Encontro na Chapada: Alto Paraíso de Goiás recebe a Tradição Kalunga



Por Sinvaline Pinheiro,


Os preparativos para mais uma apresentação do Reinado Kalunga no XV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros envolveram uma série de detalhes, inclusive muitas pessoas, onde tudo é coordenado por dona Daíndia, uma das pioneiras desse ritual.


Montanhas de papel colorido, fitas, flores e muita alegria fazem parte dessa preparação, e é também um momento de interação entre eles, e ai surgem os causos, notícias e os segredos…


Detalhando fielmente os contornos de cada ornamento Daíndia vai ensinando as jovens como perpetuar a tradição.


– Começou foi assim: nois tinha festa mas num era um Imperio, em 1960 um comerciante , o Davi de Cavalcante deu a ideia de fazer o Reinado com coroa, rei e os anjos, porisso tem que ter os enfeite para decorar a casa da festa, eu já tenho 55 anos de Império. Antigamente nois enfeitava cum as flor do cerrado, hoje é só de papel.


Nesse ínterim vão nascendo flores, rosas, risadas, conselhos e muita alegria. Daindia com sua força consegue coordenar uma grande comunidade kalunga, não só do Vão de Almas onde ela reside, mas de outros locais.


A dança Sussa continua como era desde os anos 50, vestuário, rodia de pano, as vezes com um garrafa na cabeça  e o rebolar único das mulheres kalungas.


No Vão de Almas a Romaria é no mês de Agosto, são dois dias de muita reza e animação. Evento que já se tornou conhecido e tem um bom público. Daindia reclama da falta de estrutura para receber os convidados.


– Sabe, eu fico triste de nois num tê os banheiros, cheio de gente e fica tudo sujo os mato, os rio, precisava muito de fazê os banheiro para receber os turista. Já tenho até vergonha de enconvidar gente pra ir lá…


Véspera do Reinado Kalunga se apresentar para milhares de pessoas, as velas confeccionadas com algodão e cera de abelha, as flores, o arco, as coroas, bolos foguetes e outros apetrechos já estão prontos para encher as ruas do povoado de São Jorge.


Os kalungas se espalham pelo vilarejo vendendo suas joias do cerrado: óleo de coco, raízes medicinais, pimenta, candeias, paçocas, tapetes e causos.


E  mais uma vez a força kalunga mostra ao mundo a capacidade de persistir e viver sua cultura.

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