Artigo: As dificuldades de ser preto e pobre no Brasil. “A casa grande surta quando a senzala aprende a ler”
Por Morgana Tavares, advogada
Os negros chegaram ao Brasil, como escravos, por volta de 1580.
Vieram para servirem os donos das grandes fazendas que precisavam de trabalhadores em suas lavouras e não conseguiram escravizar os índios.
Tais trabalhadores eram capturados na África, trazidos em navios negreiros e vendidos no Brasil.
Toda a sua história foi marcada por violência, inferioridade e preconceito.
Eram acomodados em senzalas e tinham direito apenas a uma refeição diária. Apanhavam ainda, de chicote e eram amarrados em troncos. Quando conseguiam fugir para o sertão, se organizavam em quilombos.
Zumbi dos Palmares comandava o maior povoado quilombola do país, localizado no Estado de Alagoas.
Após dois séculos, surgiu o movimento abolicionista, liderado por José Patrocínio, mas o fim da escravidão foi decretado apenas em 1888, por meio da assinatura da Lei Áurea realizada pela Princesa Isabel.
Vários aspectos da cultura brasileira são heranças deixadas pelos negros, como suas danças típicas, culinária e religião.
Destaca-se que, boa parte da população negra se concentra na região do nordeste goiano e sudeste do Tocantins. O Arraial da Chapada dos Negros, por exemplo, foi transferido para o local onde fica hoje o município de Arraias.
O projeto Criança Esporte e Cultura do Ponto de Cultura Associação Cultural Chapada dos Negros, da referida cidade, foi contemplado pela Fundação Cultural Palmares, com o Prêmio Culturas Afro-Brasileiras, liderada pelo Mestre Fumaça, e objetivando uma maior visibilidade às expressões culturais deste grupo.
Apesar de a população negra ter deixado de ser dominada na teoria, e terem conquistado os seus direitos como cidadãos, grande parte da população branca a rejeita, e aqueles continuam tendo condições de vida inferiores às dos brancos, exemplo do número de habitantes em favelas e dos integrantes dos presídios brasileiros que são compostos por negros, em sua maioria.
Embora haja todas essas dificuldades encontradas pelo caminho, ainda temos grandes exemplos que conseguiram vencer na vida.
Cito primeiramente Nelson Mandela, ex-Presidente sul-africano que colocou fim ao “Apartheid”. Secundariamente, Barack Obama, sendo o primeiro afroamericano eleito o Presidente dos Estados Unidos. Por último e não menos importante, Joaquim Barbosa, que foi presidente da mais alta corte judiciária brasileira, até 2014.
Nos últimos tempos, casos de racismo contra negros ricos e famosos ganharam mídia, como aconteceu com o Tinga, ex-jogador de futebol do Cruzeiro, o Aranha goleiro do Santos, Daniel Alves, do Barcelona. Além de vários ataques sofridos na internet pela Maju, repórter do tempo do Jornal Nacional, e agora pela atriz Thaís Araujo.
Salienta-se que, o crime de racismo está tipificado no artigo 20 da Lei n. 7.716/89 e este atinge diretamente a dignidade da pessoa humana, o proibindo de comportamento degradante, sendo imprescritível e inafiançável.
Este se diferencia do delito de injúria racial, pois o último, além de está disposto no artigo 140, § 3º, do Código Penal, atinge a honra subjetiva da vítima, os dois crimes preveem uma pena de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. Contudo, a injúria racial prescreve e está sujeita a fiança.
Importante ressaltar que, os ricos afrodescendentes estão sendo vítimas dos ataques que os pobres sofreram a vida toda. Portanto, denunciem! Não se calem!
“A casa grande surta quando a senzala aprende a ler”.
Por Morgana Tavares, advogada, uma parda, filha de um negro com uma branca. Com muito orgulho!