A visão míope da imprensa brasiliense sobre a tragédia do Nordeste de Goiás
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Quem lê os jornais de Brasília, sites ou assiste aos telejornais da capital federal imagina que apenas Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante (GO) fazem parte da Chapada dos Veadeiros e integram o Nordeste do estado.
Tudo porque, na cabeça de quem escreve os textos ou planeja a cobertura, só interessa aos brasilienses as informações sobre essas duas cidades, tradicionalmente, destinos turísticos dos moradores da capital quando vão à Chapada.
“Chuvas causam transtornos e afastam turistas em Cavalcante, na Chapada”, esta é chamada do jornal Metrópoles desta sexta-feira (7).
A TV Globo e a rádio CBN vão na mesma toada, assim como o Correio Braziliense.
Ignoram uma imensa tragédia, que há mais de um mês tem sucumbido diversos municípios, que tem Brasília como cidade irmã e de maior suporte. Todas elas a pouco mais de 300 km da capital federal.
Nessa tragédia, sem cobertura da imprensa de Brasília, há milhares de pessoas ilhadas, casas destruídas, grávidas carregadas de carrinho de mão, pontes e bueiros estourados, desvios de mais de 1.000 km para se chegar à capital federal, doentes impedidos de serem socorridos, barragens à beira de um colapso, como a do rio Paranã.
É um puxão de orelha sim.
Alguém tem que informar à imprensa brasiliense que a Chapada dos Veadeiros é bem mais do que ponto turístico. É mais do que Alto Paraíso e Cavalcante.
Aqui há pessoas e que vivem no Brasil ainda do século XX. Sem energia elétrica em suas casas, sem água encanada, sem saneamento básico, sem estradas asfaltadas e quando chove, o lamaçal dá a tônica. E nem estamos falando do flagelo pandêmico da Covid-19, dengue e chikungunya.
Diante do tamanho do desastre que passa o nordeste de Goiás e o sudeste do Tocantins, que estão a meros 400 km de Brasília, todas como região geoeconômica da capital, é pura miopia a ausência de cobertura para esse tristíssimo sofrimento, que tem muita contribuição da negligência governamental.
Aos desavisados, o Nordeste de Goiás, nas barbas do Planalto, é a região mais pobre do estado, com IDHs comparáveis aos dos países da África Subsaariana. Já foi conhecido como o corredor da miséria.
Essa região abrange 21 municípios: Alto Paraíso de Goiás, Alvorada do Norte, Buritinópolis, Campos Belos, Cavalcante, Colinas do Sul, Damianópolis, Divinópolis de Goiás, Flores de Goiás, Guarani de Goiás, Iaciara, Mambaí, Nova Roma, Monte Alegre de Goiás, São Domingos, São João D’Aliança, Simolândia, Sítio, Abadia, Vila Boa, Teresina de Goiás e Posse (GO).
Segundo dados do IMB (Instituto Mauro Borges), dos 10 municípios mais pobres do Estado, 6 estão no Nordeste Goiano, e dos 10 mais ricos, nenhum está região. Isso comprova os poucos investimentos e a pouca capacidade de produtividade da região.
Há uma necessidade de mais investimentos e a Universidade, além de uma primorosa participação da imprensa, pode ser um importante instrumento para correção de assimetrias criadas ao longo dos anos.
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