Um ato de racismo contra os Kayapó no ônibus da Real Maia. Passageiros seguiam para Palmas (TO)

 Foto: Alan Oju

Por Magali Colonetti, 


As passagens de volta pra casa estavam compradas para o ônibus das 21h40 de segunda-feira. 


A Empresa Real Maia faz o trecho entre Brasília e Palmas, o ideal para os Kayapó que precisam chegar a Tucumã, no Pará.  


O grupo participava do XV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso de Goiás, no nordeste do estado. 


Eram 18 indígenas prontos para seguir viagem, 14 na parte superior do ônibus e quatro na parte inferior. 


Esses quatro se depararam com uma situação de racismo vindo de uma passageira. 


“Ela não queria ninguém do lado dela e disse ‘Nós que paga’. Vocês saem ou eu chamo a polícia”, contou Bekateti Kayapó. 


– E as outras pessoas no ônibus? Onde elas estavam?
– Ah, nessas horas elas não fazem nada. Fingem que não vêem. 


Segundo Bekateti o motorista foi até eles e perguntou se gostariam que a polícia fosse chamada, mas não era de vontade deles. “Se fosse na minha cidade eu brigava, mas aqui não”, concluiu. 


“Mas vocês tem que brigar por seus direitos lá e aqui. Quem deveria ter saído era ela, não vocês. Isso é um ato de preconceito, ela deveria ser presa”, desabafou o produtor Aruane Lopes. 


Ele acompanha agora o desenrolar da história para conseguir programar a viagem dos oito indígenas que ficaram. Ao devolver os tickets da passagem o motorista entregou a via dele e não do passageiro. 


Para completar, o ônibus apenas seguiu viagem e não prestou nenhum suporte aos indígenas que foram expulsos do ônibus. 


“Eles ficaram até às 4h da manhã esperando um transporte. Como fomos pegos de surpresa, precisamos ir atrás de van na madrugada e o processo foi mais difícil”, explicou Aruane. 


O racismo escancarado 


Segundo Bekateti essa foi a primeira vez que aconteceu algo assim com eles, mas sabemos que ainda existe um preconceito vigente na sociedade brasileira em relação aos povos indígenas. 


Não é a primeira vez que os indígenas são tratados dessa forma. “É um preconceito que se vincula a um desconhecimento sobre esses indígenas e se vincula também a um momento que estamos vivendo de muito radicalismo dentro da sociedade e essas pessoas as vezes saem do armário. 


Elas não falavam, e hoje elas acham que podem falar e exercitar seu racismo cotidianamente”, observou Tiago Garcia, assessor da secretaria de Direitos Humanos. Ele ainda comentou que os índios mostraram uma diplomacia que muitas vezes a sociedade não tem com eles. Mostraram ter consciência de quem são e da sua importância. 


“Que naquele momento não valia a pena brigar com uma pessoa totalmente preconceituosa , racista, e ignorante mesmo”. Diplomacia a parte, é preciso lembrar que em casos como esses é preciso brigar. 


É uma situação de racismo e isso é crime. O de não querer viajar com uma pessoa simplesmente porque ela tem uma identidade diferente da sua. “Ele cometeu um crime e merece ser punida por isso”, concluiu Tiago. 


Fonte: Encontro das Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros

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