Incêndio na Chapada foi provocado, afirmam representantes do ICMBio


Por Renato Alves,
Fora de controle, o incêndio iniciado há uma semana queimou, até a noite de ontem, 35 mil dos 240 mil hectares do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o equivalente a 15% da unidade de conservação.
Os prejuízos são enormes para a flora, a fauna, a vida humana, a agricultura e o turismo na região. Além do cerrado nativo, o fogo matou animais selvagens, destruiu áreas de pastagem e levou muita gente a ser internada por conta da inalação de fumaça.
Principal atração natural de Goiás e um dos mais concorridos destinos dos brasilienses nos fins de semana e feriados, a reserva está fechada a visitação há cinco dias, sem previsão de reabertura.
Autoridades e ambientalistas suspeitam de ação criminosa por parte de fazendeiros insatisfeitos com a recente ampliação da área de proteção da Chapada, considerada Patrimônio Natural da Humanidade. Representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) — responsável pela administração do parque — afirmaram ter certeza de que o fogo foi provocado.
Eles ponderaram que chamas avançaram para áreas localizadas depois dos aceiros, faixas de terras capinada para conter o fogo. Segundo o ICMBio, não há possibilidade de o fogo avançar um aceiro. Para que isso aconteça, só se provocado intencionalmente.
Diretor do parque e também servidor do ICMBio, Fernando Tatagiba reforça a suspeita. “Alguém colocou fogo na vegetação dos dois lados da rodovia GO-118 e no interior de um aceiro. Certamente se trata de uma pessoa que conhece a região e a nossa dinâmica de combate às chamas”, comentou ele.
Tatagiba disse ainda que esse incêndio “faz parte de uma série de ataques que teve início no dia 10 deste mês e acabou fugindo do controle”.
A prefeitura de Alto Paraíso de Goiás, principal cidade da região, informou que a Polícia Civil investiga a causa do incêndio. Ela também será apurada pelo Corpo de Bombeiros, sem prazo para conclusão. Ainda não houve perícia, pois a prioridade é conter o fogo.
Seca e vento
Cerca de 200 pessoas integram a força-tarefa organizada para combater o incêndio. Entre elas, voluntários e integrantes do ICMbio, Grupo Ambientalista do Torto (GAT), Corpo de Bombeiros de Goiás e do Distrito Federal, Polícia Rodoviária Federal e da Prefeitura de Alto Paraíso.
Elas têm o apoio de quatro aviões-tanque e três helicópteros, além de caminhões de água e veículos off-road.
O Jardim Zoológico de Brasília enviou, ontem, quatro funcionários para atender animais atingidos pelo fogo. “Prestaremos todo o suporte necessário no atendimento dos animais atingidos de alguma forma pelo incêndio até que a situação esteja controlada”, garantiu Gerson Norberto, diretor-presidente da instituição.
O clima na região, porém, dificulta o trabalho. Além da pouca quantidade de chuva — o que deixa o ecossistema naturalmente mais seco e favorável a queimadas — outros fatores contribuem para a disseminação das chamas, segundo Fernando Tatagiba. “O vento sopra no sentido leste-oeste e joga o fogo na direção do parque.
O período de seca e o acúmulo de combustível na vegetação também não ajudam”, observou o diretor da unidade. Ontem, os principais focos de incêndio estavam no Morro da Baleia, no Vale de São Miguel, na Serra da Boa Vista, entre outros pontos. A Coordenação de Combate e Prevenção de Incêndios do ICMBio mantinha equipe perto do Córrego dos Ingleses e no Jardim Maytreia.
Internações
Centenas de voluntários contribuem com ações pontuais, como apoio psicológico e fornecimento de alimentos aos brigadistas. Uma delas é Ana Luisa Calil Perrone, moradora há 12 anos da Vila de São Jorge, pertencente a Alto Paraíso e também afetado pela chamas.
Ela arrecada e leva lanches aos demais voluntários. Ana conta que foi obrigada a sair de casa por causa do cheiro forte da fumaça. “Em todo esse tempo em que moro aqui, nunca aconteceu nada igual. Meu filho chegou a passar mal e tivemos que nos deslocar. O resultado é esse: crianças doentes, comércio afetado, propriedades destruídas”, lamentou.
A Defesa Civil de Goiás informou que não houve pessoas feridas nem houve casa atingida, mas não descarta a possibilidade de interdição de edificações rurais e urbanas. Muita gente procurou postos de saúde em busca de ajuda após inalar a fumaça do incêndio.
“Houve aumento de cerca de 20% a 30% nos atendimentos. A maioria, pessoas com problemas respiratórios causados pela fumaça. Algumas precisaram ser internadas e outras foram medicadas e liberadas”, contou Clindivaldo Gonçalves Gomes, diretor do hospital municipal de Cavalcante (GO). Distante 310km de Brasília, o município era um dos mais afetados pelo fogo ontem.
Emergência
A prefeitura de Alto Paraíso de Goiás decretou estado de emergência ontem. No entanto, não tinha um plano para aumentar o combate ao incêndio e ajudar a população a se prevenir ou recuperar perdas. “Pretendemos, o mais rápido possível, nos reunir com os órgãos que estão nas frentes de combate para traçarmos os próximos passos.
As ações devem ser muito bem estudadas para chegarmos a uma conclusão sobre a melhor forma de combate”, comentou o secretário interino de Meio Ambiente, Marlon Rogério Bandeira, após reunião com o prefeito Martinho Mendes da Silva (PR).
Bandeira confirmou que propriedades rurais foram queimadas, mas não soube precisar quantas nem o tamanho do estrago. Ele destacou que, até a noite, o fogo não havia atingido o perímetro urbano e nenhum morador precisou ser retirado de casa.
Alertou para que os voluntários não tentem apagar o fogo por conta própria. “Pedimos a todos que deixem essa tarefa para as equipes especializadas, para que novas tragédias sejam evitadas. Os voluntários podem contribuir com ações pontuais, na cidade”, afirmou, sem exemplificar essas ações.Decreto
Neste ano, o presidente Michel Temer (PMDB) assinou um decreto que ampliou a área do parque. Com isso, a extensão da unidade passou de 65 mil para 240 mil hectares.
Anteriormente, o parque abrangia Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante e Colinas do Sul. Com a mudança, outros três municípios foram incluídos: Teresina de Goiás, Nova Roma e São João D’Aliança.
Fonte e texto: CorreioWeb