Urgente: O fim da Chapada dos Veadeiros? essa não é a energia que queremos, senhores políticos


Pretende-se instalar PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) em Alto Paraíso de Goiás – Chapada dos Veadeiros -, nordeste de Goiás.
Essas usinas podem ser pequenas na geração de energia, mas seus impactos são enormes.
Depois de apresentar em São João da Aliança seu estudo para a instalação de 22 pequenas centrais hidrelétricas no rio Tocantinzinho e afluentes e receber apoio da população e prefeitura daquele município goiano, a Rio das Almas Companhia Energética (Rialma) topou com resistência organizada às barragens por ambientalistas em Alto Paraíso.
Segundo a Rialma, que pertence à família do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM/GO), as hidrelétricas irão melhorar o fornecimento regional de eletricidade e a energia excedente será vendida. Se for todo construído, o conjunto de PCHs vai gerar 200 Megawatts. Parte será distribuída nas cidades da região e outra parte conectada ao sistema nacional.
Secretário de Desenvolvimento de Alto Paraíso, Jerson Nagel lembra que a barragem de Serra da Mesa muito prometeu e pouco melhorou o abastecimento energético regional. Para ele, a bacia do Tocantinzinho seria melhor aproveitada com cultivo de frutas e agricultura de pequeno porte. “São empreendimentos permanentes, com menor impacto”, avaliou o agricultor orgânico. “Mas a prefeitura quer compatibilizar todas as atividades para elevar a arrecadação do município”, comentou.
Para Cesar Victor do Espírito Santo, superintendente-executivo da Funatura, ONG que atua há duas décadas em Veadeiros, nenhuma PCH pode ser plantada na região. O principal motivo é o impacto sobre o pato-mergulhão, espécie ameaçada em nível mundial que só vive em santuários ecológicos de águas cristalinas. “Não há meio termo para a preservação da espécie”, disse o engenheiro florestal.

De corpo esguio e plumagem cinzenta, o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) habita águas puras e cristalinas em pontos isolados do Cerrado e é uma das aves mais ameaçadas do planeta. Em outros países, sua imagem já estaria estampada em camisetas, bonés e cartazes, em plena campanha por sua sobrevivência. Mas no Brasil é diferente. Por aqui temos espécies para dar, vender e ameaçar de extermínio,seja com desmatamento ou geração de energia.
Estudos de campo registraram em locais isolados o pato-mergulhão, inclusive no local programado para uma barragem. Ele foi localizado nos rios São Miguel, afluente do rio Tocantinzinho, dos Couros e Preto, em algumas áreas hoje fora do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Antigamente, a unidade de conservação tinha dez vezes seu tamanho atual.
Conforme ambientalistas, as barragens irão prejudicar quem atua ou pensa em trabalhar com turismo, afetar reservas particulares e alterar as características naturais dos rios, essenciais para a sobrevivência do pato e até deixar debaixo d’água locais que ele usa para reprodução.
A espécie aproveita buracos em pedras, terra e árvores para construir ninhos com as penas do próprio peito.
Entre 2007 e este ano especialistas percorreram 176 quilômetros de rios e afluentes. Comprovaram que nas bacias dos rios Tocantinzinho, Preto e das Pedras estão as maiores quantidades da rara espécie. “Mas em cada rio, os grupos mal somaram uma dezena de indivíduos”, ressaltou.
O Rio Tocantinzinho já fornece água para a usina de Serra da Mesa, mas tem outras 16 pequenas usinas previstas para seu leito principal e afluentes. Uma delas pode afogar a cachoeira Bonita, dentro de uma reserva particular de mesmo nome.

Extremamente criterioso com a qualidade da água onde vive, o pato-mergulhão é um indicador de boa saúde dos rios e córregos e uma bandeira pela preservação do Cerrado e de inúmeras espécies que dele dependem.
No Brasil, o simpático emplumado só vive no Cerrado, bioma que perdeu metade do verde que exibia em tempos mais vigorosos e é o alvo preferido do governo para projetos desenvolvimentistas sem tempero ambiental fora da Amazônia. O pato ainda pode ser visto no Jalapão, Chapada dos Veadeiros, Serra da Canastra, região de Patrocínio (MG).
Com a extinção do Mergus australis na Nova Zelândia, após a colonização inglesa, o pato-mergulhão tornou-se o único representante desse grupo de patos no Hemisfério Sul. Devem existir pouco mais de 250 exemplares da espécie no mundo, todos no Brasil.
Ambientalistas afirmam que outras espécies e porções do Cerrado são ameaçadas pelas obras, projetadas para áreas bem preservadas ao sul do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
A bacia do rio Tocantinzinho tem 4.800 quilômetros quadrados e 2,6 mil quilômetros de mananciais. Toda a região tem blocos demarcados para exploração de minerais como manganês. A maioria das águas tem baixos níveis de poluição, provocados na sua maioria pela agropecuária. Outros pontos do nordeste goiano guardam jazidas de ferro.
Governantes e parlamentares se movimentam para concretizar parcerias com a China e instalar mineradoras e siderúrgicas na região. Por isso ambientalistas temem que a energia gerada pelas PCHs alimente empreendimentos altamente poluidores.
“As usinas afetarão o ecoturismo, o turismo de aventura e o modo de vida de pessoas. As barragens são projetadas em corredeiras adequadas para o rafting. Se continuar assim, uma hora não haverá mais rios disponíveis”, ressaltou Maurício Martins, da Itakamã, agência de turismo que aproveita as belezas de Veadeiros.
Nos oito municípios da região da Chapada dos Veadeiros vivem pouco mais de 60 mil habitantes, conforme o IBGE, e não há um conjunto de grandes indústrias para absorver a energia produzida em quase duas dezenas de barragens. Por enquanto.
“A chapada é um dos principais pólos de conservação do Cerrado no país, com potencial turístico e outras possibilidades de desenvolvimento praticamente inexploradas. Não podemos gerar energia para ser vendida e ficar com os impactos”, comentou o ambientalista Peter Christopher Midkiff.
Segundo avaliação de Zuquim Antas,“pequena central hidrelétrica” é apenas um nome politicamente correto para obras que podem ter grandes impactos ambientais.
Esse é um momento crucial. Preservar a Chapada dos Veadeiros do jeito que é, um dos lugares mais lindos do Brasil, com um dos ares mais puros ou ser mais um lugar poluído. Aí, vamos para Marte!
Fonte e texto original de AFG, com adaptações