Sociedade da informação: não faz mais sentido comentários anônimos

Há dez anos, quando tivemos a ideia de criar este blog, voltado para as comunidades da minha região natal, nordeste de Goiás, sudeste de Tocantins e oeste da Bahia, a intenção era trazer à tona os problemas sociais, econômicos, políticos, ambientais de todas as matizes.
Na realidade, as pessoas da nossa comunidade mais sabiam notícias de São Paulo, do “Datena”, de Brasília, do mundo, e pouco ou nada sabiam daquilo que se passava debaixo de seus narizes.
E se uma comunidade, uma pessoa não conhece o seu presente, como irá planejar o seu futuro? como irá tomar ações de mudança?
Foi com esse intuito que nasceu este blog.
Mas na época, deparei-me com vários e enormes desafios. Um deles seria a perseguição política, que poderia impactar, inclusive, e diretamente nas pessoas que ousassem comentar qualquer coisa.
Seriam perseguidas até a última geração, como era costume na região.
Por isso, decidi tomar uma decisão arriscada: tutelar os comentários anônimos.
O que é isso?
Trazer a responsabilidade dos comentários anônimos para a minha guarda. A Constituição Federal protege ao jornalista resguardar o direito da fonte, mas ele assume a responsabilidade pela informação.
Por isso, tomei os comentários anônimos como se fontes fossem.
O cuidado que sempre tive foi ler com atenção todos eles e não deixar passar aqueles que fosse crime (injúria, calúnia e difamação) ou que denegrisse uma pessoa gratuitamente.
E assim foi feito, com altos e baixo, ao longo desses vários anos.
Dez anos e 400 mil acessos por mês depois, a realidade é outra. As redes sociais, que naquela época ainda se engatinhavam, hoje são uma realidade na vida de milhões de pessoas.
Os cidadãos agora têm voz e podem até produzir matérias. Estamos na era da sociedade da informação.
Por isso, pergunto: faz algum sentindo os comentários anônimos? Não está na hora de as pessoas saírem do anonimato e se tornarem cidadãos de verdade?
O que preciso mais dizer que vocês são cidadãos e podem assumir posições, dizerem e perguntarem o que quiserem?
A decisão de ontem (4) da ministra do STF Carmém Lúcia, que barrou a estapafúrdia ordem do ENEM em não se produzir redações contrárias aos direitos humanos vai nesse sentido: o direito constitucional da livre expressão e manifestação do pensamento .
Você pode falar o quiser, desde que não seja crime.
Veja o perigo: se hoje se proíbe se falar contra os direitos humanos; amanhã contra um partido; depois de amanhã contra uma religião…
Daqui a pouco estamos no mundo desenhado pelo livro o “Grande Irmão”, tradução literal de “Big Brother” no original, que na verdade significa “Irmão Mais Velho”, em linguagem coloquial inglesa, romance 1984, de George Orwell.
Já leram? excelente leitura para abrir mentes. Inclusive para os doentes ideológicos de esquerda ou de direita.
Na sociedade descrita por Orwell, todas as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por teletelas (telescreen), sendo constantemente lembrados pela frase propaganda do Estado: “o Grande Irmão zela por ti” ou “o Grande Irmão está te observando” (do original “Big Brother is watching you”).
Assim, meu povo, é hora de os anônimos saírem da nossa tutela.
Os senhores têm voz e direitos próprios. Lutem por eles. É preciso ter coragem. Não há mal nenhum em fazer isso. É apenas cidadania.