Artigo: A marcha para o oeste da família Crispim
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Por Valmir Crispim,
Já arribava o mês de setembro e as roças ainda não tinham sido abertas! Nem o terreno onde seriam implantadas tinha sido definido, tendo em vista a demora em receber o lote oferecido pelo Governo de Goiás na ocupação do Oeste do Estado, conhecida hoje como Vale do Araguaia.
Corria o ano de 1953 e a Marcha para o Oeste incentivava a ocupação dessa região de Goiás.
A família de 14 filhos e filhas liderada pelo meu avô “Lázaro Crispim” planejava transferir as roças de Uruana no Vale do São Patrício para a região até então conhecida como Barreirinho, no Vale do Araguaia.
A promessa era receber gratuitamente uma área rica em matas, com terras férteis que pudessem abrigar toda família. Um local para botar “roça de toco” e fazer fartura, como se diz no linguajar camponês.
Naquele setembro de 1953, meu avô encontrava-se preocupado, pois já estava na região com os filhos para brocar a roça, e ainda não havia recebido a terra prometida.
O responsável pela demarcação e distribuição das áreas o agrimensor Mozar de Andrade Mota encontrava-se em Goiânia, sem data certa para retornar à região.
Mesmo assim a família não desanimou, pois acreditava na oportunidade de ser proprietária de terras naquela imensidão verde do Araguaia. Até o início da década de 1950, todos trabalhavam de agregados em fazendas no município de Uruana
Dias depois, já na segunda metade de setembro o agrimensor Mozar de Andrade retornou à região, e retomou a demarcação dos lotes para os camponeses que ali estavam.
Meu avô mesmo grato com a área que lhe foi destinada sentiu a necessidade de possear de uma gleba melhor, pois a família era grande e as áreas aptas às roças no lote não eram suficientes.
A posse na cabeceira do córrego Ferrugem ocupada no ano anterior por um camponês de Rubiataba estava a venda, cabendo ao agrimensor Mozar de Andrade realizar a transação.
Meu avô interessou-se pela área e fez uma oferta ao agrimensor: “lhe dou 12.000 cruzeiros agora e mil na colheita”. Mozar de Andrade mesmo sem conhecer meu avô fechou o negócio, pois enxergava naquele camponês alguém de responsabilidade, capaz de fazer prosperar a região.
O trato era que se a compra da terra desse certo meu avô avisaria aos filhos que estavam no acampamento às margens do córrego Barreirinho com um disparo da espingarda que o acompanhava pelas matas virgens do Araguaia.
Ao apertar a mão do agrimensor Mozar de Andrade a espingarda CBC calibre 28 fez tremer as goiaviras existentes em grande quantidade naquela imensidão verde.
Mais uma família camponesa fincava residência na região hoje conhecida como Mozarlândia, nome dado em homenagem ao agrimensor Mozar de Andrade.
Mozar e meu avô Lázaro Crispim são considerados os fundadores da cidade na década de 1950.
Valmir Crispim Santos
Geógrafo e Agente de Defesa Agropecuária
Campos Belos – GO.
Com a colaboração de meu pai Sr. Pedro Crispim Santos aos 85 anos de idade.