Escola integral: um pedido de socorro
Escola integral é solução |
Por Dinomar Miranda
É inequívoco o crescimento social e econômico do Brasil nos últimos dez anos.
Enfim, há uma maior divisão do bolo, como desejavam os velhos economistas. Uma divisão ainda injusta, é verdade, mas há uma melhor distribuição da renda.
Entretanto, nosso país está se esbarrando numa necessidade das mais urgentes e inadiáveis: a melhoria na educação e instrução de seu povo, tanto em quantidade de horas-aulas, quanto em qualidade e eficiência.
Em 1996, quando eu ainda morava em Recife e esperava a burocracia de um emplacamento de um automóvel no Dentran local, observava o corre-corre de dezenas de crianças de uma localidade vizinha à repartição.
Eram crianças pobres de uma comunidade chamada de “favela do Detran”. Era quase dez horas da manhã, e aquela rua “coalhava” de crianças no vai e vem da infância, driblando as valas de esgotos que serpenteavam as vielas.
Todas ociosas e a espera de uma oportunidade, seja ela do bem e do mal.
A grande maioria tinham entre 6 e 10 anos. Cabeça fértil a espera de serem cultivadas e germinadas.
E infelizmente, a oportunidade que se apresentava não era nada interessante: pais ausentes, Estado falho, escola maltrapilha, bandidos exemplares, drogas, tráfico, roubos, assaltos, malandragem…. tudo que a “rua” pode oferecer.
Naquela hora, veio-me à cabeça o que se poderia fazer para “salvar” aquelas crianças do destino tão trágico que se desenhava.
A única solução vislumbrada naquele instante era uma fórmula tão velha, mas inquietantemente, a mais eficiente: educação.
Só uma estrutura escolar, em regime integral, seria capaz de mudar o destino nada agradável estendido àqueles pequenos brasileiros.
Cheguei a comentar, com a pessoa que me acompanhava, dos benefícios de uma escola integral.
Todas aquelas crianças teriam quatro refeições diárias; educação regular em um dos turnos e no seguinte atividades lúdicas, como esporte, lazer, cultura, música, teatro e mais do que isso, teria a oportunidade de conhecer um mundo diferente daquele.
Abateu-me a alma o pesar, que persegue-me até hoje, de não poder fazer nada, absolutamente ou quem sabe alguma coisa. Mas nada fiz.
Um pesar que continua a me atormentar e que passava em brancas nuvens na consciência ética de quem tinha a obrigação de desenhar uma vida melhor para os pequeninos.
Quem deveria pensar em educação integral, não achava a mesma coisa ou não tinha peito suficiente para implantá-la em todos os bairros e em todos os municípios do país.
Quinze anos se passaram.
A pergunta óbvia não se cala.
E aquelas dezenas de crianças eternizadas em minha memória? Como estão?
E aquelas dezenas de crianças eternizadas em minha memória? Como estão?
Hoje são adultos, entre 20 e 25 anos.
Quais os destinos de cada uma?
Não as conheci pessoalmente, mas arrisco-me a dizer que muitas delas estão hoje, senão a maioria, ocupadas no subemprego, envolvidas com o tráfico de drogas local ou hospedadas nos presídios do estado.
Quanta diferença teria feito a escola integral na vida dessas crianças.
Presidenta Dilma, salve nossas crianças. Implante o mais rápido possível a escola integral em todos os cantos deste país.
Não é difícil.
Dinheiro há de sobra. Invista hoje nos pequenos e diminua, no futuro, tanto sofrimento social.
Dizem que o Brasil é hoje o país do presente, a terra do pré-sal, celeiro do mundo. Mas do que adianta, se não é competente nem mesmo para instruir seus filhos.