Dia histórico na comunidade quilombola: ministros entregam títulos de 31 mil hectares aos Kalungas

Laudemir Muller recebe foliões

Dona Procópia, aos 81 anos, 
fez parte da luta 

Por VALMIR ‘CRISPIM”
A comunidade quilombola
Kalunga, em Goiás, recebeu na tarde desta terça-feira (30), a visita dos ministros de
Estado Laudemir Muller, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, e de Luiza Bairros, da Secretaria Especial de Promoção da
Igualdade Racial. 

Os ministros foram à comunidade entregar o título de
propriedade de 31 mil hectares de terras, localizadas nos municípios de
Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás. 



Os povos Kalunga dos
três municípios reuniram-se na localidade do Bom Jardim, em Monte Alegre de Goiás, para
receber das mãos dos ministros os documentos de propriedade da terra.

Foi um momento único na
história dos Povos Kalunga, porque significa o resultado de mais de três séculos
de luta pela consolidação do território, conforme deixou claro os vários oradores
do evento. 



Uma das oradoras foi Dona Procópia, que aos 81 anos idade, emocionou
a todos com seu exemplo de cidadania e civismo. 

Em um discurso forte e
contundente, ela lembrou das viagens lideradas por ela na busca de reconhecimento
do Território Kalunga. Para ela, o diferencial dessa conquista foi a luta
coletiva dos Povos Kalunga: “de nada adianta estar bem, se o vizinho
do outro lado do Paranã não tiver em condições semelhantes”.

Depois de quase quatro
décadas de luta pelo território e de sua gente, aquele era o momento de passar
definitivamente o bastão para os mais jovens, afirmou Dona Procópia, mencionando
o atual presidente da Associação Quilombo Kalunga Vilma Costa, jovem que hoje
está a frente da associação. 



A líder desejou forças ao novo presidente na representação
do seu povo e pediu o apoio da comunidade nas lutas que serão lideradas por ele.

Em discurso emocionado
Vilmar Costa, presidente da Associação Quilombo Kalunga reconheceu a trajetória
de luta dos que o antecederam no cargo, enfatizando que todos foram importantes
nessa caminhada. 



Para Vilmar, essa conquista significa novo ânimo e força para
continuar lutando para reduzir as muitas necessidades existentes no Quilombo
Kalunga, citando como exemplo as estradas de acesso ao território e a falta de
escolas de ensino médio. 



O presidente cobrou das autoridades o
compromisso do governo em consolidar as políticas públicas de inclusão
produtiva e geração de renda ao Povo Kalunga.

A emoção tomou conta do
público no discurso da vereadora Ester Fernandes de Teresina de Goiás. 



Ela lembrou
da luta, inicia no início na década de 1980, dos companheiros presentes como Tico
Kalunga e da descrença de muitos que esse dia chegaria. 



Segundo ela, o que estava
ocorrendo naquele dia era o resultado de muitos anos de trabalho, de
portas fechadas, de lágrimas esperança. 



Emocionada, a líder Kalunga teve seu
discurso interrompido várias vezes pelos aplausos e reconhecimento do público,
principalmente quando cobrou do Ministro Laudemir Muller a desapropriação das
áreas prioritárias à comunidade. 



“São áreas essenciais à prática da agricultura
e a preservação ambiental, que ainda estão de posse de fazendeiros da região,”
disse ela.

Os dois ministros
presentes ao evento encaminharam seus discursos na mesma direção, mostrando o
compromisso e a disposição do Governo Federal em consolidar os territórios
quilombolas em todo o país, com políticas de geração de renda e inclusão
produtiva. 

Não menos emocionada que os demais oradores que a antecederam, a ministra
Chefe da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial Luiza Bairros lembrou da
luta do movimento negro para o reconhecimento e a posse dos territórios
tradicionalmente ocupados. 

Segundo a ministra, aquele era um momento de alegria,
mas acima de tudo de compromisso do governo em não arredar de suas concepções sobre
a necessidade de consolidação desses territórios. 



A ministra compromete-se a caminhar junto com os Kalungas em suas prioridade, em especial, na luta por melhores condições de infraestrutura no acesso à comunidade.

Após receber a folia
que girava na comunidade, o ministro do Desenvolvimento Agrário Laudemir Muller
falou aos presentes. Descontraído e muito feliz, ele fez a entrega dos
documentos de posse ao presidente da Associação Quilombo Kalunga Vilmar Costa,
se colocando como parceiro da associação nas lutas futuras. 

Em seu discurso, Leudemir Muller fez questão de enfatizar o avanço das políticas públicas
(incluindo desapropriação e inclusão produtiva), das comunidades tradicionais
brasileiras. 



Para ele, a entrega do título aos Kalunga é parte de um
grupo de ações do Governo Federal em benefício das minorias, em especial às
comunidades Quilombolas.



O diferencial, segundo o
ministro, foi a escolha feita há doze anos atrás pela população brasileira, com
a eleição do Presidente Lula, que esteve na Comunidade em 2004, quando lançou o
Programa Brasil Quilombola. 



“Esse compromisso  é uma prioridade do
Governo da Presidenta Dilma Roussef”.

Após o discurso, o ministro Laudemir Muller atendeu gentilmente ao pedido de entrevista desse Blog,
respondendo a várias questões, dentre elas a necessidades de disponibilizar a política de Assistência Técnica e Extensão Rural na comunidade. 



Conforme o
ministro, a comunidade está inserida no Programa Brasil Sem Miséria e já há uma
empresa contratada para prestar assistência, inclusive disponibilizando R$
2.400,00 para início da atividade produtiva. 
 
O evento foi um momento
histórico não apenas para a Comunidade Quilombola Kalunga, mas ao país como um
todo. Estávamos ali (RE)construindo a história do Brasil. Todos que estiveram
nessa luta e participaram do evento deram sua contribuição. 

Para esse escriba, bisneto de escravos foi um
momento especial, pois presenciei o resultado de uma luta de mais de três séculos,
e que se concretiza pela persistência de pessoas como Cirilo Rosa, Dona
Procópia, Tico Kalunga, Vilmar Costa, Maria Helena, Ester Fernandes, enfim, de
toda uma comunidade que não desistiu de lutar pela reparação dos danos causados
aos seus antepassados, mas acima de tudo que olham para o futuro de cabeça
erguida e com muita esperança.

Laudemir Muller recebe o repórter Valmir Crispim

e demais jornalistas

VALMIR ‘CRISPIM” SANTOS
Geógrafo
e Agente de Fiscalização Agropecuária

Mestrando
em Geografia pela Universidade Federal de Goiás

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