Dois de julho: O “7 de setembro” dos baianos
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Pouca gente no Brasil (fora os baianos) dá importância ao feriado de 2 de julho, comemorado no estado da Bahia.
Segundo o jornalista e historiador Laurentino Gomes, nenhum estado brasileiro comemora a Independência do Brasil com tanto entusiamo quanto a Bahia.
A diferença começa na data: enquanto no restante do país a comemoração é no 7 de setembro, lá a festa cívica é em 2 de julho.
E por quê?
Laurentino Gomes explica. Segundo ele, a data remonta a 1823, nove meses depois do Grito do Ipiranga.
Essa é data da expulsão dos portugueses de Salvador, depois de uma batalha de centenas de mortos.
A festa só perde em grandiosidade para o carnaval.
Antes do amanhecer, todos os anos, milhares de pessoas saem às ruas para participar dos festejos.
O desfile começa às nove horas com o hasteamento das bandeiras em frente ao Panteão da Independência no bairro da Lapa e segue ladeiras até o Campo Grande, já no final da tarde.
“Em todo o percurso, moradores enfeitam suas casas, estendem faixas sobre as ruas e reúnem amigos para celebrar.
As alegorias misturam elementos de festa cívica, carnaval e sincretismo religioso”, escreve.
O carro principal mostra o caboclo, símbolo do sentimento nativista, matando uma serpente, representação da tirania portuguesa de 1822.
“Todo ano o Caboclo aparece com novos adereços incorporados do candomblé , como colares e pulseiras.”
De acordo com o historiador, os baianos têm bons motivos para celebrar.
Foram eles os brasileiros que mais lutaram e mais sofreram pela Independência do Brasil.
A guerra contra os portugueses durou um ano e cinco meses, mobilizou mais de 16 mil homens, só do lado brasileiro, sendo a grande maioria negros escravos.
O dia 2 de julho de 1823 foi único.
Foi nesta data, após intensos combates, a exemplo de Pirajá e Itaparica, que Portugal deixou de vez o Brasil.
“Trezentos anos depois da chegada de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro (na mesma Bahia), a esquadra lusitana (que até então mantinha Salvador sob domínio português, mesmo após o 7 de setembro) singrava os mesmos mares de volta para casa.
Deixava para traz uma colônia que em três séculos enriquecera e prosperara até ao ponto de se tornar independente.
Na fuga, não ficou nenhum combatente português para trás.
Os navios levaram entre 10 e 12 mil pessoas, curiosamente, a mesma quantidade vinda de Lisboa, 13 anos antes, com a Corte de D. João VI.
Ali mesmo, ao chegar em 1808 (em Salvador) o então príncipe regente D. João decretara a abertura dos portos iniciando o processo irreversível de separação entre Brasil e Portugal.
Em 2 de julho, o ciclo se fechou.
Com textos do livro “1822”, de Laurentino Gomes.