50 anos para fazer um homem





Oscar de Souza Alves Neto, 


Em diversas obras de Platão acham-se inseridas idéias sobre o problema pedagógico, mas é em “A Republica” que foi arquitetado um currículo que atendesse ao projeto de responder à necessidade de desenvolver a virtude coletiva (patriótica) sem abandonar a individual. 


Em tal currículo, Platão procurava operacionalizar as metas propostas por Sócrates, pois este “apontara a meta e estabelecera a norma para o conhecimento do bem”. Pode-se afirmar, portanto, que o ético-político sintetiza a Paidéia platônica. Nesta, os aspectos antropológicos merecem destaque.


Havia na Grécia, à época de Platão duas formas de encarar a educação. Por um lado o que se poderia denominar educação comum, e por outro, a educação sofística. A educação comum vinculava-se essencialmente ao corpo, enquanto os sofistas enfatizavam a formação político-intelectual, Platão tenta fazer surgir uma síntese destas duas concepções. 


Por mais que Platão pautasse a sua conduta de justiça, é necessário que se o observe a partir da sua origem aristocrática e o seu envolvimento num determinado contexto histórico-social. 


Sua família era tradicional, com participação relevante na vida política de Atenas, esta que vinha de uma democracia recente onde as mulheres, os estrangeiros e os escravos, estes representando 90% da população não participavam das resoluções políticas. Na verdade a democracia era uma forma suavizada de oligarquia. Platão admitia desigualdade entre os homens, apesar de creditá-las ao natural, e não ao social.


Dessa forma, entendia que seria a aptidão de cada um que permitiria o acesso aos escalões mais altos do sistema educacional que preconizava.


Sua antropologia observava o indivíduo possuindo uma substancialidade composta de três elementos: o instintivo, o combativo e o racional. O Estado, que seria a encarnação do próprio homem, acomodaria três frações sociais que, em ultima análise, corresponderia analogamente àqueles elementos constitutivos do homem: a classe industrial (artífices), a classe militar (guerreiros ou guardiões) e a classe filosófica (magistrados).


O papel da educação era permitir, a cada cidadão, executar sua própria obra, devotando-se a ela e a nada mais. A divisão do trabalho está pois, para Platão, alicerçando a estrutura social que tenderia para um regime de castas.


O plano de estudos platônico estava dividido em cinco momentos: a) 3/6 anos: pentatlo, dança e musica; b) 7/13 anos: acentuação da prática de atividades físicas e introdução da cultura intelectual; c) 14/16 anos: a chamada educação musical; d) 17/20 anos: educação militar e e) 21 anos em diante, apenas os mais capazes continuavam a sua educação, agora baseado na Matemática e na Filosofia. 


Este último período era ainda dividido em três partes. Dos 21/30 anos, estudos de caráter cientifico (Aritmética, Geografia e Astronomia) e musical (harmonia). Dos 31/35 anos, formação filosófica e dialética, sem o abandono da Matemática.


Finalmente, dos 36/50 anos completar-se-ia a formação do magistrado, assumindo uma função pública.


Aos 50 anos, o cidadão estaria apto a governar. Às vezes, o saudosismo, seja no sistema educacional, na política e principalmente na formação do homem, faz bem. Pois reflete no caráter, no valor da palavra, virtudes, entre outras que não podem submergir ao longo do tempo e na vida do homem.


Em face ao exposto e diante do momento de crises dos partidos políticos que tem cansado a nós cidadãos; dos fatos novos de corrupções que surgem a cada dia; da falta de elaboração de politicas públicas aos diversos segmentos, Platão e Sócrates teriam dificuldade em elaborar um currículo para fazer um homem.

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