Uma resposta à nossa leitora: banho de realidade fez bem a qualquer um

Resposta ao post PEC 241: “Estou perplexa com esse seu comentário”
feito na matéria Crônica: a PEC 241 e o seu orçamento. Um pensar fora da caixa (ideológica)
Prezada Leiliane de Moura,
Muito obrigado pelo seu comentário, que já foi devidamente publicado e colocado em evidência.
É importante esclarecer a você que antes de estar “engravatado por detrás de uma mesa e ar condicionado”, que antes de assumir um cargo relevante na administração pública federal, passei por um longo caminho:
Engraxate, vendedor de picolés, de queijos e de hortaliças na minha linda Campos Belos (GO), locutor de rádios piratas, auxiliar de funerária e, por fim, para conseguir fugir do círculo vicioso e danoso, que destrói gerações e gerações – a falta de uma educação digna – fui obrigado a emigrar da nossa cidade e alistar-me nas Forças Armadas (como soldado e suas vicissitudes).
Desde cedo o trabalho dignifica o homem, né verdade?
Para poder continuar o sonho de pagar uma universidade – a minha vida foi na escola pública, que, reconheço, não foi muita efetiva para a disputa de mercados. Não por culpa dos nossos queridos professores, mas da realidade que você tanto conhece (o sistema).
Pobre estuda em universidades particulares, enquanto os endinheirados, nas públicas. Você conhece essa história, né?
Por cerca de 15 anos trabalhei para custear os meus estudos e conheço muito bem o gosto amargo dos baixos salários.
Fiz o curso de história, jornalismo e entrei para o mundo da ciência política (Unb). Bebi da mesma fonte ideológica que você tem bebido, mas soube muito bem ultrapassar as barreiras das crises ideológicas, muito ativas nos nossos 20 anos.
Mas também tive a oportunidade de beber da realidade. Principalmente a realidade crua do Haiti.
Enquanto muitos brasileiros, estavam aqui no país, em suas “caminhas”, muitos outros estavam do outro lado do mundo tentando, por meses a fio, ao menos, levar esperança para um povo demasiadamente sofrido e esculachado.
Travei contato com os lindos discursos humanistas dos estadistas da ONU, no entanto, surpreendentemente, muito diferentes das práticas adotadas por eles próprios no contexto da desgraça humana.
Fico triste em ouvir você dizendo que não olho para as pessoas mais necessitadas.
Há dez anos editamos este Blog, que, modestamente, tem mudado muito o como as pessoas da minha região têm enfrentado seus problemas sociais, políticos, econômicos e conhecendo mais de si mesmas.
Este próprio espaço de cidadania que você desfruta agora é reflexo disso. Tente mandar seu texto para o UOL, G1 ou para os portais de partidos políticos.
Isso me deixa triste, mas não vai me tirar do foco e daquilo que apadrinhei, de coração, que é o certo a fazer.
Deixo só mais um recadinho. A maturidade humana aparece com o tempo, mas ela também pode ser muito bem lapidada com os enfrentamentos da realidade e com a tal da resiliência, que nada mais é do que você crescer nas durezas das dificuldades.
E quando falo “pensar fora caixa”, digo se despir de todas as nossas subjetividades ideológicas e ver o mundo como ele de fato é.
Abaixo, seguem algumas fotos, feito por este “engravatado blogueiro”, durante uma jornada de 10 meses ininterruptos no país mais pobres das Américas.
(Nota: possivelmente a maioria dessas crianças estão mortas devido ao grande terremoto que matou quase 400 mil pessoas no Haiti em 2010 – as fotos são de 2006)




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