De Campos Belos (GO), Lucas Pires dá voz à juventude negra e periférica em livro sobre racismo


Nascido e criado em Morada Nova, bairro da cidade de Campos Belos, no nordeste goiano, Lucas Pires é mais um jovem negro a lutar e vencer as estatísticas.
Filho de pai mecânico e mãe merendeira, e caçula de sete irmãos, o autor conta em seu texto como conseguiu driblar as dificuldades de uma infância sem privilégios, ingressar no curso de Direito em uma conceituada universidade do Centro-Oeste, o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), até o primeiro emprego no Palácio do Itamaraty.
A obra aborda as injustiças sociais que se impõem a Lucas e seus antepassados no Brasil há mais de 500 anos, como a falta de acesso à educação de qualidade, assistência às minorias e desestrutura familiar.
Os temas podem ser complexos para quem tem tão pouca idade, mas não para quem sente na pele o peso da discriminação e, mesmo assim, venceu um a um cada obstáculo.
De Dona Nelcilia a Fernando Pessoa
Lucas Pires lembra que o gosto pela leitura lhe acompanha desde a infância. Aprendeu a ler com 3 anos e, aos 5, foi o orador da turma do primário. A maior incentivadora foi a avó Dona Nelcilia. Semianalfabeta, todas as tardes, a matriarca pedia ao neto para ler o Jornal dos Vicentinos para ela.
“Era engraçado porque nas duas últimas páginas deste jornal sempre havia uma poesia e uma anedota. Minha avó pedia para eu pular a poesia e ir direto para a anedota, mas meus olhos sempre corriam primeiro pela poesia”, conta.
Quando fez 18 anos, Lucas Pires veio a Brasília, sozinho, pela primeira vez, para prestar vestibular no IDP, e passou. Sem dinheiro para custear os estudos, precisou buscar auxílio no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) e conseguiu. Assim, despediu-se da família e veio ao DF lutar por uma vida melhor.
O escritor ressalta as dores de ser um dos poucos estudantes pretos do curso. “É desconfortável, não me sinto representado. Somos poucos no ambiente acadêmico, mas a maioria entre os bolsistas.
Oportunidade
Escrever o livro, de forma totalmente independente e sem grandes pretensões, fez com que Lucas se surpreendesse com a repercussão. “Não há editora por trás do marketing, da diagramação… eu simplesmente meti a cara, sem entender dos desafios do mercado literário brasileiro”, salienta.
Desde que lançou Metafísica dos Clichês, Lucas Pires já esteve presente em eventos importantes como a Feira do Estudante e o Congresso Nacional da Juventude, ambos em Brasília.
Lucas Pires ensina os jovens do novo milênio que, independente da cor e classe social, é um direito de todos sonhar grande e voar alto:
“A minha meta pessoal é ser eleito pela Forbes um dos jovens que podem mudar o mundo antes dos trinta anos, também quero publicar a versão física do meu livro pela Harper Collins, uma das maiores editoras do mundo com um grande com mais poder de impacto.