A Crônica da Tum: Interior resiste em mudar hábitos e o Coronga, de carona com o Neném, chega a Aurora
Por Roberta Tum, do T1 Notícias
Recebi nesta quarta-feira, 6, alguns áudios de Aurora do Tocantins, a bela cidadezinha no Sudeste do Estado, pra lá de Taguatinga e antes do Combinado. Sede do Azuis, onde o Chef e amigo Osmane tem seu restaurante e Pousada.
Faltou dizer: “Niete, o Coronga chegou aqui, mulher, cuidado!”
Mas meu compadre é homem sério e não trata o vírus na brincadeira. Dos três áudios, o dele foi gravado no grupo da família, onde alerta que “agora a coisa ficou séria”.
O motivo: o Neném. Apelido de um dos filhos da cidade, que trabalha como enfermeiro em Campos Belos. Pois então. O Neném andou cuidando de um senhor de idade, portador do danado do “Coronga”. Ficou na assistência a este senhor até sua última hora, quando o paciente veio a óbito, vítima do Corona Vírus.
Neném, óbvio, fez o teste. Mas…. sempre tem um mas…voltou para Aurora antes do resultado. E danou juntar os amigos, os parentes. Casa de um, casa de outro, churrasco. Toca aqui, abraça alí. Foi no Balneário, confraternizou em bar. Enfim, o maior rolê.
E… saiu o resultado do teste do Neném. Positivo.
A pequena e pacata Aurora amanheceu hoje em pânico. E o recado do meu compadre para a família transpareceu a preocupação: “Olha, cêis tudo agora fica quietinho, usa máscara. Tem que esperar pra ver o que vai dar”.
Antes disto, outra situação havia deixado a comunidade amedrontada. Naquele dia, avisada da suspeita, decidi esperar o resultado dos testes de duas pessoas, mas mandei um áudio para minha comadre Eunice:
Pois bem. Chegou. Agora, pelas mãos do Neném, que óbvio, não tinha a intenção. Que, profissional de saúde que é, corre mais risco que os outros. Mas… tem sempre um mas.
Quem mais entende desse assunto, é quem mais deve redobrar os cuidados e não ter vergonha de advertir os outros. Agora, além do meu compadre, diversos outros aurorenses manifestam seus recados e suas preocupações em áudios de Whatsapp.
Nos próximos dias saberemos o impacto da “passeadinha” que o Sars-Cov-2 deu em Aurora. Por hora, resta refletir, que o vírus está se espalhando no interior muito pela resistência do sertanejo tocantinense em se precaver.
Poucos usam máscaras e bem menos ainda tomam o cuidado de evitar contato físico, festa de aniversário, churrasco e velório.
Os jovens, semi-deuses, acham que estão imunes.
Estes e outros preconceitos, refletem a ignorância sobre um tema muito, mas muito sério.
Já são 24 municípios do interior do Estado, com a infecção detectada. Nos próximos dias, a tendência é do vírus se espalhar mais ainda. Ou melhor, ser detectado, nos exames que começam a chegar nas unidades de sáude em todas as cidades do Estado.
Em tempo, o governo refluiu da danada flexibilização recomendada naquele decreto de 15 dias atrás.
Houve uma mobilização pela contratação de leitos. Melhor. Mas pode ser pouco, a conferir no que os últimos 15 dias de exposição dos tocantinenses nas ruas e em todo lugar, vai render ainda em novos casos.
Por enquanto vou torcendo para que o estrago do rolê do Neném em Aurora não chegue nos idosos por lá. E que o povo pacato do nosso interior desperte para o perigo que é esta pandemia.
O interior não tem recursos médicos e hospitalares nem para quem tem dinheiro suficiente para pagar diária de UTI particular. O jeito é cuidar. E ficar em casa…