As informações são encaminhadas aos pesquisadores do CBEE que atuam junto aos públicos e privados para garantir a proteção dos animais.

Essa rede social de conservação da biodiversidade conta atualmente com 25 mil usuários. Desde seu surgimento já reuniu 100 mil registros de animais atropelados em todos os estados brasileiros.

Uma nova versão do aplicativo foi lançada em 2021 e está disponível gratuitamente para Android e iOS. Para entender melhor o seu funcionamento e participar da rede, basta acessar www.sistemaurubu.com.br. Alex Bager luta para que um maior número de pessoas passem a usar o aplicativo.

“Quanto mais pessoas para ‘urubuzar’, mais exatos são os dados e as medidas que podem ser tomadas. Assim, cria-se uma rede em que as atividades têm um impacto real na proteção dos animais silvestres.”

Flávia Cantal, da Associação dos Amigos da Floresta (AAF), de Alto Paraíso de Goiás, integra essa rede. Ela lembra que o atropelamento é a segunda maior causa de extinção de espécies animais depois do desmatamento. “É muito significativo para a perda da biodiversidade”, enfatiza.

Ao lado de outras instituições, ela tenta minimizar esse impacto na Chapada dos Veadeiros, um dos grandes remanescentes do bioma Cerrado. “Somente em dois trechos, entre São João d’ Aliança a Alto Paraíso (GO-118) e de Alto Paraíso para São Jorge (GO-239), distrito que dá acesso à entrada do parque nacional, por ano são registrados 7 mil atropelamentos, mas acreditamos que esse número pode chegar a 50 mil.”

Educação

Palestras em escolas e ações educativas estão no foco da AAF para a semana do Urubuzar. Flávia Cantal relata que desde 2016 há um esforço para mitigar a perda de animais e criar a cultura da velocidade mais baixa em estradas da região, como a GO-118, que liga Brasília a Campos Belos, passando por Alto Paraíso e Cavalcante.

Como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros recebe cerca de 70 mil visitantes por ano, a preocupação se estende também aos usuários das rodovias.

“Os pequenos animais são os que mais morrem por atropelamentos, mas entre os mamíferos perdemos muitos lobos-guarás e cachorros do mato. Também registramos um grande número de mortes de antas e tamanduás-bandeira e, como são de maior porte, quando são atropelados e morrem, normalmente morre uma pessoa junto”, afirma Flávia Cantal.

A ambientalista ressalta que o lobo-guará é uma espécie vulnerável. “Este ano temos mais de 30 registros de atropelamentos aqui e eles continuam morrendo. No Rio Grande do Sul o lobo-guará está praticamente extinto e o atropelamento é a principal causa, segundo os estudiosos daquele estado.”

Goinfra é condenada a construir passagens de fauna

Nas estradas da região do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, por causa da mobilização dos ambientalistas e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sinalização informativa da presença de animais silvestres, redutores de velocidade e sonorizadores foram instalados numa tentativa de mitigar os atropelamentos de animais.

A estimativa é que circulem na região de 183 a 220 espécies, seis delas figuram na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

Por força de uma Ação Civil Pública proposta pela AAF, o ICMBio e o Ministério Público Federal junto à Justiça Federal, a Goinfra terá de construir 15 passagens de faunas nas GOs 118 e 239.

Para cumprir a decisão judicial, em agosto deste ano a Goinfra chegou a lançar o edital de obras com este objetivo. Conforme o anúncio, serão seis corredores suspensos e outras nove travessias inferiores, implantadas sob as vias, um investimento previsto de R$ 22 milhões. 

Nesta sexta-feira (11), a Goinfra informou ao POPULAR que o processo licitatório não teve êxito e um novo procedimento deve ser lançado no início de 2023. Segundo o órgão, que conta atualmente com uma uma assessoria ambiental para desenvolver projetos de sustentabilidade, há estudos técnicos em andamento para a construção de outros modelos de travessias de animais nas demais rodovias estaduais, a partir da ação na Chapada dos Veadeiros.

“Diante da ampla biodiversidade da fauna do Cerrado, cada trecho rodoviário demanda um levantamento próprio para definição da infraestrutura ideal para cada rodovia”, explicou a Goinfra em nota.

Atropelômetro

O Centro Brasileiro de Ecologia das Estradas mantém na página do Sistema Urubu – www.sistemaurubu.com.br – o Atropelômetro onde é possível identificar o número de animais silvestres atropelados no Brasil em 2022, em tempo real.

Os dados mostram todos os portes – pequenos, médios e grandes. A grande maioria, mais de 90%, está no primeiro grupo, como sapos, cobras e ratos. No outro extremo, morrem de 2 a 3 milhões de grande porte, como antas, capivaras, lobos-guará, onças, cachorros-do-mato e tamanduás. 

Pesquisa internacional liderada pela professora do programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras, Clara Grilo, mostra que mais de 120 espécies de mamíferos terrestres estão vulneráveis à morte por atropelamento e várias populações podem simplesmente entrar em extinção em 50 anos se persistirem os níveis de atropelamentos.

No Brasil, os pesquisadores observaram que as mais ameaçadas são as populações de lobo-guará e gato-do-mato-pequeno. A onça pintada, o veado-catingueiro, o macaco barrigudo e o coatá-da-testa-branca também entram na lista de vulneráveis. 

Reportagem de O Popular

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