Alto Paraíso: Na batida da Folia de Crixás



Por Ana Ferrareze,


A Folia de Crixás veio para São Jorge no sábado, 25 de julho. Um grupo de 10 pessoas saiu da pequena cidade do Vale do Araguaia, em Goiás, direto para o palco em frente à Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge. 


Camisa engomada e chapéu na cabeça, foram liderados pelos irmãos violeiros Seu Severo e Seu Sebastião Dias nas danças ritmadas, como catira e veadeira, quando as batidas dos pés acompanham o som dos pandeiros, de caixas e do violão, em uma tradição que existe há mais de 200 anos em Crixás. 


Ela é mais ouvida no mês de junho, quando se comemora a festa do Divino, dividida em três folias: a de Santa Rita, a de São Patrício e a do Sertão. As duas últimas são giradas dentro da cidade, enquanto a primeira gira nas fazendas.


Em São Jorge, quem estava presente teve apenas uma mostra da folia. Em Crixás, o rito dura 15 dias. Primeiro, combina-se um pouso, onde os artistas se reúnem na casa de uma família anfitriã, jantam, rezam o terço e fazem uma pequena apresentação. 


No outro dia, tomam o café da manhã e partem com a bandeira do Divino toda enfeitada com flores e fitas. Passam de casa em casa perguntando se as pessoas querem recebê-los. Se a resposta for positiva, entram, tiram o chapéu e dão um viva em forma de verso ao anfitrião e ao Espírito Santo. Depois cantam, dançam e pedem uma oferta. 


Entre as danças, além da catira (agitada, ao som da viola e pandeiros) e da veadeira (com um sapateado mais rápido), estão outras como o batuque (dançado na chegada aos pousos, em pares) e a dança do tambor (que relembra as festas nas senzalas, em roda).


Uma hierarquia divide os artistas na Folia de Crixás. Os violeiros são os líderes, que improvisam os cantos e contam com ajudantes. 


O caixeiro é encarregado das caixas e o salveiro prepara os foguetes para avisar a chegada da folia. Também entram na festa os foliões, devotos que dançam e tocam pandeiro, e o palmeiro, que puxa as palmas. 


Rafael de Oliveira, de 12 anos, é o mais jovem da Folia que veio ao Encontro de Culturas Tradicionais. “Folião dos bons”, avisa Seu Severo.


Respeito, humildade e obediência


A tradição da Folia de Crixás é forte porque passa de geração a geração. Leonan, por exemplo, é filho de Seu Severo e participa desde os 5 anos. Começou como folião, passou para caixeiro e depois para palmeiro. Agora, é a resposta do mestre, o violeiro. 


Segue os passos da família, quase toda envolvida com a folia. “O grande segredo é o dom”, explica Seu Severo. “Eu tenho dez filhos, seis homens e seis mulheres. Deles, apenas três nasceram com a vocação para a folia”.


O pai de Seu Severo era cantador. Hoje, é representado por quatro de seus filhos na Folia de Crixás: além de Severo e Sebastião, Manoel e Cícero.


“Eu sou o mais velho e acabei puxando meus irmãos para girar”, conta o primeiro. “Desde os 10 anos já tinha o dom de cantar. Minha dupla sempre foi o Sebastião: eu na primeira e ele na segunda voz. Encaixo na viola e vou”.


As orações estão muito presentes na Folia de Crixás e o Divino Espírito Santo é o grande louvado, a festa é dele. “Exaltamos o respeito, a humildade e a obediência”, explica Seu Severo. “A brincadeira da folia pode ser apresentada em qualquer lugar. Para nós, é uma honra vir ao Encontro de Culturas. É nosso sétimo ano”.


Honra mesmo é ter a chance de conhecer a Folia, em Crixás, em casa, em São Jorge ou qualquer outro lugar. Ver Seu Severo chegar o dedo na viola e a foliada o pé no chão. 


E presenciar o crescimento desses jovens talentosos, que no futuro se tornarão os grandes mestres violeiros que continuarão mantendo a tradição viva. Viva a Folia de Crixás!


Fonte: Encontro de Culturas da Chapada dos Veadeiros

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