Inflação é fator decisivo para crescimento da desaprovação do governo Bolsonaro, indica pesquisa Genial/Quaest
A instabilidade econômica, com a inflação crescendo e a taxa de desemprego permanecendo alta, é o principal fator da queda da popularidade do governo do presidente Jair Bolsonaro.
O resultado aparece na quarta rodada da Pesquisa Genial/Quaest, na combinação de resultados entre os índices de avaliação do governo e o problema que os brasileiros consideram como o mais grave do país no momento.
Entre julho e outubro, a avaliação negativa do governo passou de 45% para 53%, enquanto a avaliação positiva caiu de 26% para 22%. No mesmo período, a preocupação com a economia em geral foi de 28% para 44%.
“Quando agregamos os índices relativos à economia, 69% dos entrevistados acreditam que houve uma piora de agosto para cá. E, se projetarmos os próximos 12 meses, 34% dizem que vai piorar, o que deixa clara a corrosão da expectativa no futuro econômico”, analisa o cientista político Jairo Nicolau, da Fundação Getúlio Vargas.
Pela primeira vez, a Pesquisa Genial/Quaest apresentou aos entrevistados os nomes dos ex-ministros Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta como candidatos à Presidência em 2022, ao lado de outros nomes que circulam no meio político, como a empresária Luiza Trajano, os senadores Rodrigo Pacheco e Alessandro Vieira, o apresentador José Luiz Datena e os governadores Eduardo Leite e João Dória Todos foram analisados em comparação aos três candidatos já declarados: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes.
Em qualquer cenário, Lula aparece 20 pontos à frente do atual presidente.
Em uma disputa de segundo turno, o candidato do PT também venceria qualquer um dos adversários incluídos na pesquisa. A menor diferença de pontos seria entre Lula (49%) e Ciro (26). Entre Lula e Bolsonaro, o resultado, segundo o levantamento, feito em 2 mil coletas domiciliares em 123 cidades, seria 53% a 29%, respectivamente.
Uma pergunta incluída pela primeira vez na Pesquisa Genial/Quaest situa as perspectivas de um candidato da chamada terceira via.
Os eleitores foram estimulados a responder sobre conhecimento e voto: “conhece e votaria”, “conhecia e poderia votar”, “não conhece” e “conhece e não votaria”. É uma forma de avaliar de maneira mais profunda os índices de rejeição de cada um – os mais citados em “conhece e não votaria”.
Nesta rodada, 65% dos entrevistados afirmaram que conhecem e não votariam em Bolsonaro. Esse índice é de 61% para Dória; de 59% para Moro; de 56% para Ciro e de 52% para Datena. Lula foi citado por 43% dos eleitores. Em contrapartida, Pacheco (53%), Leite (60%), Trajano (62%) e Vieira (76%) são os menos conhecidos.
“Esses são os candidatos que, hoje, têm o maior potencial de crescimento, de acordo com a maneira como se apresentarem aos eleitores”, explica o cientista político.
O levantamento também avaliou como o brasileiro enxerga hoje a pandemia do coronavírus. O avanço na vacinação mostrou efeito e a questão sanitária começa a ceder espaço justamente para a economia.
Em julho, a preocupação com a saúde/pandemia era de 41% — agora, é de 24%. Na lista de problemas, a corrupção aparece apenas em quarto lugar, no levantamento de outubro, com 10%, em empate técnico com outros temas, como pobreza e desigualdade e inflação, ambos com 9%.
“Em 2018, a corrupção chegou a ser o segundo tema mais citado pelos brasileiros. Não é mais. E o crescimento da inquietação em relação à inflação, que foi de 2% para 9% entre julho e outubro, reforça a ideia de que é a economia que está derretendo a popularidade do governo”, afirma Nicolau.
Essa queda se mostra mais acentuada entre os homens: hoje, 50% dos homens consideram pior o governo, contra 41% em julho. Entre as mulheres, eram 48% em julho e são 55% agora.
Ao se analisar a escolaridade, a reprovação passou de 45% para 54% na faixa que tem até o fundamental completo e que corresponde a quase a metade da população brasileira. A tendência se repete no recorte de renda. Na faixa que recebe até dois salários mínimos e que representa 48% das famílias brasileiras, segundo a última PNAD do IBGE, 58% dos entrevistados avaliam negativamente o governo, contra 46% em julho.
A Pesquisa Genial/Quaest ouviu ainda os brasileiros sobre os eventos de Sete de Setembro, sobre o recuo de Bolsonaro com a carta escrita pelo ex-presidente Michel Temer e sobre a entrevista à Revista Veja. A pergunta era se os eleitores acharam que ele errou ou acertou em recuar.
No geral, 39% acharam que acertou e outros 44% que errou. Entre os eleitores de Bolsonaro, porém, 71% consideram que ele acertou ao adotar um tom mais moderado. Já no grupo de eleitores de Lula, 61% afirmam que ele errou ao recuar.
“O governo deu muita ênfase a temas ideológicos, como o fim do voto impresso, que não são prioridade para a população. Neste momento, há uma indicação de que, com a deterioração da economia, as chances de reeleição se reduziram muito. O fim da pandemia e uma diminuição da inflação, porém, podem mudar a percepção das pessoas. Agora, a questão que está pegando não é ideológica. É de cunho econômico. Essa é a dificuldade que o presidente Bolsonaro enfrenta e enfrentará”, observa Nicolau.
Metodologia
A Pesquisa Genial/Quaest, que trabalha com metodologia inédita de acompanhamento da opinião pública brasileira, começou em julho deste ano e se estenderá até novembro de 2022. No total, serão 24 rodadas de pesquisa nacional, cada uma delas implicando em duas mil coletas domiciliares face a face, realizadas nas 27 unidades da federação, abrangendo 123 municípios,
A partir das entrevistas domiciliares, é feita a decupagem e análise dos dados por sexo, idade, escolaridade, renda e População Economicamente Ativa (PEA). A pesquisa também receberá tratamento estatístico de pós-estratificação para reduzir as chances de viés de seleção e de não resposta. Trata-se do primeiro levantamento feito em âmbito nacional que combina coleta domiciliar com modelagem em pós-estratificação.
O nível de confiança da pesquisa Genial/Quaest é de 95%, com margem de erro máxima de 3%, para cima ou para baixo, em relação ao total da amostra.
Amanhã (6/10), às 10h, José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial; Felipe Nunes, coordenador da pesquisa e CEO da Quaest; e Jairo Nicolau, cientista político da FGV; participam de live para comentar o resultado da pesquisa e apontar os dados mais significativos. A transmissão poderá ser acompanhada pelo canal da Genial no YouTube.
Sobre a Genial Investimentos
A Genial é uma plataforma de investimentos que tem como objetivo facilitar o acesso ao mercado financeiro, oferecendo os melhores produtos do mercado. Sempre em busca de excelência e inovação, possui hoje mais de R$ 50 bilhões de ativos sob custódia, 450 mil clientes e mais de 20 anos de história. É uma plataforma que acredita em simplicidade e facilidade na hora de investir, por isso, é 100% digital, mas sempre humana.
Sobre a Quaest
A Quaest é uma empresa de inteligência de dados que alia rigor científico e tecnologia para gerar insights que levem os clientes a tomar decisões estratégicas informadas. Com 6 anos de experiência em campanhas políticas presidenciais, estaduais e municipais, reúne um time de doutores e mestres das mais diversas áreas do conhecimento.
O fundador e presidente da Quaest é Felipe Nunes, Ph.D. em ciência política e mestre em estatística pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), professor da UFMG e presidente do Centro de Estudos Legislativos. Ele é o inventor do Índice de Popularidade Digital (IPD).