Mãe luta há três meses para conseguir cirurgia na perna para filho de 15 anos que sonha em voltar a jogar bola, em Posse (GO)
Luciana Conceição Araújo, de 38 anos, luta há três meses para conseguir uma cirurgia na rede pública para o filho de 15 anos, que tem uma doença que causa a deformação da perna.
Moradora de Posse, no nordeste de Goiás, a mãe começou uma campanha para pagar o procedimento para Carlos Vinícius de Araújo Oliveira num hospital particular.
“Os médicos falam que ele precisa fazer a cirurgia com urgência. Já tinha que ter feito. Mesmo ele fazendo a cirurgia agora, ainda temos que lutar muito para a perna dele ficar 100%. Se ele fizer agora, pode voltar ao normal, por isso, estamos correndo contra o tempo”, contou a mãe.
Apesar da urgência relatada pela mãe, o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr Henrique Santillo (Crer), onde Carlos já fez consulta, disse que o procedimento cirúrgico do garoto, chamado de Osteotomia da Tíbia, é considerado “eletivo”.
A unidade disse ainda que a Autorização de Internação Hospitalar (AIH), que deve ser feita pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS), ainda não consta no sistema do hospital.
Já a SMS de Goiânia, responsável pela Central de Regulação, disse que já recebeu o encaminhamento do paciente, o qual já foi avaliado, mas que aguarda o encaminhamento ao prestador, que não está realizando cirurgias eletivas neste momento.
Enquanto as cirurgias eletivas estão suspensas por portaria da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), o sonho de Carlos Vinícius é poder voltar a ter uma vida normal e jogar bola.
“Meu sonho é voltar a jogar bola. Não posso fazer nenhum exercício, não posso andar muito, estou impossibilitado de fazer quase tudo. Praticamente, fico dentro de casa a semana toda, deitado, não posso fazer nada”, desabafou o garoto.
Diagnóstico
Carlos Vinicius foi diagnosticado em fevereiro de 2020 com a doença de Blount, que altera o desenvolvimento da perna esquerda dele. Luciana conta que o filho sempre foi muito saudável e, apesar de já ter sentido algumas dores na perna, eles não desconfiavam que poderia ter alguma enfermidade.
“Ele nunca foi de estar em médico, nem gripe ele pegava. Mas ele sempre foi louco por bola e jogava todos os dias. E ele já queixava de dor nessa perna, mas pensávamos que era por causa da bola. No ano passado, ele foi passar as férias na casa da minha irmã, na Bahia, e lá ele começou a entortar a perna. Nós fomos investigar. Só que, quando descobrimos, já estava entortando cada dia mais”, contou.
Corrida pela cirurgia
Luciana disse que, após o diagnóstico, foi com o filho a diversas consultas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e que, no dia 31 de março desde ano, o levou ao Crer, onde ele consultou com um ortopedista. No dia seguinte, a mãe levou todos os documentos para a Secretaria Municipal de Saúde de Posse e, desde então, aguarda a marcação da cirurgia.
A reportagem também entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Posse, cidade onde reside a família, por ligação e e-mail enviado às 15h31, e aguarda retorno.
Com a demora para a realização do procedimento, que é considerado pelo SUS como “eletivo”, Luciana decidiu fazer um orçamento com um ortopedista pela rede particular e descobriu que a cirurgia custa mais de R$ 10 mil. Como a renda da família é de apenas um salário mínimo, fruto de seu trabalho como faxineira, ela começou a fazer uma campanha para tentar arrecadar dinheiro e fazer o procedimento.
Segundo a mãe, o quanto antes o filho passar pela cirurgia, maiores as chances da perna dele voltar ao normal. O sonho de Luciana é que Carlos “volte a ser quem era antes”.
“Se ele não fizer a cirurgia, ele só vai piorando. Os médicos aqui de Posse falaram: ‘mãezinha, o caso do seu filho é para ontem. Já até passou da hora’. Cheguei em Goiânia e escutei a mesma coisa. Quanto mais velho ele estiver, mais difícil é para ele voltar ao normal”, disse.
Veja a íntegra da nota do Crer
“O CRER identificou que o paciente realizou consulta no CRER no dia 31/03/2021 e, na ocasião, foi solicitada a Autorização de Internação Hospitalar (AIH) para cirurgia eletiva de Osteotomia da Tíbia. No entanto, não foi evidenciada autorização da AIH junto a Regulação da Secretaria Municipal de Saúde. Para a realização do procedimento cirúrgico é preciso que a AIH seja encaminhada ao CRER autorizada pela SMS e, posteriormente, seguindo os critérios de elegibilidade (tempo de autorização ou critério clínico), daremos andamento aos trâmites para o agendamento da cirurgia.
Ademais, há que considerar que em virtude do atual cenário epidemiológico relacionado à pandemia COVID-19 e, o aumento das taxas de ocupação dos leitos de UTI, os procedimentos cirúrgicos eletivos foram suspensos, conforme Portaria 312/2021-SES. Portanto, por tratar-se de procedimento cirúrgico eletivo aplica-se às condições da Portaria.
Sem mais colocamo-nos à disposição para mais esclarecimentos”.
Fonte: G1