Economia criativa: Candango de Literatura no mapa mundial
Três continentes participam da seleção do I Prêmio Candango de Literatura, concurso concebido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).
Foram 1.984 inscritos, com 1.907 candidatos e candidatas brasileiros. Quatro países que têm o português como língua oficial tiveram inscritos: Portugal (34), Angola (28), Moçambique (9) e Cabo Verde (6).
A extensão de candidaturas revela a capilaridade da seleção para o universo de nove países lusófonos, num total de 290 milhões de falantes.
Entre os concorrentes, está o autor moçambicano Mia Couto, ganhador do Prêmio Camões de 2013. O concurso coloca Brasília no calendário mundial de certames literários. O resultado será divulgado em 21 de setembro.
“A língua portuguesa é a quinta mais falada no mundo, a terceira mais falada no Ocidente e a primeira quando se trata apenas do hemisfério sul. Esses números comprovam o acerto da aposta de apoiar a produção literária em nossa bela língua onde quer que seja falada”, afirma o titular da Secec, Bartolomeu Rodrigues, autor do livro “3 Contos de Réis”.
Quando analisados amiúde, os números do I Prêmio Candango de Literatura impressionam. A poesia mostra sua força em tempos de sofrimento e dor planetária. Foi o gênero com mais inscrições (673), seguida de romance (525) e contos (302).
A participação feminina caminhou para equidade com 41% em relação ao total. Sobre o crescimento da visibilidade de autoras, a escritora Beth Fernandes, assessora de Relações Institucionais da Secec, afirma que essa é a percepção qualitativa do coletivo literário feminista Mulherio das Letras, que reúne cerca de sete mil escritoras, editoras, ilustradoras e outras mulheres ligadas à cadeia criativa da produção literária no Brasil.
O prêmio, que foi pensado para destacar a produção literária em português lançada no mercado em 2021, superou as expectativas da organização.
O presidente do Instituto Casa de Autores, instituição responsável pelo termo de colaboração em parceria com a Secec, Maurício Melo Júnior, disse que a organização esperava cerca de mil interessados. “É um sucesso indiscutível”, comemora.
“O Prêmio Candango é uma luz no fim desse túnel em que se tornou a área cultural no nosso país. Aplausos para a Secretaria de Cultura e Economia Criativa por essa iniciativa oportuna e necessária”, endossa o escritor Antônio Torres, membro da Academia Brasileira de Letras na cadeira que foi de Jorge Amado antes. Tem 12 romances e um livro de contos publicados.
O Candango de Literatura entra agora na fase em que jurados vão ler o material, que ainda envolve as categorias “Prêmio Brasília” (prêmio local, com 71 inscrições), “Melhor Capa” (275), “Melhor Projeto Gráfico” (114), “Incentivo à leitura” (23) e “Pessoas com Deficiência” (PCD, uma inscrição).
Os vencedores das categorias de “Melhor Romance”, “Livro de Poesia”, “Livro de Contos” e “Autor Residente no DF” receberão R$ 30.000 (trinta mil reais) cada. Para as categorias “Melhor Capa” e “Projeto Gráfico”, o valor será de R$ 12 mil, e de R$ 15 mil para as categorias “Melhor Iniciativa de Incentivo à Leitura Geral” e PCD.
PRESTÍGIO ENTRE AUTORES
Nascido em Cuiabá, o poeta Nicolas Behr é um dos concorrentes do certame. Mudou-se para Brasília aos 10 anos com a família. Sua biografia registra que queria ser geólogo, mas as belezas do Cerrado, que o fizeram produzir mudas nativas, e o amor pelas palavras, que se combinam em poemas, o levaram para outras bandas.
“O Prêmio Candango de Literatura é muito importante. Não apenas para o Brasil, mas para os países de língua portuguesa. Principalmente, porque vai dar visibilidade para muita gente em suas várias categorias. É bom para o leitor, para o escritor, para o mercado editorial e a economia criativa”, diz o escritor.
A poeta Noélia Ribeiro diz que o Prêmio “representa excelente oportunidade para que nós escritoras e escritores de língua portuguesa tenhamos nossas obras reconhecidas. É uma bela iniciativa que alcançará destaque entre os prêmios literários nacionais e internacionais. Queremos nossos livros nas mãos de mais e mais leitores. Salve o Prêmio Candango de Literatura! Salve Brasília! Salve a poesia!”, entusiasma-se a pernambucana radicada em Brasília, que publicou os livros “Expectativa” (1982), “Atarantada” (Verbis, 2009), “Escalafobética” (Vidráguas, 2015) e “Espevitada” (Penalux, 2017).
Maurício Melo conta que “suou muito” para dar conta dos pedidos de informação que chegaram pelo e-mail do concurso, com solicitações de esclarecimentos, muitos dos quais acerca da data de publicação para a obra poder concorrer.
O edital frisa que só livros publicados em 2021 poderiam tomar parte. “Foi uma decisão do edital que teve como foco dar um panorama da produção literária recente”, defende. Um júri com 11 membros, entre professores, estudiosos e pessoas envolvidas com o ofício da escrita vão se debruçar a partir de agora para escolher os ganhadores.
Além dos prêmios em dinheiro, os contemplados vão ganhar um belo troféu, concebido por André Cerino, conhecido artista plástico e ilustrador nascido em Recife (PE) e também radicado na capital.
A escultura de 30 centímetros de altura e oito centímetros de largura, em bronze ou aço (a definição vai depender de orçamentos nas duas ligas, que serão entregues esta semana) inspira-se na obra de arte “Os Guerreiros”, de Bruno Giorgi, na Praça dos Três Poderes, conhecida popularmente como “Dois Candangos”.
A curadoria do I Prêmio Candango de Literatura é do escritor Ignácio de Loyola Brandão, contista, romancista, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras.
“Em momento de sufoco para a cultura brasileira, o Prêmio Candango nos faz respirar e acreditar que é possível enfrentar, seguir, criar, produzir”, diz o autor de “Zero” (1975), romance que foi proibido pela ditadura militar por denunciar a repressão e promover o desejo de liberdade.
O Candango também faz parte das ações da Secec que comemoram a escolha de Brasília como “Capital Ibero-Americana das Culturas de 2022”, em Madri, em novembro do ano passado, pela União das Cidades Capitais Ibero-Americanas (UCCI). A organização escolhe a cada ano uma capital que recebe a incumbência de promover a diversidade cultural ibero-americana, fomentar o diálogo intercultural e ações de intercâmbio.
CANDAGUINHO
A formação da vocação literária de Brasília também é objeto de fomento, com a edição do II Prêmio Candanguinho no segundo semestre. O certame vai premiar 30 poesias em língua portuguesa produzidas por crianças e adolescentes de 6 a 17 anos.
Será dividido em três categorias: de seis a 12 anos, de 13 a 17 anos e para pessoas com deficiência (PCD). Nesse momento, a Secec lançou edital para selecionar uma instituição que vai gerir a premiação por meio de termo de colaboração no valor de R$ 250 mil.
Para o diretor interino da Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), Rodrigo Mendes, “a nossa expectativa é de consolidação das políticas públicas de incentivo à escrita, à leitura e à produção literária”. Ele explica que, desta vez, a temática será livre.
A primeira edição do Candanguinho teve como tema “Mala do livro: uma viagem na cultura”.
Com conteúdo da Assessoria de Imprensa Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa