Paralisia infantil nunca mais: retroceder não é o caminho

Por Francisco Torcate,


No dia 24 de outubro é comemorado o Dia Mundial de Combate à Poliomelite (Paralisia Infantil). 


Neste mesmo mês teremos também a Campanha Nacional de Multivacinação e Poliomelite. Em 2020, a campanha acontecerá de 05 a 30 de outubro, tendo no dia 17 do Dia D. 

Para a Poliomelite, devem ser imunizadas crianças com mais de 12 meses e menores que 5 anos de idade. Para as demais vacinas, as idades variam conforme as pendências nas carteiras de vacinação.

Diante de todos os avanços tecnológicos alcançados pela humanidade, uma única doença foi erradicada até hoje: a varíola, ainda na década de 1970. 


Mas estamos no caminho de erradicarmos uma segunda doença: a poliomielite. 

Por meio do programa End Polio Now, encabeçado pelo Rotary Internacional e com a parceria da Organização Mundial de Saúde (OMS), do UNICEF, do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), da Fundação Bill e Melinda Gates, da GAVI (Aliança Global para Vacinas e Imunização e de inúmeros governos. 

Desde 1985, esta grande mobilização conseguiu reduzir o número de casos de poliomielite em 99,9% no mundo.

No último dia 25 de agosto, a Nigéria foi certificada como livre da poliomielite, livrando, assim, todo o continente africano dessa doença. Tal certificação é concedida pela OMS quando nenhum caso é registrado nos últimos quatro anos. 


Os últimos casos registrados na Nigéria ocorreram no estado de Borno, em agosto de 2016, uma região dominada pelo grupo extremista Boko Haram. 

Ainda permanecem na indesejada lista de países endêmicos no mundo o Afeganistão e o Paquistão. Por lá, os desafios envolvem até a religião.

Livrar o continente africano da poliomielite pode ser considerado um passo gigantesco rumo à erradicação mundial, visto que por conta dos inúmeros desafios superados por lá, os esforços irão se concentrar em uma área geográfica bem menor a partir de agora. 


Tal feito fez com que a Revista Time listasse entre as 100 personalidades mais influentes do mundo em 2020, o Dr. Tunji Funsho, presidente da Comissão Pólio Plus do Rotary na Nigéria.

Enquanto isso no Brasil, que registrou seu último caso de poliomielite em 1989 e se viu livre da doença em 1994, após estabilizada a circulação do vírus, voltamos a conviver com o medo do retorno dessa doença e de muitas outras já controladas previamente, como o sarampo. 


A cada ano os índices de imunização vêm caindo de forma assustadora.

Até alguns anos atrás o Brasil era referência no mundo na imunização de nossas crianças. Se em 2014 tínhamos uma taxa de vacinação próxima de 100% contra a tríplice viral, em 2017 chegamos a 85% apenas. 


Já contra a poliomelite, houve uma queda significativa de 94,5%, em 2015, para 78,5% em 2017. Embora o PNI (Programa Nacional de Imunização) brasileiro ainda seja um dos mais altos do mundo, saímos de 77,13% em 2018 para 71,49% em 2019.

Muitos são os fatores que podem estar causando esta diminuição, mas a desinformação é o principal deles. Além de movimentos antivacinas espalhados em todo o mundo, que usam notícias falsas para gerar dúvidas e medo na população sobre a eficácia das vacinas, existe uma falsa sensação de que o vírus não existe mais. 


Como as famílias brasileiras não convivem com casos de paralisia infantil há 31 anos, a importância da imunização fica em segundo plano na escala de prioridades. 

É preciso entender que erradicar a doença não significa eliminar o vírus. Ele continua circulando por todo o mundo e por isso a imunização de nossas crianças é a única certeza de que não voltaremos a conviver com esta doença novamente. Se imunizarmos menos crianças, maiores são as chances de termos novos casos.

O momento não é promissor. Estamos no meio de uma pandemia de Covid-19 e existe a possibilidade de uma adesão menor à campanha de vacinação pelo receio dos pais de levarem seus filhos até as unidades de saúde.

Não podemos permitir tal retrocesso. Para isso, precisamos enquanto governos e organizações ampliarmos nossas frentes de conscientização para a importância da imunização. Enquanto cidadãos, temos o dever de olhar para nossas crianças e não privá-las desse direito previsto em lei. 


O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/1990, garante a vacinação das crianças e adolescentes como um direito a ser cumprido. 

Cabe aos responsáveis proteger a saúde desse público, uma vez que a vacinação é uma intervenção de saúde pública fundamental para evitar que elas sejam acometidas por doenças imunopreveníveis e para que não sejam disseminadores dessas doenças.

Francisco Torcate é Presidente (2020/2021) do Rotary Club de Campos Belos – Nova Geração

Distrito 4530 do Rotary Internacional.

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