Arrasta multidão: uma reflexão sobre o Entrudo em Arraias (TO)



Por Magda Suely Pereira Costa*,


Me alegra ver esta minha cidade pequenina, na festa do Entrudo! Nela, a população dobra, todos se misturam e brincam a mais sadia e tradicional molhação!


Brincadeira que tem o nome de “Entrudo”. Palavrinha que provém da palavra latina “Introitus,” que significa  em muitos dicionários como acesso, entrada, referindo-se a entrada na Quaresma, com a Quarta feira de cinzas, e que traz em sua origem a mais antiga celebração  do Carnaval. 


O Entrudo surgiu no Brasil na cidade do Rio de Janeiro com a chegada dos portugueses por volta do ano de 1641. 


Aqui em Arraias, certamente pelos portugueses que exploraram a mineração e deixaram esta tradição para nossos antepassados!


E não muito distante…  ainda  criança aqui em Arraias, me lembro dos saltos rápidos de Dr Magalhães  e toda sua comissão chegando  nas portas das nossas casas, em dias de carnaval a gritar “Água fria Maria”! 


Depois da molhação alguma bebida era servida e o grupo seguia para outras casas, era uma brincadeira respeitosa e divertida que rolava até o final do dia, onde todos se despediam  e os adultos se preparavam para mais tarde o carnaval no Bar do seu Dé!


Dias se passaram e essa cultura continuou com outros mecanismos como, Molhar com água não mais dos potes, mas nos baldes, depois dos chuveiros instalados nas praças públicas e ultimamente, com a crise da água, o carro pipa para abastecer os foliões da água!


Segundo pesquisas, acessadas dia 16/02/2015, a tradição dessa brincadeira quando aqui chegou dividiu-se em dois tipos: o entrudo familiar e o popular. 


No Entrudo familiar “Eram brincadeiras e jogos mais moderados com objetivos de entretenimento social. Ocorriam geralmente nas casas de famílias ricas dos centros urbanos, os moços da época faziam uma espécie de guerra com limões. 


O jogo não era violento e não tinha por objetivo machucar, mas apenas estabelecer laços de amizade.” 


Já o Entrudo popular “ocorriam nas ruas das cidades, principalmente nos bairros mais populares. Ocorriam guerras de ovos, água suja, urina, frutas podres, etc. Tinham um caráter agressivo e desrespeitoso”.

Me alegra viver o Entrudo de Arraias como uma festa que tirou o melhor de cada uma das formas de Entrudo original,  para  se tornar um entrudo popular, que ocorre nas ruas da cidade, possui objetivos de entretenimento social, acolhe ricos e pobres, naturais da cidade e visitantes, jovens, idosos e crianças para brincarem de forma linda e sadia!


Contudo, me preocupa o jogo da água, que não era violento e ultimamente tem sido introduzido por alguns foliões o jogo com “a água gelada” causando certa violência a muitos além do desgosto de adoecerem por estarem com os corpos quentes e serem lançados a água gelada. 


Nesse sentido, os foliões da “agua gelada” acabam por fazer aparecer o caráter agressivo e desrespeitoso da brincadeira, afinal, todos vieram para brincar e não para ficar doentes!


Me alegra perceber as Escolas de Arraias, juntamente com a Banda da 1ª CIPM com suas equipes a cultivarem com as crianças a educação e a cultura do Entrudo sadio, ensinando-as a brincadeira do jogar água com músicas e marchinhas com fins de alegria e estabelecimento da amizade. 


Um jogo aonde se chega até o outro, com carinho e lhe despeja a água, ou se a joga, o faz, de forma lenta para que a outra pessoa possa curtir a água fria que lhe chega ao corpo. Uma brincadeira para causar alegria, prazer e não dor, raiva ou nervoso!


 Me alegra ver as crianças cuidando do lixo que os mesmos produzem dentro da escola, para depois no coletivo exercitar sua cidadania,  pela sua convivência  no  coletivo, zelando do que é público que pertence a todos.


Contudo, me entristece ver alguns adultos jogarem água no outro de uma forma muito violenta, que não dá tempo da pessoa se preparar para receber a água. 


Por isso, esta intensidade do jogar faz com que os protetores solares escorram pelos olhos, inflamando-os, ou, muitas vezes o jogado é tão forte que atinge os ouvidos de quem é molhado! 

Me entristece ver que alguns adultos jogam suas latinhas de cerveja ou refrigerantes  no meio da rua, sem se importarem com o seu próprio lixo e muito menos com o trato do ambiente coletivo!


 O que dizer para as nossas criança sobre a Cidadania que inclui direitos e deveres que trabalhamos, e que lhe ensinamos sobre a Cultura e Tradição  antes do Carnaval? O Exemplo visto e partilhado por eles no meio da folia  com alguns adultos nos faz tristes e indignados!


Enfim, me alegra ainda ver a alegria dos muitos que participam de forma sadia, cidadã, consciente, de uma brincadeira popular que precisa continuar sendo, inclusiva e feliz e Cultural!


E é a vocês, que como arraiana, me incluo na preservação dessa Cultura secular que é considerada a  “festa regionalmente como o carnaval mais animado do estado do Tocantins!”.


Referências bibliográficas
http://www.suapesquisa.com/carnaval/entrudo.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Entrudo


*Magda Suely é professora Doutora Universidade Federal do Tocantins
Campus de Arraias-Tocantins

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