Revista Encontros: “Um novo cenário na Chapada”
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Os turistas colombianos Rafael Bermudez e Ana Horta acreditam que o calçamento das ruas não afetará a beleza do lugar: desenvolvimento bem-vindo |
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Marcos Coimbra, guia e empresário, mora há 20 anos em São Jorge e aprova a mudança: “Comer em um restaurante tornou-se terrível, pois a terra sobe e vem para cima do prato. Que visitante acha isso charmoso? “ |
Publicação original da Revista Encontros,
Desde dezembro de 2013, a pacata Vila de São Jorge (GO), o portal de entrada para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, a 210 km de Brasília, vive um grande debate.
Alguns dias antes do Natal, o prefeito de Alto Paraíso (GO), Álan Gonçalves Barbosa, convocou o distrito de 700 habitantes para anunciar mudanças. Poucos moradores compareceram.
Uma parte estava nas cidades de origem para passar o feriado com as famílias. Os que ficaram não se comoveram com o pedido do político. Por isso, o quórum foi baixo.
Ficou a cargo de quem participou da reunião espalhar pela cidade, que, depois de dez anos de promessas, as ruas de terra batida iam dar lugar a bloquetes de cimento. Não só isso: a estrada de terra de 27 km, que liga a vila a Alto Paraíso, terminaria de ser asfaltada. São Jorge nunca mais seria a mesma.
Conforme as pessoas voltavam do feriado, o boato se espalhava – e aumentava. No início, muitos se posicionaram contra as interferências no visual da cidade. Pois estavam tomados pelo receio de afastar os turistas que buscam um roteiro rústico – afinal, a principal atividade econômica do local é o ecoturismo. Mas logo o medo foi substituído por satisfação.
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Obras de asfaltamento da rodovia que liga Alto Paraíso ao povoado de São Jorge: eco- nomia de 40 minutos na viagem |

De uns anos para cá, aumentou o número de carros que circulam pelas estreitas ruas e, quando passam – normalmente em alta velocidade –, levantam a poeira. “Comer em um restaurante tornou-se terrível, pois a terra sobe e vem para cima do prato. Que visitante acha isso charmoso?”, avalia Marcos Brasil, há 20 anos morador do local e dono de uma loja de suvenires.
Além disso, com as novas medidas, seria o fim das infecções respiratórias por conta da terra batida na temporada de seca, a diminuição da sujeira dentro das casas e comércios, o fim das valas de um metro na época de chuva e também o chamariz para um público mais refinado e resistente à simplicidade da vila.
O item mais importante na lista, entretanto, não afeta apenas o dia a dia dos moradores e turistas, mas toda a preservação da Chapada dos Veadeiros.
Na época de chuva, o cascalho jogado nas ruas, para segurar a poeira, cai dentro do córrego Preguiça, que margeia o distrito.
O riacho está assoreando. E não é o único afetado. Os detritos estão desembocando nas águas que correm no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. “A obra virou uma questão de sobrevivência para a reserva natural”, avalia Carla Guaitanele, chefe do local. Por isso, a administração do parque tomou o importante papel de fiscalizar os acontecimentos.
Em fevereiro, eles notaram que os funcionários das empreiteiras se instalaram e em São Jorge. Começaram a produzir os bloquetes de cimento de 12 lados, fazer as obras de drenagem e também o asfalto na rodovia.
Outdoors foram montados, espalhando as boas novas e causando uma pequena comoção nas ruelas. Cada uma das medidas, entretanto, foi licenciada para uma empresa diferente e, por isso, tomou uma velocidade diversa. No distrito, por enquanto, apenas construção do duto para a escoação da água está nos finalmentes.
Mas, mesmo assim, ainda falta subir uma barragem para que não despenquem com as chuvas e piorem o asseoramento do corrégo Preguiça – se a edificação não for finalizada a tempo, a empresa corre o risco de ser multada pelo ICMBio, administrador do Parque Nacional.

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A dúvida de Cecilio Gomes, da Asso- ciação dos Condutores de Visitantes: “Estamos preparados para o aumento de viajantes?” |