Verona e Juventude voltam a fazer uma partida histórica

Este sábado (15) foi histórico no velho estádio Xeco, em Campos Belos, que parou e reuniu milhares de saudosos torcedores para a assistir a uma partida entre o extinto Clube Atlético Verona contra o velho e eterno rival Juventude Esporte Clube. 

Após mais de 25 anos, a cidade voltou a abrir os braços para receber vários de seus filhos, de adoção ou de nascimento, muitos deles há quase três décadas sem visitá-la ou pisar no seu solo sagrado. 

No final dos anos 80 e início dos 90, diversas crianças e adolescentes, apaixonados por futebol, foram arregimentados por um gaúcho sonhador. 

Esse mesmo sonhador também teve o seu sonho de jogar no eterno Grêmio de Futebol Portalegrense, interrompido por causa de uma lesão no joelho. 

Ao deixar os pampas do sul do país para se dedicar ao crescimento da agricultura no longínquo Goiás, viu no futebol a oportunidade de compartilhar sua sabedoria desportiva e de vida com dezenas de vidas que se desabrochavam nos empoeirados campos de terra. 

E como ensinou a garotada! 

Até o jeito de bater na bola, o domínio, as trocas de passes. 

A esse blogueiro, ainda nos seus 14 anos e nos autos de 1,60m, dizia “você não tem altura, então volte para as barras, tenha noção das traves e sua agilidade em sair do gol será o seu trunfo”. 

E o impossível passou a se tornar uma realidade. O garoto era um “goleiro”. 

Pode parecer pouco, mas aquilo representava muito para aquele adolescente, que há pouco tempo tinha perdido o pai para o mal de chagas e não ia bem na antiga sétima série.  

A chance de integrar uma “equipe de futebol” foi a chave para valores intangíveis que mais tarde se tornariam imprescindíveis, como a dedicação, a vontade de vencer, a disciplina, espírito de equipe, autoconfiança, estratégia, independência, respeito, o saber vencer e perder.

Essa onda mágica, que só o futebol permite, se espalhou e conquistou dezenas e dezenas de jovens, de classes sociais e níveis econômicos diferentes. Isso não importava ao velho Gaúcho.  

Outros homens de bem, entendendo o real propósito daquela empreitada social e desportiva, compraram a ideia mágica e mesmo após a viagem sem retorno do patriarca, em 1990, levaram o sonho à diante. 

Queriam que Campos Belos tivesse um time profissional, inclusive com sede própria, e aqueles garotos eram o passaporte. 

O sonho ficou pelo caminho, não antes sem ganhar campeonatos amadores importantes e bater, numa grande final regional, o tradicionalíssimo Juventude Esporte Clube, numa partida histórica, vencida pelo Verona, por 1 x 0, em 1991. 

O time se extinguiu, mas os meninos cresceram, se tornaram profissionais, pais de famílias, empresários, militares, parlamentares, jornalistas, professores, servidores públicos. 

Nenhum se tornou jogador profissional, mas todos homens de bem, sem exceção. 

E este sábado foi de reencontro, de agradecimento, de retorno às origens. 

Estavam lá o velho Augusto Gaúcho, com quase 80 anos; os irmãos mendes, o técnico Luso, Zé das Armas, Belão, o massagista Tonho Sassá, Durval dos Correios. 

Do outro lado, os eternos cartolas do Juventude: Doutor Falcão, Charles, João da Tenda, Seu Olívio, Didi da Dê Presentes.  Faltaram o prefeito e outras personalidades atuais da comunidade, assim como a marcação do campo. 

Talvez não tenham entendido o espírito e a representatividade do evento. 

O estádio estava cheio – de amigos, de torcedores saudosos, de familiares. 

O adversário, o mesmo juventude, venceu por 1 x 0.   

O placar pouco importou. O velho gaúcho, agora quase octagenário, foi às lágrimas por diversas vezes. 

Valeu a emoção de pisar no gramado maltratado do velho Xeco, rever e abraçar os velhos amigos, mais que isso, agradecer. 

Agradecer a oportunidade de vida; agradecer a oportunidade de sucesso.  

Não é oportuno citar nomes pelo simples fato de se cometer a tremenda injustiça do esquecimento momentâneo.

Mas todos tomem essas palavras como únicas, de agradecimento.


As fotografias são de Clésia Mattos

 

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