João de Abreu, a saga de um líder goiano e tocantinense. Fundou o jornal A Bigorna, de Arraias (GO)

Goiânia (GO) – Praça do Botafogo, 1936 Reprodução/Facebook 

Por Walter Menezes, 

Fragmentos do artigo escrito no Jornal do Tocantins – 30 de junho a 1º de julho de 1995 pela biografa de João d’Abreu: Maria Cavalcante Martinelli.

Ex-governador de Goiás de 9 de agosto a 9 de setembro de 1937, nascido em 4 de julho de 1888, João d’Abreu, líder político tocantinense que é citado pela Enciclopédia Delta Larousse, completaria, agora, 97 anos se não tivesse falecido, em Goiânia, em 27 de outubro de 1976. 

Natural de Taguatinga, João d’Abreu fez o curso primário em Arraias e concluiu os estudos secundários na cidade Goiás. Foi prefeito de Arraias de 1912 a 1913, após haver se diplomado em odontologia pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1911. 

Mais tarde, ele bacharelou em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de Goiás, em 1937, pela qual foi professor de ciências das finanças e economia política, sendo seu diretor substituto em 1941.

Eleito para a Assembleia Constituinte de 1946, João d’Abreu seria deputado federal de 1946 a 1958, sendo eleito vice-governador goiano em 1958, cargo que ocupou até 1960. 

Atuou como presidente da Comissão Parlamentar da Amazônia, foi membro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro e da Associação Goiana de Imprensa, além de ter fundado o periódico “A Bigorna”, em Arraias, na primeira vez em que foi chefe do Executivo municipal. 

Presidente do Conselho de Administração do Banco do Estado de Goiás de 1963 a 1966, João d’Abreu encerrou a sua longa militância política como prefeito de Arraias de 1968 a 1972. 

A partir daí permaneceu como um interlocutor arguto, um conversador brilhante, uma testemunha viva e um sábio conselheiro para aqueles que o procuravam em sua casa da Alameda Botafogo, em Goiânia, até a sua morte em 1976.

Em vida João d’Abreu recebeu muitas homenagens, mas uma ele guardou com carinho especial até o fim dos seus dias. Foi à homenagem que recebeu quando completou 83 anos e que foi realizado e promovido pelo empresário e jornalista Jaime Câmara. 

A homenagem foi prestigiada por grandes números de familiares, amigos, políticos, jornalistas e intelectuais de Goiás. O falecido desembargador Maximiano da Mata Teixeira fez um discurso que marcou pela emoção com que foi proferido.

João d’Abreu foi vizinho do jornalista Jaime Câmara, na cidade de Goiás, onde cimentaram e solidificaram uma amizade que perdurou por longos anos. 

Ele admirava a capacidade empreendedora de Jaime Câmara, reconhecida a relevância de seu trabalho jornalístico e sua dedicação em prol do desenvolvimento de Goiás. João d’Abreu dizia que a amizade com Jaime Câmara era “guardadea como joia do nosso escrínio de ouro”.

Uma prova da profunda amizade que unia o veterano político e o jornalista é que Jaime Câmara, em uma época de difícil acesso ao antigo Nordeste Goiano, se deslocou de Goiânia para Arraias, no final da década de 60, para ser paraninfo de formatura dos ginasianos do Instituto Nossa Senhora de Lourdes.

 João D’Abreu, na época, era o prefeito de Arraias e se sentiu gratificado pelo gesto do amigo em prestigiar a sua cidade e incentivar a juventude de sua região.

João d’Abreu foi uma das lideranças que batalharam pela construção de Goiânia, de Brasília e a criação do Estado do Tocantins.

João d’Abreu, líder carismático, catedrático, parlamentar e executivo, tocantinense da melhor gema, citado na Enciclopédia Delta Larrousse, completaria 97 anos, na próxima terça-feira, dia 4, caso estivesse vivo. 

Tijoca, como era conhecido entre os íntimos, nasceu em Taguatinga, começou encerrou sua carreira política como prefeito de Arraias, depois de ser governador, vice-governador, parlamentar, professor universitário e articulista dentre suas inúmeras atividades. 

Batalhador pela construção de Goiânia e de Brasília e um dos pioneiros da causa tocantinense, João d’Abreu permanece vivo na memória como um batalhador de melhores dias para o povo tocantinense.

João d’Abreu, político ético, humanista convicto, professor emérito, batalhador pela construção de Goiânia e pelo erguimento de Brasília e lutador incansável para carrear recursos, abrir as coisas e melhorar as condições de vida da região que hoje é o Tocantins, caso estivesse vivo, teria completado 97 anos, na próxima terça-feira, dia 4 de julho. 

Ele não viveu até o momento de se consolidar a luta libertária do povo tocantinense como a criação do seu Estado. Mas, como cidadão do antigo norte goiano, João D’Abreu, foi um digno escudeiro de Teotônio Segurado pela luta de toda uma vida em prol do desenvolvimento do que é hoje o Estado do Tocantins.

O tempo é o senhor implacável das mudanças e também do esquecimento. Os mais moços poderão indagar quem é João D’Abreu? 

É um homem cuja vida é uma saga em prol de uma causa que abraçou e da qual nunca se afastou um palmo até o fim de sua vida: é de ser um apóstolo do serviço, do bem e da justiça de seus conterrâneos. É um cidadão que nada quis para si, mas com para o seu povo, os nortenses, atuais tocantinense, com os trabalhos de sua longa e fecunda existência.

É um homem que se sensibilizou com os problemas do seu povo pelo qual lutou até a exaustão de suas forças físicas e intelectuais. Desapareceu a sua forma física, mas permanece como um monumento o registro das obras do líder carismático, do grande “sertanejo nortense”, que pontificou no seu tempo, incapaz de acumular riquezas, distribuindo com os que lhe vinham bater às portas os seus proventos de servidor público, parlamentar e professor.

O pioneirismo de João D’Abreu, em defesa da criança do Estado do Tocantins é sobejamente conhecido. Inicialmente, na Assembleia Legislativa de Goiás, onde jamais deixou de advogar os interesses daquela zona. Já em discurso pronunciado na sessão parlamentar do dia 11 de julho de 1935, salientava a vastidão daquele território ocupado por 21 municípios por onde afluem dois grandes caudais: Araguaia e Tocantins de que são tributários outros rios que se prestam à navegação e cujo o povo é desprovido dos menos benefícios da civilização.

Ao reivindicar emendas do Estatuto Público do Estado de Goiás, em prol do Norte, colocou esta alternativa: “Não há outro caminho a seguir… ou ampará-lo; trazê-lo à comunidade do sul… ou perdê-lo. Os estados limítrofes já fazem as suas investidas para absorvê-los.”

Cita ainda, o vaticínio do Visconde de Taunay, que antevia o Estado de Goiás deparado em duas zonas distintas, com possibilidade de progresso para ambas: a do sul, usufruindo da prosperidade de São Paulo e a do norte por meio da navegação dos grandes rios, Tocantins e Araguaia.


Fonte: Diário da Manhã 

(Walter Menezes, ex-presidente, conselheiro permanente da Associação Goiana de Imprensa e diretor do Jornal da Cultura Goiana)

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