Escândalo no nordeste de Goiás: padres eram coagidos a atingir metas financeiras em Formosa


Investigações da Operação Caifás, desencadeada pelo Ministério Público (MP-GO) na manhã desta segunda-feira (19) em Formosa, no Entorno do Distrito Federal, apontam que padres eram intimidados a conseguirem recursos para o esquema envolvendo o bispo da cidade, dom José Ronaldo Ribeiro.
Segundo o promotor de Justiça, Douglas Chegury, alguns padres se negaram a prestar depoimento no MP acompanhados por advogados da Diocese de Formosa alegando que viviam dentro de um sistema de opressão absoluta e de intimidação, sendo obrigados a atingir metas financeiras mensais.
“Isso ficou claro em uma das interceptações telefônicas. Dom José Ronaldo (bispo de Formosa) chegou a dizer que alguns padres não ficariam na Diocese enquanto ele fosse bispo”.
O bispo de Formosa, Dom José Ronaldo Ribeiro, foi preso nesta manhã, assim como outras 12 pessoas entre padres e funcionários da diocese suspeitos de desviar recursos da Igreja Católica.
De acordo com as investigações, os recursos eram provenientes de dízimos, de doações, de taxas como batismo e casamento, e de arrecadações festivas de dinheiro dos fiéis.
Um dos episódios que mais chamou a atenção dos promotores de Justiça à frente da operação foi a venda de uma caminhonete da Cúria em São João da aliança. O pároco local vendeu o veículo e fez recibos falsos.
“A fraude é muito tosca”, afirma Douglas Chegury.
Com o dinheiro arrecadado ele comprou um novo veículo e colocou em seu nome. Entretanto, o padre se envolveu num acidente e avariou a nova caminhonete, recebendo seguro pelos danos. “Os recibos evidenciam a fraude”.
Vigário-geral de Formosa, o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira não soube explicar porque R$ 170 mil em espécie estavam escondidos num fundo falso de seu guarda-roupa.
“Ele disse que era dinheiro da Igreja, mas porque não eram notas pequenas, arrecadadas nas celebrações?
Eram notas de 100 e 50 reais. Por que esse dinheiro não estava em uma agência bancária?”, questiona o promotor de Justiça.
Também foram encontradas na residência do religiosos um grande volume de eletroeletrônicos e uma coleção de relógios caros.
Entre os presos está o padre Tiago Wenceslau, da Diocese de Bauru (SP).
Ele ficou conhecido por pedir ao Vaticano que excomungasse o padre Roberto Francisco Daniel por declarações de apoio aos homossexuais e críticas aos dogmas da igreja.
A excomunhão foi oficializada em 2014. Apontado como juiz instrutor para “matérias reservadas” da Igreja Católica, padre Tiago chegou domingo a Brasília e foi monitorado pelo MP.
De acordo com Douglas Chegury, quando saiu a reportagem do POPULAR, padre Tiago foi convidado pelo bispo de Formosa “para abafar o escândalo e colocar os padres sob sua batuta”.
Em uma reunião, ele chegou a perguntar aos padres da Diocese se eles estavam do lado do bispo ou não.
Crime contra a fé
“Quanto maior era a paróquia, com pessoas de maior poder aquisitivo, maior era a cobiça”, disse Douglas Chegury.
De acordo com ele, somente a Festa do Divino em Posse, no Nordeste Goiano, rende cerca de R$ 500 mil para a Diocese de Formosa.
O padre local, segundo o promotor, deu um desfalque de cerca de R$ 450 mil, desviando o dinheiro para a compra de uma lotérica. “Ele colocou a lotérica em nome de dois laranjas, que também foram presos, e pagou parte em dinheiro e emitiu notas promissórias.
Os boletos da Diocese eram fracionados para serem pagos nesta lotérica, para aumentar a arrecadação do estabelecimento.
Notas promissórias confirma que o sócio oculto era o padre Moacir, para quem era direcionado 55% do lucro da lotérica”, contou o promotor.
Outro padre de Posse, também preso, igualmente desviou dinheiro da Cúria e depositou em sua conta pessoal onde foi localizada a quantia de R$ 400 mil.
“O que mais me deixa desapontado é que o crime que cometeram não tem no Código Penal. Eles atingiram a fé das pessoas. O mais reprovável no comportamento dessas pessoas é a traição à população. A fé das pessoas foi violada”, enfatizou o promotor.
Conforme Douglas Chegury, os investigados serão denunciados por associação criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. “Essas pessoas representam a Igreja Católica, mas a instituição não tem nada a ver com os atos praticados por elas. Vamos tratar a Igreja Católica como vítima”, disse o promotor.
Segundo ele, a investigação vai ter continuidade, mas será agilizada para que a Diocese de Formosa volte à normalidade.
“Alguns leigos nos contaram que houve uma redução de 60% no número fiéis, inconformados com o destino dos recursos arrecadados”.
Fonte: O Popular