Juíza manda prefeito de São Domingos (GO) repintar bancos públicos e decreta indisponibilidade dos bens dele em mais de meio milhão de reais
A juíza Erika Barbosa, de São Domingos (GO), nordeste do estado, a pedido do Ministério Público, mandou o prefeito da cidade, Cleiton Gonçalves Martins, repintar bens públicos do município com dinheiro do próprio bolso, sob pena de multa de até R$ 200 mil e ainda decretou a indisponibilidade dos bens dele no valor de R$ 528.000.
A decisão se impôs após uma ação de improbidade administrativa e foi interposta pelo promotor Bernardo Monteiro Frayha.
Na peça acusatória, o promotor informa à juíza que o prefeito de São Domingos vem sendo apoiado pela deputada federal Magda Mofatto, filiada e líder do Partido Liberal (PL), que integra a base política do prefeito e que desde então, o Cleiton Martins vem realizando postagens na “internet” e eventos em promoção ao partido político, cuja deputada federal lhe presta apoio.
“Nesse sentido, em 2019 o Ministério Público constatou que o requerido promoveu vários eventos públicos valendo-se do nome e, em alguns deles, das cores do referido partido político.”
O representante do MP diz que de início, durante a cavalgada realizada em 2019 (“90ª Romaria de Bom Jesus”), evento público de relevância local, o prefeito utilizou as cores do Partido Liberal nos uniformes utilizados pelo público, com o nome e símbolo do município de São Domingos (GO).
Informou também que em dezembro de 2019, ele promoveu o encontro regional do Partido Liberal na cidade de São Domingos (GO) e entre o fim do ano de 2019 e o início do ano de 2020, realizou a pintura de bens públicos com as cores do Partido Liberal (PL), em nítida afronta ao ordenamento jurídico.
“Vale salientar que em 2018 o Ministério Público expediu Recomendação Administrativa ao requerido, alertando-o acerca da vedação de promoção pessoal e do caráter institucional e educativo das publicidades públicas.
Para o promotor Bernardo Monteiro Frayha, em
razão de o prefeito ter incorrido na prática de improbidade administrativa, o MP ajuizou a ação, com o objetivo de sanar a irregularidade e responsabilizar o requerido pela conduta ímproba.“Como dito acima, o requerido realizou a pintura de vários bens públicos utilizando as cores de partido político componente de sua base política. As cores utilizadas – vermelho e azul – estão completamente dissociadas das cores utilizadas para representar o município.
O promotor fundamentou dizendo que a conduta indica pretensão de associar sua administração aos eventos oficiais então desenvolvidas no município, se utilizando, ainda, de bens públicos para promoção política, em marketing político-administrativo, tendo em vista o local e a forma como estão pintados os bens públicos indicados acima, além da camiseta utilizada na 90ª Romaria de Bom Jesus – cavalgada tradicional de São Domingos (GO).
No mesmo documento, o MP afirma que o partido compõe a base política do chefe do Poder Executivo e que a regra veda o uso de bens públicos para a realização de propagandas que levem à promoção de autoridades ou servidores públicos, quer por meio da menção de nomes, quer pela adoção de símbolos, imagens ou mesmo cores a estabelecerem um liame pessoal entre aqueles e o objeto, ainda que com aparente caráter educativo, informativo ou de orientação social.
“Ainda que atendida a finalidade específica de educar, informar ou de orientar a sociedade, a publicidade oficial não pode veicular nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal, conducentes ao culto ao personalismo, desvio de finalidade que a norma constitucional visa coibir.
E partindo disso, disse que o fato foi comprovado em fotos.
Da mesma fora, afirma ela, os documentos apontam que, recentemente, vários logradouros públicos foram pintados de azul e vermelho.
“Conforme informações disponibilizadas pelo Ministério Público, noto que a bandeira do Município de São Domingos também possui as cores azul e vermelho, porém, há ainda as cores verde e amarelo.
Para a magistrada, tais elementos revelam a notória violação ao princípio da impessoalidade e a vedação à autopromoção.
A juíza diz que, mesmo advertida, o prefeito assumiu o risco de pintar logradouros públicos com as cores de seu novo partido político, violando a lei constitucional.