Jovem é estuprada por segurança em festa de réveillon na Asa Norte, em Brasília, e relata caso no Facebook





Uma jovem de 24 anos narra momentos de terror sofrido por ela na madrugada de sexta-feira (1º/1), após a virada do ano. 


Segundo o relato, ela estava no evento The Box – Reveião, que ocorreu no Setor de Clubes Norte, quando foi coagida por um segurança, que a levou para um estacionamento e a estuprou. 


Segundo a jovem, ela foi estuprada por dois seguranças e decidiu fazer o relato para alertar outras mulheres. 


A imprensa  ligou para o proprietário da empresa que fazia a segurança do evento. De acordo com o relato da vítima ele é o suspeito de ter praticado o estupro. O suspeito, de 33 anos, afirmou que teve relações sexuais com a vítima, mas que não cometeu estupro. 


“Eu sou casado, tenho dois filhos e tive uma atitude impensada no calor do momento por ter sido seduzido. Foi tudo consentido”, afirmou. Segundo ele, havia sete seguranças presentes ao evento – seis homens e uma mulher – e o proprietário prestou depoimento à polícia para “dar sua versão da história e esclarecer a participação da empresa no caso”.



De acordo com o suspeito, ele compareceu à Delegacia da Mulher na madrugada deste domingo (3) para “dar sua versão da história”. “Fomos à delegacia ontem e só saímos de lá às 3h da manhã. Agora vamos esperar a intimação da polícia. Nada disso foi forçado, nada disso foi violência”, afirmou.

Veja o relato da vítima


“Foi no dia 31 de dezembro de 2015 que decidi passar minha virada no ano com amigos, em uma festa chamada THE BOX – REVEIÃO (em Brasília, DF). 


Minha companhia foi realmente excelente, não tenho do que reclamar, e não é este o motivo da prosa.


Os serviços anunciados pela organização da festa sequer chegaram perto do que realmente foi. Foi pavoroso! Sem a menor estrutura em todos os quesitos, as demandas simplesmente não foram atendidas. 


Os banheiros eram pequenos e extremamente sujos, o bar não suportou… E os seguranças… É sobre este desserviço à que vim falar. 


Houveram várias reclamações sobre a falta de segurança da festa, sobre os carros roubados, sobre as brigas não apartadas, eles simplesmente lavaram as mãos. Seguranças estes que ficavam somente no hall de entrada da festa de forma meramente “decorativa”.

A festa estava horrível, então meia hora antes da virada decidi ao menos “aproveitar” o open bar, assim fiz.


Era mais de meia noite, eu estava dançando com um amigo perto da entrada quando fui abordada por um dos seguranças, que me coagiu a sair da festa, eu realmente não entendi o motivo e mesmo alcoolizada só atendi por ser uma figura de autoridade do local. 


Havia uma área de terra onde alguns carros estavam estacionados entre o cerrado. 


Eu estava completamente vulnerável, com muito medo. Um dos carros estava estacionado de ré para o cerrado, então atrás do carro só havia vegetação. 


Ali ele me virou de costas e sem a menor cerimônia me estuprou. Eu fui estuprada por quem deveria assegurar minha segurança. Eu tive medo, não reagi (poderia ter sido pior se reagisse, eu poderia apanhar, poderia demorar mais…), só queria que acabasse logo. 


Quando ele terminou mandou eu ficar lá, mais uma vez tive medo e não me movi. Ele voltou com outro segurança e disse: “Tá aí, cara, manda ver”. Não consigo descrever o que senti na hora. Ele saiu, eu fiquei com o outro segurança e perguntei porque ele iria fazer aquilo comigo também, acho que ele se assustou e disse que não ia fazer nada, respirei fundo e voltei pra festa num misto de pavor e dormência. 


Não contei nada pra ninguém. Me questionei se eu não tinha “pedido por aquilo”, olha que ridículo! É assim que somos ensinadas. A culpa sempre é atribuída à mulher. 


O dia amanheceu, fui pra casa com meu amigo, eu não conseguia ainda assimilar os fatos. Só pensei que não podia banhar, deitei e tentei dormir. Foi um sono inquieto, eu sentia dores internas, e comecei a lembrar de algumas frases que usamos na militância: “moça, a culpa não é sua”, “não ensine meninas a não serem estupradas, ensine meninos a não estuprarem”. 


Decidi levantar e tirar o absorvente interno (sim, durante o estupro eu estava usando absorvente interno), acontece que eu não consegui. Fiquei mais de uma hora pensando no que fazer, entrei em contato com um grupo de apoio à vítimas de crimes sexuais ao qual faço parte, fui ouvida e mesmo assim… Eu estava desnorteada! Não queria contar pra ninguém, estava com vergonha, me sentindo suja, culpada… 


Quando num ímpeto saí do quarto e falei com o meu pai um seco: “pai, eu fui estuprada”. Temos quatro cachorros, ele estava lavando a área, parou na mesma hora, esperou minha mãe sair do banho, contou pra ela. Fomos imediatamente à Delegacia da Mulher, eu sequer comi. Saímos de casa por volta de 12h. Ficamos aproximadamente quatro horas na delegacia, foi uma situação extremamente constrangedora, tive que repetir a história várias vezes e reviver aquele momento. Fui encaminhada ao IML e ao hospital da Asa Sul pela delegacia. O médico do IML não conseguiu tirar o absorvente interno, meu desespero só aumentava. 


Cheguei ao hospital e fui atendida por uma médica extremamente empática, finalmente me senti um pouco menos desconfortável, ela me tratou tão bem! Ela me consultou e tirou o absorvente, o que apesar de ter doído muito porque minha vagina está realmente bastante machucada, foi um alívio. Tomei uma Benzetacil em cada lado (sim, foram duas), remédio na veia, mais algumas doses únicas de remédio (via oral) e, o que me abalou muito: iniciei a tomar o coquetel para AIDS (são 28 dias tomando esses remédios fortíssimos, que causam enjoo, vômito e diarreia). Colhi sangue também. Cheguei em casa à noite, exausta, faminta… Até que minha irmã chegou e eu finalmente consegui chorar.


Eu sei que é muita exposição, mas, sinceramente?! Não é pior ao o que me aconteceu. Decidi redigir esta nota de repúdio por alguns motivos específicos: eu fiz tudo como orienta a lei, tudo certinho, e uau!!! Quanta burocracia! A delegacia, o IML e o hospital ficam completamente distantes um do outro, eu estava de carro, acompanhada, mas e a mulher que não tem nenhuma assistência como faz? 


Ela não faz, ela desiste. Porque se eu tivesse sozinha, juro que teria ido ao posto de saúde dizer que transei bêbada com absorvente interno, eu não teria forças pra passar por isso sozinha (e se não fosse o absorvente interno nem teria ido, correndo riscos de saúde); quantas outras mulheres não devem ter sofrido nas mãos desse imbecil e dessas empresas de segurança irresponsáveis que contratam qualquer um?! 


E o mais importante, eu não suporto imaginar que outra mulher pode passar pelo mesmo que eu passei e ficar calada, estou fazendo a minha parte pra evitar outras dores e outros sofrimentos.
Atualizações:


* Compartilhei a publicação na página e no evento. O evento foi excluído e o comentário na página apagado. Infelizmente não tive tempo de tirar print. Mas tenho outros prints de reclamações enquanto o evento ainda não havia sido excluído, parte significativa sobre a segurança.


* Eu não autorizei o Correio Braziliense a publicar absolutamente nada.


* Parece que o indivíduo se entregou e disse que foi “consensual”. Estou tremendo, com a boca seca, com taquicardia… É um absurdo!!!


* Página da empresa: https://www.facebook.com/grupoellos…

*Me enviaram o perfil do dono da empresa, não sei se ele é o dono. Mas, sem dúvidas é o estuprador: https://www.facebook.com/welmontcar…”


Veja a página do relato 

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