As águas do Rio Mosquito e a falta de planejamento nas obras públicas


Por Valmir Crispim Santos, 

Semana
passada estava eu ligado no Programa “Cidade em Foco”, apresentado pelos
competentes Radialistas Ivan Almeida e Hamilton Mendes, quando entrou em
discussão a obra de captação de água do rio Mosquito, a maior promessa política
feita à população de Campos Belos em todos os tempos. 

Via rede social fiz uma
brincadeira com os apresentadores questionando a quantas andam as obras que
trará a excelente água do mosquito até nossas torneiras. Fiquei sem resposta,
pois eles e toda a população local buscam a mesma explicação.

Durante
a semana quando me atualizava nesse blog tive a oportunidade de ler um
excelente artigo de Jefferson Victor, elencando as obras paradas em Campos
Belos e Arraias, e olha que não são poucas. 

Em Arraias além das obras citadas
temos a Escola de Tempo Integral e pavimentação da BR 242 que passa pelo
município. 

Todas são obras de significância à população dos dois municípios,
assim como as obras que irão garantir o abastecimento de água às duas cidades:
o barramento do rio Arraias e a captação no rio Mosquito, ambas paralisadas.

O
rio Mosquito é o único curso d`agua confiável da região, pois possui uma rede
de nascentes ainda preservadas, que garante volume e potabilidade às águas que
descem da Serra Geral. 

O grande problema e que necessita ser enfrentado com
certa urgência é a gestão de suas nascentes, onde a ocupação se expande, inclusive
com aquisição de áreas na região por plantadores de soja do Oeste da Bahia.

As
nascentes do rio Mosquito são sustentadas pelo Sistema Aquífero Urucuia (SAU) protegido
por uma formação geológica de arenito do mesmo nome. Ocupa uma área de 76.000
km², desde a região de Gilbues no Sul do Piauí ao Noroeste de Minas Gerais, no
chamado Sertão do Urucuia de Guimarães Rosa. 

Nessa formação temos nascentes de
rios importantes como o rio Grande no Oeste da Bahia, o rio Urucuia que nasce
em Goiás e corre para Minas Gerais, e os rios Palmas, Manoel Alves e Sono no
Tocantins, e o não menos importante rio Mosquito em Campos Belos.

A
recarga desse aquífero é feita prioritariamente nas áreas de Chapadas do Piauí,
Goiás e principalmente da Bahia, onde o Cerrado desapareceu para dar lugar a
ganância do agronegócio.

A
falta de recarga e a contaminação por veneno agrícola (como o glifosato), são os
principais problemas dos grandes aquíferos como o Urucuia e o Guarani, cujo as
águas abastecem cidades como Ribeirão Preto somente com poços artesianos. 

As
regiões onde estão localizados esses aquíferos possui extensas áreas de recarga
onde atualmente estão os maiores contingentes humanos, que utilizam
intensamente o solo com monoculturas como a cana de açúcar, soja, milho,
algodão e outros.

O
uso indiscriminado da água do Urucuia para irrigar lavouras no oeste baiano é
um dos riscos que corremos, tendo em vista que nessa região se concentra uma
das maiores áreas contínuas do país com lavouras de soja, algodão, milho e café
irrigado. 

O uso das águas superficiais e subterrânea para irrigação nessa
região estão causando sérios conflitos entre irrigantes e a população em geral,
tendo em vista que os rios estão literalmente secando, como podemos conferir
nas reportagens do Jornal de Globo e Globo Rural há treze anos atrás: 

A
contaminação do aquífero também não pode ser descartada, haja vista que na
região temos uma das maiores taxas per capta de utilização de veneno do mundo,
aplicados nas lavouras de soja, milho e algodão.  Em Ribeirão Preto, já foi constatada a
presença no Aquífero Guarani de traços de diuron e haxazinona, componentes de
herbicidas utilizados no cultivo de cana de açúcar.

Preocupa
também a falta de parceria dos Governos de Goiás e Tocantins, nessa que é uma
obra estratégica para os dois estados (ou deveria ser). 

Arraias sonha em ter
seu abastecimento garantido numa obra de quase 100 milhões de reais (que
ninguém sabe se concretizará), Novo Alegre segundo me consta é abastecido por
poços artesianos, também com pouca sustentabilidade, ao passo que Monte Alegre
de Goiás não possui segurança no abastecimento hídrico. 

Os canos foram
enterrados a cinco quilômetros de Novo Alegre, mas a população da cidade não
terá acesso a água do rio Mosquito.

Assim,
devíamos pensar numa obra com condições de abastecer toda essa população. 

Parece utopia, mas nesse caso o planejamento não deveria levar em consideração as
linhas divisórias das unidades federativas e municipais. 

Os recursos aplicados
são públicos, pouco importando se originam de Goiás, Tocantins ou Brasília.
Devemos garantir sua eficiência.

Em
outra oportunidade fui criticado em artigo publicado nesse blog quando sugeri
que o Aeroporto de Arraias, cuja a construção ficou pela metade (fato mostrado
pelo Blog A1 notícias sediado naquela cidade), deveria ter seus recursos
investidos na ampliação do Aeroporto de Campos Belos, pois teríamos uma obra de
alcance regional, podendo receber voos comerciais. 

E mais, atenderia a
população de cidades como Novo Alegre, Combinado, Aurora, além de Arraias e
Campos Belos.

Estamos
defendendo que em algumas obras estratégicas, o planejamento deve levar em
consideração não apenas o bairrismo de cada prefeito ou governador. O dinheiro
público precisa dessa deferência em sua aplicação, haja vista que o pouco que
se chega às regiões periféricas é gasto de forma bairrista, onde os ganhos
políticos aparecem a frente da busca pela eficiência.

E
mais, o rio Mosquito é o único da região com capacidade para abastecer com folga
as cidades citadas. Caso contrário ficaremos a mercê de barramentos com custos
elevadíssimos e poços artesianos perfurados em lençóis de água sem qualquer
segurança ao abastecimento.

O
planejamento regional necessita urgentemente entrar na pauta de Governadores e
Prefeitos, principalmente quando falamos em um conjunto de cidades muito
próximas como Arraias, Campos Belos, Novo Alegre, Combinado, Lavandeira e Monte
Alegre de Goiás. 

E no caso em discussão, o rio Mosquito não é a alternativa
somente para Campos Belos, mas também às cidades vizinhas.
Valmir “Crispim” Santos
Geógrafo,
Professor da Rede Pública do Estado do Tocantins e
Agente
de Fiscalização Agropecuária

Campos
Belos – GO. 

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