Namorado de jovem que transmitiu suicídio tenta se matar



Mais uma triste notícia envolvendo o suicídio da estudante Bruna Borges, de 19 anos, em Rio Branco (AC).


Ela transmitiu a própria morte através de um vídeo ao vivo no Instagram.


O episódio, extremamente lamentável, consternou o país.


A tragédia não parou por aí. 


Um dia após a morte da menina, os pais da estudante também foram encontrados mortos dentro de casa. 


De acordo com a Polícia Civil do Acre, tudo indica que os pais também teriam se matado, deixando, inclusive, vários bilhetes de despedida para outros familiares.


Agora, o ex-namorado de Bruna, também um estudante da Universidade do Acre, foi encontrado desacordado, neste domingo (30), por seus pais, em sua residência, e levado ao Pronto Socorro de Rio Branco.


O rapaz teria também tentado tirar a própria vida, utilizando vários medicamentos de uso controlado.


Após o socorro, ele se encontra bem e sob cuidados médicos.


Segundo fontes ligadas à família, desde a morte de Bruna, o namorado teria entrado em um quadro de depressão, sentindo-se culpado pelo episódios.


Antes de atentar contra a própria vida, ele teria excluído todas suas contas nas redes sociais.


Números de suicídios assustam

Os números obtidos com exclusividade pela BBC Brasil são do Mapa da Violência 2017, estudo publicado anualmente a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.


Um olhar atento diante de uma série histórica mais longa de dados permite ver que o fenômeno não é recente nem isolado em relação ao que acontece com a população brasileira. 


Em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária de 15 a 29 anos era de 4,4 por 100 mil habitantes; chegou a 4,1 em 1990 e a 4,5 em 2000. 


Assim, entre 1980 a 2014, houve um crescimento de 27,2%.


Criador do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz destaca que o suicídio também cresce no conjunto da população brasileira. 


A taxa aumentou 60% desde 1980.


Em números absolutos, foram 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos em 2014, um dado que costuma desaparecer diante da estatística dos homicídios na mesma faixa etária, cerca de 30 mil.


“É como se os suicídios se tornassem invisíveis, por serem um tabu sobre o qual mantemos silêncio. 


Os homicídios são uma epidemia. Mas os suicídios também merecem atenção porque alertam para um sofrimento imenso, que faz o jovem tirar a própria vida”, alerta Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).


O sociólogo aponta Estados do Centro-Oeste e Norte em que a taxa de suicídio de jovens é maior, num fenômeno que os especialistas costumam associar aos suicídios entre indígenas: Mato Grosso do Sul (13,6) e Amazonas (11,9).


Na faixa etária de 15 a 29 anos, a taxa de suicídio tem se mantido sempre um pouco acima da verificada na população brasileira como um todo, segundo a publicação “Os Jovens do Brasil”, lançada por Waiselfisz em 2014, com um capítulo sobre o tema.


Segundo a publicação, o Brasil ainda apresenta taxas de suicídio relativamente baixas na comparação internacional feita com base em dados compilados pela ONU.


Em países como Coreia do Sul e Lituânia, a taxa no conjunto da população supera 30 por 100 mil habitantes; entre jovens, supera 25 por 100 mil habitantes na Rússia, na Bielorússia e no Cazaquistão.


Em números absolutos, porém, o Brasil de dimensões continentais ganha visibilidade nos relatórios: é o oitavo país com maior número de suicídios no mundo, segundo ranking divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2014.


Depressão, drogas, abusos e bullying


O suicídio na juventude intriga médicos, pais e professores também pelo paradoxo que representa: o sofrimento num período da vida associado a descobertas, alegrias e amizades, não a tristezas e morte.


O tema foi debatido na quinta-feira numa roda de conversa organizada pelo Centro Acadêmico Sir Alexander Fleming (Casaf), do curso de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com a presença de estudantes e professores.


Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o problema é normalmente associado a fatores como depressão, abuso de drogas e álcool, além das chamadas questões interpessoais – violência sexual, abusos, violência doméstica e bullying.


A cientista política Dayse Miranda, coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção da UERJ, participou do debate e destacou os relatos dos estudantes.


“Fiquei impressionada como os alunos falaram de sofrimento, seja deles, seja a dificuldade para lidar com o sofrimento de outros jovens, além do uso excessivo de medicamentos, que eles naturalizam”, afirma.


“Um deles disse considerar impossível um aluno passar pelo terceiro ano de Medicina sem usar remédios para ansiedade e depressão.”


Com informações do Acre24h e da BBC Brasil 

Deixe um comentário