Encontro de Culturas na Chapada: E viva o Império Kalunga!
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Foto: Alan Oju |
Por Ana Ferrareze,
O remanescente quilombo Kalunga é o maior do Brasil, com mais de 5 mil habitantes no Vão do Paranã, no nordeste de Goiás.
A comunidade existe há quase 300 anos, mas só foi descoberta pelo Brasil na década de 1960.
O povo Kalunga é parte fundamental e muito importante na construção e realização do XV Encontro de Culturas Tradicionais, desde sua primeira edição.
Na noite de sábado, 25 de julho, iniciaram a celebração do Império Kalunga com a tradicional procissão de hasteamento do mastro do Divino Espírito Santo.
Durante a manhã, a Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge já anunciava que seria dia de festa: flores coloridas de papel crepom feitas durante a última semana enfeitavam toda a entrada da casa para mostrar a devoção, história e tradição Kalunga.
A procissão saiu durante a noite, iluminando as ruas de São Jorge, que no dia teve uma queda de energia elétrica e deixou as luzes das candeias, velas feitas com algodão e mel, ainda mais fortes.
Dezenas de pessoas se uniram caminhando e rezando, com as chamas acesas que pagam pecados, segundo a crença religiosa. “Elas também servem para dor de cabeça e para dia de chuva com vento. Deus protege”, explica Getúlia, a Roxa, rezadeira oficial. Há quatro anos, ela reza no Encontro.
Aprendeu com seu pai, que sempre a levava, já que “não ia ficar vivo toda vida e ela tinha que aprender”. Comanda a reza em frente ao altar de São Jorge em uma ladainha bonita de ouvir.
A festa oficial acontece a partir do dia 10 de agosto e celebra o Império de Nossa Senhora da Abadia, no dia 15, além do Divino Espírito Santo, que é dia 14. É a mais importante do ano.
Em São Jorge, o hasteamento foi logo depois da reza, ao som de caixas, sanfona e pandeiros. Um enorme mastro de madeira sustentando a bandeira do Divino, que representa um louvor ao Espírito Santo, foi levantado por cerca de cinco homens até fincar no chão.
Esse ato significa que o povo passa por dificuldades e pede ajuda. Se as graças pedidas forem alcançadas, o mastro é levantado mais uma vez no ano seguinte.
O Império
Por volta das 17h do dia seguinte, sexta-feira, 26 de julho, a celebração continuou. O Imperador chega ao lado de duas crianças, os anjos, os três portando coroas coloridas feitas pelas mulheres Kalungas também com papel crepom.
Este ano, Joaquim é o imperador. Um quadrado é armado em volta dele e dos anjos com quatro varas coloridas. Dentro, também estão as rezadeiras e os organizadores da festa, protegidos. Outro cortejo é feito pelas ruas da cidade nessa formação, com todos cantando.
De volta à Casa de Cultura, os Kalungas se reuniram sentados em frente ao altar de São Jorge. Roxa e as outras rezadeiras se sentaram nas fileiras da frente, seguidos pelo imperador e pelos anjos.
Ao final, a celebração terminou na mesa, montada horas antes com refrigerantes e bolos. “Quando não é bolo, fazemos paçoca de carne”, conta Roxa. Na celebração tradicional, todos se sentam para comer juntos.
“Eles já avisam: tá chegando o Império!”, conta a rezadeira. E a festa vai até o fim do dia.
Fonte: Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros